Uma nova seleção, sem Neymar
Tostão, na Folha de S. Paulo
Os times brasileiros, acostumados durante décadas
com estratégias medíocres e ultrapassadas, começam, aos poucos, a utilizar
novas condutas, que já são rotineiras nas grandes equipes europeias.
Uma delas é marcar por pressão, mais adiantado, e outra é trocar passes desde o goleiro para evitar
os chutões. São posturas de risco, se não forem bem executadas, por causa da
perda da bola perto do gol e por deixar, entre o meio-campo e os zagueiros,
muitos espaços para o contra-ataque, ainda mais que os defensores brasileiros
atuam colados à grande área.
Em vez de desistir de mudar, por causa dos riscos, as equipes
brasileiras precisam aprender a executar bem as novas estratégias. Obviamente,
a qualidade individual é muito importante. São poucos os zagueiros que atuam no
Brasil que têm bom passe. Dedé, se quiser jogar na seleção, precisa corrigir
essa deficiência. Rodrigo Caio, dos zagueiros que atuam no futebol brasileiro,
talvez seja o que melhor passe a bola, pois começou a carreira como volante.
Quando Piazza, na Copa de 1970, jogou na posição de
zagueiro, ele, que já era um bom passador como volante, passou a ter um passe
muito melhor, pois as dificuldades e necessidades são diferentes nas duas
posições.
Alguns times brasileiros, como Fluminense e Santos, usam bem a
troca de passes desde a defesa, além da marcação mais adiantada. Mas isso é
pouco. Há muitos outros detalhes decisivos, como a falta de mais talento da
maioria dos jogadores do Fluminense e uma excessiva agitação de Sampaoli.
O Santos tem muita pressa para fazer o gol, às vezes passa do
ponto. Time apressado é irregular.
A maioria das equipes brasileiras ainda prefere recuar para
contra-atacar. Não se pode confundir contra-ataque com jogar na defesa. Sempre
que um time recupera a bola, mesmo que seja perto da área adversária, ele
inicia o contragolpe. Equipes, como Liverpool, Manchester City e outros, são ofensivas e ótimas no
contra-ataque.
A evolução da seleção contra o Qatar foi a marcação por pressão,
que não deixava o adversário, recuado, iniciar o contra-ataque com troca de
passes.
Os dois laterais brasileiros, Daniel Alves e Filipe Luís, atuaram muito
bem no apoio, facilitados pela marcação errada do Qatar, que jogou com uma
linha de cinco, outra de três no meio-campo e nenhum jogador pelos lados, para
bloquear o avanço dos laterais. Richarlison mostrou, mais uma vez, que é um jogador de poucos e decisivos lances.
Em poucos minutos de jogo, já deu para ver uma mudança tática no
time brasileiro. Quando a equipe perdia a bola e não dava para pressionar,
marcava no meio-campo com uma linha de quatro, em vez de três, formada por
Coutinho pela esquerda, Richarlison pela direita e os volantes Arthur e
Casemiro. Neymar ficava livre, mais pelo meio e mais perto de Gabriel
Jesus. Quando Neymar saiu, Everton foi para a esquerda, e Coutinho passou a
atuar na mesma posição de Neymar.
Neymar está fora da Copa América. Mesmo sem ele, o Brasil
pode ter um time forte, organizado, capaz de ganhar a competição. A questão
principal não é saber o quanto Neymar fará falta. É a impossibilidade de ver o
mais eficiente e excepcional jogador brasileiro em ação.
Como disse o craque Dirceu Lopes, a fama costuma empobrecer o
ser humano. Neymar é mais um.
Vou ver neste domingo (9) a estreia do Brasil contra a Jamaica pelo Mundial feminino.
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