13 outubro 2019

Desigualdade de gênero


A dupla jornada da mulher hoje
Luciano Siqueira

Recebo da amiga breve telefonema para elogiar (generosamente) meu último texto na coluna semanal no portal Vermelho:
- Gostei do conteúdo e do estilo. Fácil de compreender.
- Ótimo! Fico feliz que tenha aprovado.
- Leio quando posso. A vida não está simples. Tenho tempo pra nada!
- Nem pra ler um texto tão curto?
- Isso mesmo. Dou aulas a semana toda durante o dia, cuido das coisas de casa à noite e nos fins de semana...
- E o nosso herói (refiro-me ao companheiro dela) não ajuda?
- Ajuda pouco. Muito pouco...
*
Alguma novidade nesse diálogo? Nenhuma. Bem sabemos que a divisão de trabalho no casal, mesmo quando militantes avançados, segue desigual. As raízes do machismo são difíceis de extirpar.
Há uma pesquisa do IBGE – “Outras Formas de Trabalho” – que dá traços de atualidade a esse velho problema.
As mulheres brasileiras desprendem duas vezes mais tempo que os homens em tarefas domésticas e cuidados com outras pessoas da família.
Esse encargos familiares muitas vezes reduzem o tempo da mulher para o trabalho profissional remunerado.
A pesquisa é feita há três anos consecutivos. Sem alteração nos seus resultados. A luta pela igualdade de gênero ainda não chegou em casa.
De toda sorte, os números indicam levíssimo sinal de que algo pode mudar, mesmo lentamente.
Segundo os dados de 2018 há como que uma estagnação: 93% das mulheres entrevistadas disseram ter dedicado algum tempo a afazeres domésticos e a cuidados de pessoas. Entre os homens, foram 80,4%. Um pouco a mais do que os 90,5% e 74,1%, respectivamente, verificados em 2016.
Entretanto, são razoáveis em relação a 2017, quando 92,6% das mulheres e 78,7% dos homens responderam positivamente à pergunta.
O exame detalhado dos dados mostra o tamanho da encrenca.
As mulheres dão um duro muito maior que os homens em seis dos sete grupos de tarefas pesquisados pelo IBGE, diferindo apenas quanto a pequenos reparos ou manutenção de domicílio, automóveis ou eletrodomésticos.
Nos itens cozinhar e lavar roupas, em 2018, 95,5% das mulheres declararam que preparavam refeições e lavavam a louça e 90,9%, que lavavam as roupas. Entre os homens, foram apenas 60,8% e 50,4%, respectivamente.
Os homens fazem, sim, esses sérvios – quando vivem sozinhos: 92,7% afirmam cozinhar e lavar a louça e 88,6%, lavar roupa.
Eis aí um viés da opressão de gênero arraigado como ostra na pedra. Um problema cultural e ideológico que ainda requer muita luta para ser superado.
[Ilustração: Sindmetal]
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