Após
denúncias de Moro, apoio a impeachment de Bolsonaro sobe para 54%
Aprovação ao governo já vinha caindo desde fevereiro, em função da crise
econômica e do comportamento criminoso de Bolsonaro durante a crise do
coronavírus
Portal Vermelho
A rejeição a Jair Bolsonaro cresceu ainda mais diante da
tumultuada saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança
Pública. Conforme pesquisa da consultoria Atlas Político, o presidente perdeu
apoio após ser acusado pelo agora ex-ministro de interferir à margem da lei na
Polícia Federal. Pela primeira vez, a maioria dos brasileiros (54%) é favorável
a um processo de impeachment contra Bolsonaro.
A aprovação ao governo já vinha caindo desde fevereiro, em
função da crise econômica e do comportamento criminoso de Bolsonaro durante a
crise do coronavírus. Mas os reflexos da demissão de seu ministro mais popular
afetaram diretamente seu capital político. Agora, 64,4% respondem que
desaprovam seu desempenho e apenas 30% aprovam.
Já Moro vê sua aprovação chegar
a 57% – seu melhor índice desde que o site The
Intercept Brasil revelou as ilegalidades cometidas pelo
ex-juiz na Lava Jato. Entre dez líderes políticos incluídos na pesquisa, Moro
tem aprovação menor apenas que a de Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde que
foi demitido por Bolsonaro por divergências na condução da crise do
coronavírus.
Na última sexta-feira, Moro deixou o cargo de superministro da
Justiça e da Segurança Pública. Na ocasião, fez graves acusações contra o
presidente Bolsonaro por querer interferir nas investigações da Polícia Federal
– provável causa da exoneração do diretor geral da corporação, Maurício
Valeixo, à revelia de Moro. Bolsonaro rebateu num atabalhoado pronunciamento
feito no mesmo dia, no qual acusava Moro de mentir e negava intenção de
interferir na PF. Ambos protagonizaram uma guerra política em meio à crise
sanitária mais grave do século que atingiu suas imagens públicas.
Segundo a pesquisa do Atlas
Político, feita com 2 mil pessoas entre os dias 24 e 26 de abril, foi a imagem
do presidente que saiu ferida. O levantamento, com margem de erro de dois
pontos percentuais, mostra que 68% discordam da demissão de Valeixo por Bolsonaro,
ao passo que 72% concordam com as críticas feitas por Moro ao presidente, como
a alegação de tentativa de interferir politicamente em investigações da PF.
“Há uma queda sem precedentes
da imagem positiva que o presidente tinha na nossa série histórica”, diz o
cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político. “Isso se reflete em
várias perguntas relacionadas, como a pergunta sobre o impeachment. Pela
primeira vez, a gente observa uma maioria a favor num momento em que se começa
a discutir mais sobre isso – o que pode criar uma pressão popular sobre o
Congresso.”
O embate entre Bolsonaro e Moro pôs o impeachment de volta ao
debate público. Oposicionistas aumentaram a pressão na Câmara Federal para
iniciar um processo. A Casa já recebeu 19 pedidos que acusam o presidente de
crime de responsabilidade, sendo oito deles protocolados neste ano. E um
vigésimo pedido deverá ser entregue nos próximos dias pelo próprio partido que
elegeu Bolsonaro, o PSL.
De acordo com o Atlas Político,
58% das mulheres são favoráveis a um processo de destituição do presidente
enquanto entre homens o percentual cai para 49%. Analisando as respostas
conforme a crença religiosa, o presidente ainda detém forte apoio dos
evangélicos, que têm base parlamentar importante no Congresso. Entre os
evangélicos, apenas 39% são a favor do impeachment e 53% são contra. Entre
católicos, por exemplo, esses percentuais são de 59% a favor da destituição e
29% contra ela.
Outro fato inédito é que
Bolsonaro passou a ter índices de rejeição maiores que os do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Eleito em 2018 com forte
discurso antipetista e anticomunista, apostando na polarização, Bolsonaro
também tem menos popularidade até que o ministro da Economia Paulo Guedes.
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