09 junho 2019

Civilização em crise


Brutalidade
Eduardo Bomfim

A ficção é uma narrativa, quando bem elaborada, sublime ou genial, fundamental à civilização humana. Projeta no indivíduo ou coletivo social um quadro do passado, do presente ou até mesmo lança cenários ao futuro, encontra-se presente em todas as formas de arte ou de diversão, entretenimento.

O grande problema é que nos dias atuais a ficção tem servido, como nunca, a um processo crescente de contornar a realidade, de tal forma que é visível a substituição dos fatos objetivos pela ficção, onde a distopia é confundida com a vida e, em muitos casos, tem provocado movimentos de ativistas sociais, em uma espécie de mundo paralelo.

A mais recente estatística publicada pelo IBGE mostra que existem no Brasil 78 milhões de nacionais que vivem sem saneamento básico, o que significa que estão expostos a doenças que a ciência médica possui condições de combater com plena eficácia, desde que exista uma política competente de saúde pública.

Mas indica igualmente que milhões de indivíduos correm o risco de contrair doenças ou morrer por absoluta ausência de mecanismos elementares, como esgotos tratados, algo que já existe desde o final do século XIX, para não falarmos no século XX.

Em decorrência da ausência do tratamento de esgotos para 78 milhões de brasileiros, a poluição torna-se um gravíssimo problema de saúde pública, porque atinge além dos que não possuem saneamento básico, se estende para os demais setores da população.

Por isso, a grande maioria das praias do Brasil não possuem condições de balneabilidade em um bom período do ano, mas, mesmo assim continuam frequentadas pelos banhistas.

Os principais rios e córregos do litoral brasileiro que correm para o oceano estão em condições de extrema imundice, principalmente porque às suas margens cresceram, continuam crescendo, extensas comunidades de pessoas deserdadas de uma vida digna, sem saneamento básico. E dejetos químicos industriais.

Não é sem razão que retornam com força doenças debeladas há décadas e surgem outras cujas raízes vêm da ausência de um mínimo de políticas sanitárias públicas.

Na Europa, uma jovem de 15 anos transformou-se do dia para a noite em uma celebridade profética e apocalíptica, apoiada por uma ONG ambiental. Sua narrativa tem sido o colapso iminente do planeta sob o efeito da emissão de gás carbono.

É um discurso massivo, através da grande mídia hegemônica global, que não só transformou a jovem de 15 anos em uma profetisa do Armagedom, mas fez com que os grupos Verdes aumentassem exponencialmente seus votos no parlamento europeu. Porém, a Europa vive um quadro de perigosa desintegração econômica, social e política.

No velho continente o desemprego é altíssimo, quarenta por cento da força de trabalho jovem está desempregada. No Brasil, entre desempregados e subempregados, são mais de 28 milhões de pessoas, recorde histórico.

Já os índices das Bolsas de Valores indicam que os lucros do Mercado financeiro atingiram níveis estratosféricos no planeta.

Sem causas, líderes, ideias que promovam a solidariedade coletiva em defesa da vida, da esperança em um mundo melhor, tolerante, mais humano, prevalece a desorientação geral. Além de uma histeria ideológica onde reinam as fake news e o discurso falseado da grande mídia global.

Só será possível superar a tragédia civilizacional que vivemos, com a compreensão da realidade, brutalmente imposta às sociedades.

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