Técnicos brasileiros tem
inveja e admiração por Jesus
Tostão, na Folha
de S. Paulo
Jorge Jesus reclamou da "agressividade verbal", expressão
usada por ele, de alguns treinadores brasileiros, sem citar nomes, sobre sua
presença no Brasil. Falou ainda que não veio para ensinar nada a ninguém e
criticou a falta de globalização dos técnicos brasileiros, como se dissesse:
"Acordem, apenas sigo o que acontece no mundo".
Ele lembrou ainda que os treinadores portugueses deram apoio e
aprenderam com Felipão e outros técnicos
brasileiros que trabalharam em Portugal.
Existe, entre os treinadores brasileiros, uma mistura de
admiração pelo trabalho de Jorge Jesus e também de inveja, que, às vezes, beira
a xenofobia.
Os sentimentos humanos são, com frequência, contraditórios.
Inveja, no sentido ruim, de desgosto pelo outro ter o que você não tem.
Há também o medo de que, com o sucesso de Jorge
Jesus e de Sampaoli, surjam mais técnicos estrangeiros para
tirar o lugar dos brasileiros.
Os 7 a 1 foram o gatilho para a insegurança dos técnicos
brasileiros, que passaram a ser muito criticados, o que gerou entre eles um
sentimento hostil em relação aos estrangeiros.
Jorge Jesus e Sampaoli não são excelentes porque são
estrangeiros. Existem técnicos bons e ruins na Europa, na América do Sul e em
todo o mundo.
O trabalho
inovador e eficiente dos dois não significa que todos os
técnicos brasileiros são uma porcaria. Porém, mesmo os que têm ótimo
conhecimento teórico deveriam sair da mesmice, abandonar a preguiça e os vícios
acumulados durante longo tempo e se reinventar.
Além disso, os técnicos são importantes, mas não são os únicos
nem os principais responsáveis pelas derrotas e pelas vitórias. Há uma obsessão
pelo trabalho dos treinadores, como se houvesse um segredo que precisasse ser
desvendado pelos analistas, para compreender o desempenho e os resultados das
partidas.
A estratégia é importante, mas o futebol é muito mais do que
isso. É a associação da técnica, da tática, da ciência, da lógica, do preparo
físico e mental e do imprevisto.
Conhecimento não é apenas informação. Além disso, a compreensão
do jogo vai além da explicação dos detalhes técnicos e táticos.
Há 20 anos, critico os times brasileiros, pelo excesso de
chutões, de faltas e de bolas jogadas na área da intermediária, pelo enorme
espaço entre os setores, por ter os zagueiros colados à grande área, por trocar
poucos passes e por tantos outros detalhes.
O Flamengo, ao jogar com os defensores adiantados, flerta com o
perigo, mas as vantagens de jogar dessa maneira superam os riscos.
A equipe fica mais compacta, troca mais passes, não deixa o
adversário se organizar e recupera a bola mais perto do gol.
Gallardo, técnico do River Plate, sabe de tudo isso, e o time
tem jogadores tão bons quanto os do Flamengo.
Contra o Grêmio, o Flamengo mostrou em momentos do jogo,
especialmente quando ficou com dez jogadores, que, se é necessário, sabe atuar
atrás para contra-atacar.
Torcer pelo Flamengo não é apenas torcer pelo Brasil na
Libertadores. É torcer pela evolução de nosso futebol.
Isso se os técnicos brasileiros tiverem a consciência
profissional de que precisam aprender e evoluir.
Brasil 3 x 0 Coreia do
Sul
Pela vibração de Tite nos três gols do Brasil e pelo entusiasmo
e eloquentes elogios dos narradores e comentaristas, parece até que a seleção
brasileira teve uma grande atuação contra um grande adversário. A vitória
serviu para festejar e para iludir.
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