25 abril 2020

Uma crônica para descontrair


"você sabe meu nome?"
Melka Pinto

você sabe a importância de saber o nome de alguém? de reconhecê-las e vocalizar seus respectivos nomes? claro que obviamente não estou me referindo às pessoas próximas de nós, colegas de trabalho, família e amigas, tô falando das pessoas que não são dessas relações. tô falando da moça da padaria, do garçom do restaurante que se vai com frequência, ou do ascensorista do elevador do trabalho, do cobrador do ônibus que pegamos religiosamente no mesmo horário, saber esses nomes importam muito, criam vínculos.
tudo bem, nem todo mundo tem essa facilidade em memorizar rostos e nomes, mas acredito também que a iniciativa do interesse já faz muita diferença, como a pergunta "qual seu nome?" eu particularmente tenho uma memória que às vezes tenho até vergonha de tanto que me recordo das coisas, eu reconheço pessoas de 20 anos atrás no meio da rua e cumprimento as pessoas que, com lógica, não sabem quem tá falando. então lembrar o nome pra mim é uma coisa bem básica.
sempre cumprimentei pelo nome a maioria das pessoas do meu cotidiano, e quando cheguei à universidade que entrei no movimento estudantil, eu percebi que falar com as pessoas pelo nome fazia muita diferença na construção das relações e agora na minha vida profissional na atenção básica dos serviços de saúde, trabalhando com famílias, fico feliz em poder ter espaço de armazenamento suficiente na memória para reconhecer a todas as pessoas que passam por mim.
no começo, os nomes nos exames e encaminhamentos eram só nomes, agora são nomes com rostos e histórias de vida conhecidas, um dia desses, um senhor chegou à unidade e então respondi "oi seu josé" (nome fictício), ele olhou pra mim e fez "você sabe meu nome?" bom, passou. dias depois, andando na rua pelas redondezas, encontro "seu josé", ele olha pra mim e fala "vai almoçar o que? quando precisar, pode ir à minha casa a partir das 11h", o nome disso é vínculo.
inserida em outro vínculo profissional com tudo diferente, na assistência hospitalar, observo que toda equipe de enfermagem e demais profissionais se referem aos pacientes por letra e número do leito, são A2, B3, F4, eu só sei chamar as pessoas pelo nome, não julgo, faz parte da rotina para o processo de trabalho, mas pra mim é muito estranho, sou tão acostumada a atender gente que sei de coisas que às vezes nem ela sabe, porque foi outra pessoa que me contou que de fato é muito estranho.
e percebi que era estranho mesmo, no momento em que alguém se referiu ao leito tal e eu comentei, "ah, mas felipe não tá muito bem né" (nome fictício), a pessoa então questionou "tu conhece ele?" e entendi que ela perguntou isso somente porque o chamei pelo nome. não tenho dúvidas, saber o nome das pessoas é muito importante, as humaniza, as coloca em um lugar de gente.

Saiba mais https://bit.ly/2ySRLkm

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