15 março 2020

Violência no futebol: pra quê?

Pancadaria no Gre-Nal é atestado de falta de civilidade

Para piorar, técnico Renato Gaúcho disse que o Grêmio não é time de freiras

Tostão, Folha de S. Paulo


Futebol é muito bom, mas não é a coisa mais importante do mundo, nem para quem adora, trabalha e/ou se diverte com o esporte. Precisamos seguir as orientações das entidades de saúde, para tentar diminuir a disseminação do coronavírus, sem entrar em pânico.
pancadaria no Gre-Nal, que poderia acontecer em outros clássicos regionais do Brasil, é um atestado de instabilidade emocional e de falta de civilidade. É um machismo dos jogadores, para mostrar que são raçudos. Para piorar, Renato Gaúcho disse, após a partida, que o Grêmio não é time de freiras. Deve ter recebido aplausos.
Jorge Sampaoli, novo técnico do Atlético, incendiou a torcida atleticana ao dizer que a estratégia da equipe é atacar, seja onde for e contra qualquer adversário. Será a versão moderna e científica do Galo Doido?
Times, torcedores, treinadores e imprensa, influenciados pelo Flamengo de Jorge Jesus, vivem as delícias da ofensividade. Descobriram o óbvio, que uma equipe pode ser ofensiva, sem fragilizar a defesa, e que não se avalia a estratégia de uma equipe pela prancheta, pelo desenho tático.
Independentemente do desenho tático, as equipes mais ofensivas são as que pressionam quem está com a bola, em todo o campo, que tentam recuperá-la mais perto do outro gol, que possuem vários jogadores que defendem, atacam e executam mais de uma função, que são compactas e vários outros detalhes.
Os times brasileiros estão mais ofensivos, mas ainda cometem muitos erros táticos e deixam muitos espaços entre os setores. Os zagueiros jogam colados à grande área.
O Palmeiras tem atuado com quatro atacantes, dois no meio e, quando perde a bola, deixa um buraco no meio-campo. Contra adversários mais fortes, isso poderá ser decisivo. A equipe abusa também das bolas longas da defesa para o ataque, para aproveitar a velocidade de seus quatro ótimos atacantes.
Dudu é um atacante, seja pelo centro ou pelos lados. Não é um meia de ligação. Nunca foi. Durante o jogo, atua em todos os setores do ataque. Dá bons passes para gol, seja quando está centralizado ou pela ponta.
Vanderlei Luxemburgo e outros técnicos brasileiros precisam aprender com Jorge Jesus a organizar um time agressivo, que ataca com muitos jogadores, que recupera rapidamente a bola, compacto e que dá pouca chance ao adversário. Sampaoli e Coudet têm perfis parecidos ao do técnico do Flamengo.
O jovem volante Patrick deveria ser titular desde a estreia. Ele se posiciona bem, desarma muito e tem um passe rápido e preciso. Ramires, que tem jogado, sempre se destacou pela chegada rápida ao ataque. Nunca foi um grande organizador. No time atual do Palmeiras, com quatro na frente e somente dois no meio-campo, não dá para ele avançar. Além disso, não tem a mesma condição física de tempos atrás.
O São Paulo tem um jogo coletivo mais organizado que o do Palmeiras, mas não tem tantos ótimos jogadores no ataque. Por outro lado, possui o melhor jogador de meio-campo do Brasil, Daniel Alves, pelo talento individual e coletivo e pela lucidez nas decisões.
No futebol, se ganha e se perde de várias maneiras. O Liverpool, pela Liga dos Campeões, massacrou o Atlético de Madrid, do início ao fim, criou inúmeras ótimas chances de gol, mas perdeu e foi eliminado.
Depois da partida, Klopp estava decepcionado e revoltado com a postura defensiva do adversário. Ele foi um mau perdedor ou foi um desabafo romântico de alguém que só aceita vencer com um belo e eficiente futebol?

[Ilustração: Foto de Diego Varas/Folha de S. Paulo]
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