A
dupla jornada da mulher hoje
Luciano Siqueira
Recebo da amiga breve telefonema
para elogiar (generosamente) meu último texto na coluna semanal no portal
Vermelho:
- Gostei do conteúdo e do estilo.
Fácil de compreender.
- Ótimo! Fico feliz que tenha
aprovado.
- Leio quando posso. A vida não
está simples. Tenho tempo pra nada!
- Nem pra ler um texto tão
curto?
- Isso mesmo. Dou aulas a semana
toda durante o dia, cuido das coisas de casa à noite e nos fins de semana...
- E o nosso herói (refiro-me ao
companheiro dela) não ajuda?
- Ajuda pouco. Muito pouco...
*
Alguma novidade nesse diálogo?
Nenhuma. Bem sabemos que a divisão de trabalho no casal, mesmo quando
militantes avançados, segue desigual. As raízes do machismo são difíceis de
extirpar.
Há
uma pesquisa do IBGE – “Outras Formas de Trabalho” – que dá traços de
atualidade a esse velho problema.
As
mulheres brasileiras desprendem duas vezes mais tempo que os homens em tarefas
domésticas e cuidados com outras pessoas da família.
Esse
encargos familiares muitas vezes reduzem o tempo da mulher para o trabalho profissional
remunerado.
A
pesquisa é feita há três anos consecutivos. Sem alteração nos seus resultados. A
luta pela igualdade de gênero ainda não chegou em casa.
De
toda sorte, os números indicam levíssimo sinal de que algo pode mudar, mesmo
lentamente.
Segundo
os dados de 2018 há como que uma estagnação: 93% das mulheres entrevistadas
disseram ter dedicado algum tempo a afazeres domésticos e a cuidados de
pessoas. Entre os homens, foram 80,4%. Um pouco a mais do que os 90,5% e 74,1%,
respectivamente, verificados em 2016.
Entretanto,
são razoáveis em relação a 2017, quando 92,6% das mulheres e 78,7% dos homens
responderam positivamente à pergunta.
O
exame detalhado dos dados mostra o tamanho da encrenca.
As
mulheres dão um duro muito maior que os homens em seis dos sete grupos de
tarefas pesquisados pelo IBGE, diferindo apenas quanto a pequenos reparos ou
manutenção de domicílio, automóveis ou eletrodomésticos.
Nos
itens cozinhar e lavar roupas, em 2018, 95,5% das mulheres declararam que
preparavam refeições e lavavam a louça e 90,9%, que lavavam as roupas. Entre os
homens, foram apenas 60,8% e 50,4%, respectivamente.
Os
homens fazem, sim, esses sérvios – quando vivem sozinhos: 92,7% afirmam
cozinhar e lavar a louça e 88,6%, lavar roupa.
Eis
aí um viés da opressão de gênero arraigado como ostra na pedra. Um problema
cultural e ideológico que ainda requer muita luta para ser superado.
[Ilustração: Sindmetal]
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