27 abril 2020

Em declínio


Após denúncias de Moro, apoio a impeachment de Bolsonaro sobe para 54%
Aprovação ao governo já vinha caindo desde fevereiro, em função da crise econômica e do comportamento criminoso de Bolsonaro durante a crise do coronavírus
Portal Vermelho

A rejeição a Jair Bolsonaro cresceu ainda mais diante da tumultuada saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Conforme pesquisa da consultoria Atlas Político, o presidente perdeu apoio após ser acusado pelo agora ex-ministro de interferir à margem da lei na Polícia Federal. Pela primeira vez, a maioria dos brasileiros (54%) é favorável a um processo de impeachment contra Bolsonaro.
A aprovação ao governo já vinha caindo desde fevereiro, em função da crise econômica e do comportamento criminoso de Bolsonaro durante a crise do coronavírus. Mas os reflexos da demissão de seu ministro mais popular afetaram diretamente seu capital político. Agora, 64,4% respondem que desaprovam seu desempenho e apenas 30% aprovam.
Já Moro vê sua aprovação chegar a 57% – seu melhor índice desde que o site The Intercept Brasil revelou as ilegalidades cometidas pelo ex-juiz na Lava Jato. Entre dez líderes políticos incluídos na pesquisa, Moro tem aprovação menor apenas que a de Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde que foi demitido por Bolsonaro por divergências na condução da crise do coronavírus.
Na última sexta-feira, Moro deixou o cargo de superministro da Justiça e da Segurança Pública. Na ocasião, fez graves acusações contra o presidente Bolsonaro por querer interferir nas investigações da Polícia Federal – provável causa da exoneração do diretor geral da corporação, Maurício Valeixo, à revelia de Moro. Bolsonaro rebateu num atabalhoado pronunciamento feito no mesmo dia, no qual acusava Moro de mentir e negava intenção de interferir na PF. Ambos protagonizaram uma guerra política em meio à crise sanitária mais grave do século que atingiu suas imagens públicas.
Segundo a pesquisa do Atlas Político, feita com 2 mil pessoas entre os dias 24 e 26 de abril, foi a imagem do presidente que saiu ferida. O levantamento, com margem de erro de dois pontos percentuais, mostra que 68% discordam da demissão de Valeixo por Bolsonaro, ao passo que 72% concordam com as críticas feitas por Moro ao presidente, como a alegação de tentativa de interferir politicamente em investigações da PF.
“Há uma queda sem precedentes da imagem positiva que o presidente tinha na nossa série histórica”, diz o cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político. “Isso se reflete em várias perguntas relacionadas, como a pergunta sobre o impeachment. Pela primeira vez, a gente observa uma maioria a favor num momento em que se começa a discutir mais sobre isso – o que pode criar uma pressão popular sobre o Congresso.”
O embate entre Bolsonaro e Moro pôs o impeachment de volta ao debate público. Oposicionistas aumentaram a pressão na Câmara Federal para iniciar um processo. A Casa já recebeu 19 pedidos que acusam o presidente de crime de responsabilidade, sendo oito deles protocolados neste ano. E um vigésimo pedido deverá ser entregue nos próximos dias pelo próprio partido que elegeu Bolsonaro, o PSL.
De acordo com o Atlas Político, 58% das mulheres são favoráveis a um processo de destituição do presidente enquanto entre homens o percentual cai para 49%. Analisando as respostas conforme a crença religiosa, o presidente ainda detém forte apoio dos evangélicos, que têm base parlamentar importante no Congresso. Entre os evangélicos, apenas 39% são a favor do impeachment e 53% são contra. Entre católicos, por exemplo, esses percentuais são de 59% a favor da destituição e 29% contra ela.
Outro fato inédito é que Bolsonaro passou a ter índices de rejeição maiores que os do  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Eleito em 2018 com forte discurso antipetista e anticomunista, apostando na polarização, Bolsonaro também tem menos popularidade até que o ministro da Economia Paulo Guedes.

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