Rede de proteção acoberta possíveis mandantes da morte de
Marielle
Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo
Para
autoridades da intervenção na segurança do Rio, máquina política dá guarida a
milícias
Em fevereiro, quando
policiais chegaram aos endereços de 13 integrantes do Escritório do Crime, 8
deles já haviam fugido. A operação Os Intocáveis fora preparada com sigilo, mas
os investigadores perceberam que alguém havia alertado a quadrilha de matadores
de aluguel suspeita de assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes.
A apuração das mortes da vereadora do PSOL e de seu
motorista são uma aula sobre a blindagem que milícias e o crime organizado em
geral recebem da máquina política e institucional do Rio. Por um ano, os
autores do assassinato foram acobertados por uma estrutura que funciona até
hoje dentro do poder público.
Autoridades federais que atuaram na intervenção na
segurança do estado em 2018 encontraram uma rede para proteger milicianos e
contraventores. O complô usava a força política para se perpetuar. Raul
Jungmann, então ministro da Segurança, dizia que o mecanismo transformava o Rio
no “coração das trevas”.
Até a prisão, nesta terça-feira (12), do PM e do ex-PM acusados
diretamente pelas mortes de Marielle e Anderson, a quadrilha de assassinos foi
favorecida por uma trama de depoimentos falsos, vazamentos e atrasos na
apuração. A Polícia Federal precisou entrar no caso para
fazer a “investigação da investigação”.
Um dos integrantes da intervenção diz, em caráter
reservado, que os mandantes do crime não serão encontrados enquanto não houver
mudanças profundas. Segundo ele, a teia de proteção continua estendida.
Nos meses em que esteve à frente da segurança do
Rio, o governo federal não conseguiu desmantelar os esquemas que dão guarida
aos criminosos. As transformações ainda dependerão de vontade política.
Durante a campanha, o governador Wilson Witzel participou do ato em que um candidato
quebrou uma placa com o nome de Marielle, quando milicianos já eram suspeitos
do crime. Por décadas, Jair Bolsonaro enalteceu e homenageou esses bandos. Os
dois precisam se empenhar para redimir os erros do passado.
Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É
mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
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