24 setembro 2018

Degradante


Nossa humanidade está em risco
Milton Hatoum, no Jornal GGN

Como se sabe, um obscuro capitão reformado, político vulgar e ineficiente, é candidato à presidência. Essa figura sinistra tem feito discursos contra as mulheres. Chegou ao cúmulo de afirmar que deu “uma fraquejada” quando nasceu sua filha.
O descalabro não para por aí. Afirmou que as mulheres devem ganhar menos do que os homens. Esses insultos machistas, a que se somam outros discursos explicitamente racistas e homofóbicos, são inaceitáveis na boca de qualquer cidadão.
Na boca de um candidato à presidência, revela a total degradação moral de um político perigoso. Se ele for eleito, certamente vai desestabilizar nossa frágil democracia.
De um modo geral, as mulheres (mães, tias, avós, irmãs) exercem o papel de lutadoras: um papel solidário, vital para consolidar a família, a comunidade, para proteger os seus filhos, os filhos dos amigos e dos vizinhos. Isso predomina nas famílias pobres das periferias, mas é comum também em inúmeras famílias de classe média. Em muitos lares sem um pai, são essas mulheres que, além de trabalhar, cuidam das crianças.
O general Hamilton Mourão (o vice do capitão), afirmou que famílias sem pai e avô que moram em áreas carentes “são fábricas de elementos desajustados que tendem a ingressar em narcoquadrilhas”.
Essa chapa presidencial reúne o que há de mais desumano, brutalmente desumano na política brasileira. Nessa dupla não há nada de solidário, compassivo e respeitoso em relação aos outros: negros, indígenas, mulheres, pobres, intelectuais, artistas. Ao contrário: as palavras asquerosas dirigidas a todos eles (principalmente às mulheres, indígenas, negros e homossexuais) são a expressão mais perfeita e repugnante dos preconceitos de classe social, etnia e sexo.
Uma parte da elite econômica (investidores do mercado financeiro e empresários) apoia a chapa sinistra. No fundo, são oportunistas profissionais: defendem interesses pessoais e corporativos, e estão se lixando para a ética e para o povo brasileiro. Aliás, essas pessoas vêm apoiando golpes e baixezas políticas desde 1964.
Mas há alguns jornalistas que querem convencer a população de que o segundo turno das eleições será uma competição entre extremistas. Isto é falso e desonesto. Nos discursos e na carreira política de qualquer outro candidato (com maior ou menor chance de passar para o segundo turno) não há um único gesto ou palavra de extremismo.
Só há uma chapa extremista nessas eleições presidenciais. E ninguém precisa ser de esquerda para dizer NÃO ao extremismo. Na última eleição presidencial da França, partidos de direita, de centro-direita, de centro e de esquerda se uniram para derrotar Marine Le Pen, a candidata antissemita, racista e xenófoba da extrema-direita.
Não foi apenas uma ampla união para defender a democracia, mas também um gesto de adesão aos princípios básicos de liberdade e solidariedade humanas.
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