Nossa humanidade
está em risco
Milton
Hatoum, no Jornal GGN
Como
se sabe, um obscuro capitão reformado, político vulgar e ineficiente, é
candidato à presidência. Essa figura sinistra tem feito discursos contra as
mulheres. Chegou ao cúmulo de afirmar que deu “uma fraquejada” quando nasceu
sua filha.
O
descalabro não para por aí. Afirmou que as mulheres devem ganhar menos do que
os homens. Esses insultos machistas, a que se somam outros discursos
explicitamente racistas e homofóbicos, são inaceitáveis na boca de qualquer
cidadão.
Na
boca de um candidato à presidência, revela a total degradação moral de um
político perigoso. Se ele for eleito, certamente vai desestabilizar nossa
frágil democracia.
De
um modo geral, as mulheres (mães, tias, avós, irmãs) exercem o papel de
lutadoras: um papel solidário, vital para consolidar a família, a comunidade,
para proteger os seus filhos, os filhos dos amigos e dos vizinhos. Isso
predomina nas famílias pobres das periferias, mas é comum também em inúmeras
famílias de classe média. Em muitos lares sem um pai, são essas mulheres que,
além de trabalhar, cuidam das crianças.
O
general Hamilton Mourão (o vice do capitão), afirmou que famílias sem pai e avô
que moram em áreas carentes “são fábricas de elementos desajustados que tendem
a ingressar em narcoquadrilhas”.
Essa
chapa presidencial reúne o que há de mais desumano, brutalmente desumano na
política brasileira. Nessa dupla não há nada de solidário, compassivo e
respeitoso em relação aos outros: negros, indígenas, mulheres, pobres,
intelectuais, artistas. Ao contrário: as palavras asquerosas dirigidas a todos
eles (principalmente às mulheres, indígenas, negros e homossexuais) são a
expressão mais perfeita e repugnante dos preconceitos de classe social, etnia e
sexo.
Uma
parte da elite econômica (investidores do mercado financeiro e empresários)
apoia a chapa sinistra. No fundo, são oportunistas profissionais: defendem
interesses pessoais e corporativos, e estão se lixando para a ética e para o
povo brasileiro. Aliás, essas pessoas vêm apoiando golpes e baixezas políticas desde
1964.
Mas
há alguns jornalistas que querem convencer a população de que o segundo turno
das eleições será uma competição entre extremistas. Isto é falso e desonesto.
Nos discursos e na carreira política de qualquer outro candidato (com maior ou
menor chance de passar para o segundo turno) não há um único gesto ou palavra
de extremismo.
Só
há uma chapa extremista nessas eleições presidenciais. E ninguém precisa ser de
esquerda para dizer NÃO ao extremismo. Na última eleição presidencial da
França, partidos de direita, de centro-direita, de centro e de esquerda se
uniram para derrotar Marine Le Pen, a candidata antissemita, racista e xenófoba
da extrema-direita.
Não
foi apenas uma ampla união para defender a democracia, mas também um gesto de
adesão aos princípios básicos de liberdade e solidariedade humanas.
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