Por que será que Bolsonaro não encontra entre os que o seguem alguém decente para o cargo de ministro da Educação?
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
30 junho 2020
Ricas raízes
Nomes diferentes, resistência em comum
Zanzul Alexandre*
Neste último final de
semana encontrei, numa dessas salas virtuais que utilizamos para fazer reunião
nesse momento de isolamento, uma mulher que me trouxe muitas boas lembranças.
Há quem ainda hoje não acredite que meu primeiro nome é Zanzul, e ela foi uma
das mulheres que me ajudaram a compreender os motivos e a revolução que é
colocar um nome incomum, porém com uma origem que a maioria do nosso povo
carrega, a origem negra, africana.
Esse nome surgiu de
um conceito dos meus pais: ter filhos que mostrem para a sociedade nomes
diferentes dos ingleses, americanos e portugueses... Existem nomes de origem
iorubá, como é o do meu caso, que tem significados tão lindos como qualquer
outro nome, porém são desvalorizados por termos, ainda, uma cultura de
menosprezar tudo que vem da periferia, do povo, do negro.
Zanzul em português
significa personalidade forte, entretanto meus pais encontraram esse nome num
acaso muito oportuno: contando histórias enquanto ainda estava na barriga de
Mainha. O livro infantil se chama, “História de dois amores”, do grandioso
escritor e poeta Carlos Drummond de Andrade. Pronto, era o que faltava para
combinar um casal com uma filha e a ideia de colocar um nome diferente.
Confesso que esse
nome me deu muito trabalho na infância, porém hoje em dia acho maravilhoso, um
nome diferente, contar a história dele e o que ele significa é sempre muito
gratificante.
Há um tempo atrás
achei uma família oriunda da Síria, refugiados de guerra, que se mudaram para a
Argentina que lá se chamavam Yanzul, porém quando chegaram na imigração, em vez
do "y" colocaram o "z" e ficou exatamente como meu nome:
Zanzul. A gente se encontrou no facebook, até hoje conversamos, para eles eu
seria uma esperança da família deles aqui, porém mesmo não sendo, surgiu a
amizade virtual e eles confirmaram: todos da família tem personalidade
forte.
Ter um nome diferente
carregado de história e significados é um ato de resistência. Lembro-me
incontáveis vezes, as pessoas que mal me conheciam falando "que nome esquisito"
"muda esse nome, você tem direito sabia?!" e eu simplesmente não me
cabia, afinal como pode um nome ser tão bonito e ser tão entranho para
alguns?!
A verdade é que hoje,
entendo, assimilo e sei do que um ato de resistência é capaz de fazer. Ele muda
a percepção das pessoas no seu entorno, fazem perceber que há coisas mais
importantes para serem debatidas e defendidas. A história do povo brasileiro
vai muito mais além de um encontro feito por Portugal. Somos um país com
índios, imigrantes, um povo negro com história de resistência e muita luta até
hoje.
Por isso, que venham
mais "nomes esquisitos" pra gente resistir e contar a nossa história.
*Zanzul Alexandre é formada em Gestão de Turismo e pós-graduanda em
Sustentabilidade Urbana pelo Instituto Federal de Pernambuco.
Com um livro à mão para resistir https://bit.ly/3cAI1te
Socorro à cultura
Lei Aldir Blanc é sancionada; veja como obter o
auxílio para a Cultura
Parcelas de R$ 600 serão pagas a
trabalhadores do setor que são autônomos
Portal Vermelho www.vermelho.org.br
A Lei 1.075/2020, já consagrada com o título de Lei Aldir Blanc,
foi sancionado nesta segunda-feira (29). De autoria da deputada federal
Benedita da Silva (PT-RJ) e de outros 23 parlamentares, com relatoria da também
deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a medida destina R$ 3 bilhões para o setor
cultural durante a quarentena imposta pelo coronavírus.
A principal proposta da Lei
Aldir Blanc é garantir um auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores
autônomos da Cultura – que foram injustamente excluídos pelo governo Jair
Bolsonaro da renda mínima garantida pelo PCdoB e pela oposição. Para a
presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, trata-se de “uma grande vitória
da cultura brasileira! Parabéns a todos os envolvidos nessa grande mobilização
em prol da cultura e de seus trabalhadores. Abraço especial em @jandirafeghali,
relatora do projeto tão justo e necessário!”.
Por mais de cem dias, a
economia da cultura sofreu tanto com os efeitos da pandemia da Covid-19 sobre
suas atividades quanto com a demora do setor público na resposta à erosão de
recursos – que já eram escassos antes da quarentena. Em alguns casos, estados e
municípios saíram à frente, com a criação de editais e lançamento de linhas de
créditos, mas que não abrangiam a totalidade de trabalhadores do setor, que
ficou à própria sorte com o fechamento de teatros, cinemas, casas de shows e
centros culturais.
O governo federal teria até 15 dias para enviar a verba para os
estados e municípios – mas esse item do prazo foi o único vetado do texto
final. “A Lei Aldir Blanc foi sancionada, mas a luta para garantir o pagamento
dos recursos continua!”, resumiu, no Twitter,
Benedita da Silva. Após a liberação da verba, as prefeituras têm até 60 dias
para determinar o uso. Passado esse prazo, precisam devolver o que não
utilizaram aos governos estaduais.
Veja abaixo como obter o
auxílio emergencial da Cultura e tire outras dúvidas.
Quem pode receber o auxílio emergencial? Qual o valor?
Pessoas físicas que comprovem atuação no setor cultural nos últimos dois anos
podem receber até três parcelas de R$ 600 cada uma. A ajuda não é permitida,
porém, para quem tem emprego formal ativo, recebe um benefício previdenciário
ou assistencial (com exceção do Bolsa Família) ou está recebendo
seguro-desemprego. Também não é possível ganhar se já recebeu o auxílio
emergencial geral previsto na Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020. É preciso
ainda ter renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo (R$
522,50) ou renda familiar mensal total de até três salários mínimos (R$ 3.135),
o que for maior. Outra regra é que o interessado deve ter tido rendimentos de
até R$ 28.559,70 no ano de 2018. Os R$ 600 podem ser pagos para até duas
pessoas de uma mesma família. Mães solteiras recebem o dobro do benefício, R$
1.200.
Espaços culturais também podem receber? Quanto?
Sim, para esses locais o auxílio ficará entre R$ 3 mil e R$ 10 mil por mês. Podem pleitear a verba espaços culturais e artísticos, microempresas e pequenas empresas culturais, organizações culturais comunitárias e cooperativas. Essas pessoas jurídicas precisam comprovar cadastro municipal, estadual ou de pontos de cultura. Para elas, diferentemente das pessoas físicas, haverá uma contrapartida. Após a reabertura desses locais, precisarão realizar de graça atividades para alunos de escolas públicas ou promover atividades em espaços públicos, também gratuitamente. Também deverão prestar contas de como usaram os valores recebidos em até 120 dias após a última parcela paga.
Sim, para esses locais o auxílio ficará entre R$ 3 mil e R$ 10 mil por mês. Podem pleitear a verba espaços culturais e artísticos, microempresas e pequenas empresas culturais, organizações culturais comunitárias e cooperativas. Essas pessoas jurídicas precisam comprovar cadastro municipal, estadual ou de pontos de cultura. Para elas, diferentemente das pessoas físicas, haverá uma contrapartida. Após a reabertura desses locais, precisarão realizar de graça atividades para alunos de escolas públicas ou promover atividades em espaços públicos, também gratuitamente. Também deverão prestar contas de como usaram os valores recebidos em até 120 dias após a última parcela paga.
Além do auxílio para artistas e espaços culturais, o que a lei
prevê?
A verba também é destinada para custear editais, chamadas públicas, cursos,
prêmios e aquisição de bens e serviços vinculados ao setor cultural (um estado
pode, por exemplo, comprar antecipadamente ingressos de uma instituição), entre
outras atividades. A lei exige que, no mínimo, 20% dos recursos sejam usados em
ações como essas. O texto cria ainda linhas de crédito para fomento de
atividades culturais, compra de equipamentos e renegociação de dívidas. Os
empréstimos terão que ser pagos em até 36 meses, reajustados pela taxa Selic, a
partir de 180 dias depois do final do estado de calamidade pública. As empresas
que quiserem as linhas de crédito precisam se comprometer a manter os
empregados que tinham em 18 de março, dia em que o estado de calamidade pública
foi decretado.
De onde vem a verba federal de R$ 3 bilhões?
Ela vem do Fundo Nacional de Cultura, que tem recursos federais já aprovados e
não usados. Ou seja, esse dinheiro já existia no Tesouro e deveria ser
destinado ao incentivo de atividades culturais.
Com um livro à mão para resistir https://bit.ly/3cAI1te
Outro furo
Fundação Getúlio Vargas afirma que Decotelli não faz parte do quadro de professores efetivos da instituição, conforme consta do currículo que ele divulgou. Falta a Faculdade onde ele diz que se graduou negar que ele tenha concluído o curso.
Sem freios de arrumação
Mobilidade
urbana
Ericka Manso*
Estamos enfrentando um problema
diário e constante, porém agora mais arriscado. Pessoas correndo risco
diariamente indo trabalhar, com a terrível dificuldade de locomoção, com o meio
de transporte com linhas reduzidas e uma super lotação além do normal devido à
pandemia.
Mesmo com a redução de motoristas
e cobradores, alguns morreram com o vírus e nem sequer as empresas nas quais
trabalharam não fizeram testes para garantir a segurança dos seus próprios
funcionários.
O que fazer nesse momento?
Mediante a tantas circunstâncias onde não sabemos lidar com essa nova rotina, a
retomada ainda não tomou o seu caminho.
Cadê a conscientização? O retorno
às atividades é necessário para continuarmos, a economia não pode parar, o
desemprego só fez aumentar, precisamos levantar aos poucos para que tudo volte
ao seu curso novamente.
Precisamos do nosso transporte
público na ativa, para que não tenha um índice elevado de contaminação, ajudar
os trabalhadores a retornarem a seus trabalhos e suas casas com um pouco de
segurança.
*Ericka Manso é formada em Marketing de administração e
atualmente realiza curso superior de Nutrição.
Amizades dão cor à
vida https://bit.ly/3eQE5WQ
Malefícios encadeados
Paulo Guedes, coautor do desastre
São muitas as contribuições do ministério da Economia
ao rebaixamento do Brasil. Não só na área econômica doméstica, mas também –
aspecto menos notado – na área internacional.
Paulo Nogueira
Batista Jr, Jornal GGN
O presidente Bolsonaro
sofre rejeição e críticas crescentes. Curiosamente, a área econômica do seu
governo nem tanto. Pode até escapar de um eventual naufrágio. Para alguns
setores influentes (nem preciso dizer quem são), tudo se passa como se o
ministro da Economia e sua equipe estivessem em uma esfera à parte e
precisassem ser preservados de alguma maneira. Mas é uma ginástica e tanto.
Bolsonaro e Guedes são dois lados da mesma moeda.
A
fragilidade da tentativa de separá-los salta aos olhos. Bolsonaro vem
caprichando no esforço de desorganizar e desestabilizar o país, não há dúvida.
Poucos se equiparam ao presidente em matéria de talento destrutivo. Como
ignorar, entretanto, que ele conta com a sincera colaboração da sua equipe
econômica? São muitas as contribuições do ministério da Economia ao
rebaixamento do Brasil. Não só na área econômica doméstica, mas também –
aspecto menos notado – na área internacional. Pretendo tratar neste texto dos
dois aspectos, mas principalmente do segundo, que tem recebido pouca atenção.
Antes de prosseguir, quero deixar claro que o
que me move a tratar criticamente desse tema não é nenhuma animosidade pessoal
contra o ministro e sua equipe. De forma alguma. Nem conheço a grande maioria
deles. Mas, convenhamos: não é por acaso que Guedes se tornou ministro da
Economia de Bolsonaro. As afinidades são visíveis. Os dois são extremistas por
vocação e trajetória. E o que temos em Brasília hoje é nada mais nada menos do
que o casamento do extremismo político com o extremismo econômico.
O radicalismo do presidente é notório. O do
ministro da Economia talvez seja um pouco menos conhecido, mas tem raízes
antigas. Paulo Guedes é um adepto da escola de Chicago, onde estudou na década
de 1970. Essa escola é a vertente radical da economia ortodoxa. Os traços
centrais da ortodoxia aparecem ali magnificados e exacerbados. A começar pela
propensão a superestimar, de maneira dogmática, o papel das forças de mercado e
do setor privado. E a subestimar, em contrapartida, a necessidade que têm as
economias modernas de um Estado atuante no campo econômico. Problemas centrais
como distribuição de renda são negligenciados ou tratados de forma
insuficiente. A questão nacional é ignorada ou vista como mero anacronismo.
É o chamado “fundamentalismo de mercado”,
vício que leva economistas supostamente científicos a defender com fervor
religioso teses no mínimo discutíveis, às vezes claramente falsas, sobre o que
fazer ou não fazer na condução das políticas públicas. Já deveríamos saber, a
esta altura, que a economia é uma ciência inexata, que se presta mal à defesa
rígida e fervorosa de propostas específica. Mas vá tentar, leitor, convencer os
seguidores dessa seita de que ceticismo e distanciamento críticos são sempre
necessários para lidar com temas econômicos – temas que são sempre políticos e
sociais ao mesmo tempo. A ideologia, como dizia Maria da Conceição Tavares, é
uma plataforma precária.
Chicago em Brasília
O espírito crítico foi para o espaço. No
Brasil, os xiitas da economia se uniram aos xiitas da política. E ficamos então
submetidos, desde 2019, à aplicação de certo tipo de teoria econômica. Já tive
ocasião de escrever a esse respeito em artigos publicados na minha coluna na
revista Carta Capital (elas podem
ser encontradas na minha página na internet: www.nogueirabatista.com.br). A
ideia central de Guedes e cia era submeter a economia brasileira a reformas
ditas estruturais, a começar pela da Previdência, acelerando e radicalizando o
que vinha sendo feito no governo Temer. O objetivo era – e ainda é – reduzir o
tamanho do Estado, via mudanças constitucionais e outras medidas, privatizar o
que fosse possível – inclusive as estatais estratégicas – e tentar reduzir o
déficit fiscal rapidamente, sem levar na devida conta os efeitos desse
ajustamento sobre a economia, o emprego e a distribuição da renda.
Um
ajustamento regressivo, em suma. Os resultados foram pífios. Como se podia
prever, não se confirmou a promessa de que o “choque de confiança” provocado
por políticas radicais traria uma recuperação econômica liderada pelo setor
privado. A economia continuou se arrastando, crescendo pouco ou nada em termos
de PIB per capita. Antes da chegada do novo coronavírus, a tendência para o
nível de atividade em 2020 era, na melhor das hipóteses, mais um voo de
galinha. Guedes perdeu credibilidade quando garantiu, repetidamente e sem a
mínima base, que a economia brasileira estava “decolando”.
Veio
então a pandemia e aí foi um verdadeiro deus nos acuda. A inadequação da equipe
econômica aos desafios de uma crise dessa magnitude ficou totalmente
escancarada. Não sei se o leitor se recorda, mas houve um momento em que a
mensagem que se tentou passar era de que a melhor “vacina” contra o vírus era,
no plano econômico, a continuação das reformas estruturais! O suprassumo do
ridículo nacional.
A participação do Estado
na economia, sempre necessária em alguma medida, se torna urgente e
indispensável em momentos de crise aguda. Prisioneira de dogmatismos e
preconceitos, Guedes e sua equipe resistiram ao óbvio e demoraram a reagir.
Quando o fizeram, as medidas foram incompletas, mal formuladas ou implementadas
sem convicção. Resultados: a economia mergulhou em recessão profunda, empresas
brasileiras estão sendo destruídas, o desemprego cresceu de forma alarmante, a
renda nacional se concentrou e aumentou a pobreza. O FMI, por exemplo, prevê
agora queda de 9,1% no PIB brasileiro em 2020. Uma recessão sem precedentes na
história das contas nacionais brasileiras.
Para
ser justo, é preciso dizer que, nas circunstâncias, uma recessão era inevitável
e que qualquer ministro da Economia governo teria enorme dificuldade de
enfrentar o desafio. Não se pode tampouco botar toda a culpa pelo que vem
ocorrendo em 2020 na conta da equipe econômica. O resto do governo deu a sua
contribuição – e notável – ao colapso da economia, em especial com a atuação
tumultuada e incompetente na área da saúde pública.
Atuação na área
financeira internacional
Mas não foi só no campo
da macroeconomia que Paulo Guedes e seus auxiliares se destacaram
negativamente. Diferentemente do que às vezes se imagina, a política externa do
país não é prerrogativa apenas do Itamaraty. O ministério da Economia e outros
ministérios também têm responsabilidades importantes na área internacional.
Uma
das razões que levam o ministro da Economia a ter protagonismo na política
externa é o fato de ele ser o principal representante político do país em
organismos financeiros internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, o
Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Novo Banco de
Desenvolvimento. No jargão adotado nessas instituições, ele é o “governador” do
Brasil. Com essas alavancas nas mãos, pode-se fazer muito de positivo – e
também, claro, muito estrago. O atual ministro, infelizmente, vem se
notabilizando pelos estragos que faz no campo financeiro multilateral.
É
um tema que conheço bem, pois trabalhei por mais de dez anos em instituições
multilaterais, em Washington e Xangai, entre 2007 e 2017. O Brasil era outro,
bem sei, principalmente até 2014. Depois veio a decadência política do governo
Dilma, seguida do medíocre governo Temer. Mas nada, nada mesmo, se compara ao
que tem feito o atual governo nesse campo. Nem mesmo a indigência manifesta da
equipe econômica de Temer se compara ao que temos hoje.
Banco
dos BRICS
Alguns
exemplos. Ao Brasil tocava, em 2020, indicar o segundo presidente do Novo Banco
de Desenvolvimento (NBD), mais conhecido como Banco dos BRICS, para um mandato
de 5 anos a partir de julho. Foi o resultado de uma difícil negociação,
concluída na cúpula dos líderes dos BRICS, em Fortaleza, em 2014. A presidente
Dilma Rousseff queria muito que o Brasil indicasse o primeiro presidente. A
Índia insistia em garantir para si essa possibilidade. Depois de muita
discussão, o Brasil concordou em ceder e ficou com o direito de indicar o
presidente seguinte. Na delegação brasileira, eu fui um dos que argumentaram
que era mais importante assinar logo o acordo de criação do NBD, em Fortaleza,
do que continuar insistindo em indicar o primeiro presidente.
Em
retrospecto, parece claro que foi um erro. A Índia acabou indicando um
presidente apagado, o banqueiro K.V. Kamath, de carreira ilustre, mas já em
idade avançada e em regime de pré-aposentadoria. Durante os seus 5 anos no
comando do NBD, sobressaiu-se pela inércia. (Uma avaliação crítica da fase
inicial do banco, do qual fui vice-presidente até fins de 2017, pode ser
encontrada no livro que publiquei no final do ano passado, O Brasil não cabe no
quintal de ninguém, pela editora LeYa.) Quando estávamos em Fortaleza,
finalizando a dura negociação do NBD, nunca em nossos piores pesadelos
poderíamos imaginar, leitor, que 6 anos depois o Brasil teria como presidente
um personagem caricato como Jair Bolsonaro e, como ministro da Economia, o
inefável Paulo Guedes. Se tivéssemos bola de cristal, teríamos talvez preferido
indicar o terceiro ou quarto presidente do banco!
Mas aqui estamos. Guedes
exerceu o direito de indicar e escolheu um certo Marcos Troyjo, figura
relativamente obscura e sem experiência relevante. Espero estar errado, mas o
que se sabe sobre o novo presidente do NBD não nos autoriza a esperar grande
coisa. Dificilmente será capaz de proporcionar a reorientação e o impulso
requeridos para uma instituição que começou mal sob a presidência de K.V.
Kamath. O leitor pode imaginar a minha frustração ao ver um banco promissor, do
qual fui um dos fundadores, passar das mãos de um presidente indiano inerte a um
presidente brasileiro aparentemente despreparado para o cargo.
Banco Mundial
A
atuação de Paulo Guedes como governador do Brasil em instituições sediadas em
Washington também se mostra altamente problemática, para dizer o mínimo. O caso
mais comentado é o da diretoria executiva do Brasil no Banco Mundial. Guedes
deixou a posição desocupada por cerca de sete meses para depois, a pedido de
Bolsonaro, indicar o ex-ministro Abraham Weintraub, nome escandalosamente
inadequado. Desnecessário frisar o rebaixamento do Brasil que resulta dessa
indicação. Weintraub como diretor executivo do Banco Mundial é coisa de Quarto
Mundo!
O pior é que fizemos, em
anos recentes, um esforço considerável, do qual eu mesmo participei, para
assegurar a posição de diretor executivo exclusivamente para o Brasil, sem ter
que compartilhá-la com outros países do nosso grupo no Banco Mundial.
Explico
em poucas palavras. Quando cheguei a Washington, em 2007, para assumir a
posição de diretor executivo pelo Brasil e outros países no Fundo Monetário
Internacional, o Brasil apresentava uma vulnerabilidade importante: o nosso
poder de voto no FMI era insuficiente para garantir com segurança a posição de
diretor executivo para o país. A solução encontrada por meus antecessores tinha
sido negociar com os países do nosso grupo nas instituições em Washington –
grupo que era essencialmente o mesmo no FMI e no Banco Mundial – o seguinte
arranjo: o Brasil reteria o comando exclusivo no FMI, mas aceitaria uma rotação
na posição de diretor executivo no Banco Mundial com Colômbia e Filipinas. Os
meus antecessores acreditavam, com razão, que o FMI era mais importante do que
o Banco Mundial, valendo assim a pena aceitar a rotação na diretoria executiva
desse último para garantir exclusividade na diretoria do primeiro.
Mas
esse arranjo não era satisfatório. Geralmente, eram fracos, às vezes muito
fracos, os nomes indicados por Colômbia e Filipinas para a rotação no cargo de
diretor executivo, e a nossa atuação no Banco Mundial sofria com isso. No meu
período em Washington, negociamos a duras penas, com sacrifício e não sem
muitos embates, um aumento sem precedentes do poder de voto do Brasil no FMI.
Tudo isso está relatado em detalhes no livro acima referido, que publiquei
recentemente. Graças a esse fortalecimento na nossa posição no FMI, foi
possível em seguida dispensar a rotação no Banco Mundial com Colômbia e Filipinas
– não sem desagradar esses países, claro, que insistiam em conservá-la.
Pois bem, o
que faz Paulo Guedes? Primeiro, deixa o cargo desocupado por cerca de 7 meses,
como mencionei. E, depois, indica o deplorável Abraham Weintraub. Foi para isso
que o Brasil tanto insistiu em manter o comando permanente do nosso grupo de
países no Banco Mundial?
Banco
Interamericano de Desenvolvimento
Absurda,
também, foi a atuação no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Trata-se de banco importante para a América Latina e o Caribe, que tem
condições de mobilizar volume expressivo de recursos para projetos de
investimento e desenvolvimento econômico e social na região. Haverá em breve
eleição para a presidência do BID. Existe uma regra não escrita, mas sempre
respeitada desde a criação do BID, em 1959, de que presidência fica com um
latino-americano. Da mesma forma, regras não escritas reservam a presidência do
Banco Mundial para um americano, e a do FMI para um europeu.
Guedes resolveu
apresentar candidato brasileiro, escolhendo um nome praticamente desconhecido
da área bancária privada. Contava aparentemente com apoio americano, em razão
da relação supostamente especial entre Trump e Bolsonaro. Não funcionou. O
governo Trump atropelou a candidatura posta por Guedes e resolveu apresentar
candidato próprio, Mauricio Claver-Carone, um cidadão americano, de
ultradireita, integrante do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Trump mostrou assim disposição de violar a regra sempre respeitada por todos os
países membros, inclusive os Estados Unidos, de que a presidência cabia a um
latino-americano.
O
que faz então Guedes? Cúmulo da indignidade, emite uma nota conjunta com o
chanceler Ernesto Araújo, dando boas-vindas à candidatura americana! Ou seja,
concordando com a disposição dos Estados Unidos de violar a regra não escrita
que favorece a América Latina e, na prática, jogando o candidato brasileiro ao
mar. Como observou alguém, a definição de vira-lata foi atualizada com sucesso.
A
bem verdade, a metáfora de Nelson Rodrigues – o célebre complexo de vira-lata
que caracteriza o comportamento do brasileiro diante de americanos e europeus –
já nem mais dá conta do grau de subserviência exibido pelos integrantes do
governo brasileiro, a começar pelo próprio Bolsonaro.
Há um agravante, que
ainda não foi noticiado no Brasil. Em entrevista à agência EFE, publicada em 17
de junho, Claver-Carone afirmou que a ideia da candidatura americana teria
partido, por incrível que pareça, do próprio Bolsonaro: “Em uma chamada telefônica,
casual, há duas semanas”, disse ele, “o presidente Bolsonaro havia dito ao
presidente Trump que estava pensando em um candidato (para o BID), mas que
apoiaria um candidato norte-americano, se fosse apresentado. E com isso
começamos a pensar nas circunstâncias, e se era factível fazê-lo nesses
momentos excepcionais”.
Talvez
não seja verdade, mas faço o registro. Caberia apurar. Custo a crer que um
presidente brasileiro, mesmo Bolsonaro, se rebaixe dessa maneira. A ser
verdadeira essa informação, já não estaríamos diante de vira-latismo ou
complexo de inferioridade, como mencionei, mas da mais pura e abjeta
vassalagem.
A nossa infelicidade,
volto a dizer, é a combinação letal do pior governo da nossa história com a
pior crise da nossa história. E ninguém deve se iludir ou tentar iludir outros:
Paulo Guedes e sua equipe constituem parte integrante – e destacada – desse
desastre.
(A parte inicial deste texto
foi publicada como artigo na revista Carta Capital, em 26 de junho de 2020.)
Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de
Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor executivo no FMI
pelo Brasil e mais dez países. Lançou no final do ano passado, pela editora
LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um
economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e
nosso complexo de vira-lata.
Desafios da realidade concreta https://bit.ly/3fd2YMs
29 junho 2020
Fotografia: cena urbana
Foto: Tatiana Vasconcelos*
*Advogada, fotógrafa amadora
. Veja: Tema político, veja: Quem
avisa que vai melar o jogo com tanta antecedência bom sujeito não é https://bit.ly/2TUCwlA
Reservas
Desde o governo Lula, o Brasil vem acumulando reservas internacionais — hoje estimadas em 340 bilhões de dólares. Uma fração desse volume poderia se destinar a um fundo especial de estímulo a atividades industriais. Para reaquecimento da economia e ampliação do emprego.
Economia e geopolítica
A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO COMERCIAL BRASIL X CHINA NA
FORMAÇÃO DAS RESERVAS INTERNACIONAIS BRASILEIRAS
Roberto y Plá Trevas*
O Brasil nos
últimos anos tem apresentado um saldo positivo na sua Balança Comercial,
principalmente em função do crescente aumento do resultado comercial com a
República Popular da China.
Conforme
dados da Secretaria de Comércio Exterior – SECEX, do Ministério da Economia, no
ano de 2019, o Brasil exportou US$ 224,00 bilhões e importou US$ 177,34
bilhões, obtendo um saldo da Balança Comercial de US$ 46,66 bilhões.
A República
Popular da China é o nosso principal parceiro comercial e, neste mesmo exercício
de 2019, o Brasil exportou para a China US$ 57,62 bilhões e importou US$ 32,66
bilhões, obtendo um superávit comercial de US$ 24.96 bilhões,representando
54,25 % do superávit comercial brasileiro.
A China em
2019 foi o principal destino das exportações brasileiras, 27.8 %, com uma
participação de cerca de duas vezes mais que a do segundo colocado, os Estados
Unidos, que receberam 13,1 % das exportações brasileiras.
A pauta das
exportações brasileiras para a China é composta basicamente de commodities, especificamente, soja,
minério de ferro, petróleo bruto, carne e aves, dentre outras.
Em face
desse superávit da nossa Balança Comercial, e sendo a China o nosso principal
parceiro comercial,a formação das reservas internacionais brasileiras são
decorrentes principalmente dos recursos financeiros advindos da corrente de
comércio internacional, onde a China tem uma importância fundamental, pois
conforme assinalado anteriormente, no ano de 2019, 54,25 % do saldo da balança
comercial, originou-se das relações comerciais Brasil x China.
Conforme
dados do Banco Central do Brasil, as reservas internacionais brasileiras que em
2017 apresentou um montante de US$ 381,97 bilhões, colocou o Brasil em sexto
lugar no ranking de países com reservas internacionais substanciais, vindo o
Brasil atrás da República Popular da China com US$ 3,202 trilhões, da Arábia
Saudita no 2º lugar com US$ 2,257 trilhões, do Japão no 3º lugar com US$ 1,254
trilhão, da Suíça em 4º lugar com US$ 619,55 bilhões e de Taiwan no 5º lugar
com US$ 419, 90 bilhões.
O resultado
excepcional obtido pelo Brasil nas transações internacionais, decorreu das
políticas econômicas-financeiras adotadas a partir de 2003, já no primeiro ano
do Governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, até o ano de 2015 no início
do 2º Governo da Presidenta Dilma Rousseff, levando o nosso país a se consolidar
fortemente no cenário internacional, notadamente nas relações comerciais com a
China.
Em termos
comparativos, em 2002, o montante das reservas internacionais herdadas do Governo
Fernando Henrique era de US$ 36,2 bilhões, e de dezembro de 2003 a dezembro de
2016, nos Governos dos Presidentes Lula e Dilma, as reservas internacionais
atingiram o excepcional patamar de US$ 365,02 bilhões, advindos dos superávits,
obtidos ano a ano da Balança Comercial, a partir de 2003.
Em face do
exposto, podemos constatar que as atuais reservas internacionais brasileiras,proveniente
dos governos anteriormente citados, poderão ser um dos instrumentos de política
econômica de suma importância a serem utilizados, em associação com a emissão
de moeda pelo Tesouro Nacional, no sentido de proporcionar recursos financeiros,
destinados ao enfrentamento dos desequilíbrios econômicos-financeiros,
resultantes da atual pandemia do Covid 19 que o nosso país atravessa, sem
contudo colocar em risco o nosso lastro internacional e tão pouco provocar inflação.
*Roberto y Plá Trevas é engenheiro civil e cientista político. Foi
analista de projetos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –
BNDES, Gerente de Recursos Externos da Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco – CHESF e Coordenador de Relações Internacionais das Prefeituras do
Recife e do Jaboatão dos Guararapes. Consultor de Empresas.
Unidade e luta
Nossa
disputa por dentro da Frente Ampla
Edilson Silva*
O Jornal Nacional da Globo, de sábado passado (27), fez uma
cobertura do ato virtual
organizado pelo “Direitos Já” que nos mostra a importância da
esquerda não deixar o discurso da defesa da unidade em torno da democracia, da
vida e dos direitos nas mãos da direita e da própria Globo.
Na sua
edição, a Globo fez questão de, nem tão sutilmente, separar a esquerda do
“centro”. A narração diz que a esquerda defendeu o impeachment, e
que políticos de centro defenderam a “unidade”.
Há várias malandragens
políticas na narrativa da Globo, para passar a sua tática nesta conjuntura.
Vamos a elas.
A primeira foi/é tratar a “direita política” como se fosse
“centro”. O PSDB e o DEM, a grande maioria do PMDB, não são “centro”, são a
direita no Brasil. Na geometria política, essa metodologia da Globo tira
Bolsonaro de um polo extremista de direita e vai pavimentando o caminho para o
seguimento de sua política, que é tão somente “domesticar” este monstro
fascista que é Bolsonaro e seu governo.
Na esteira desta narrativa, a
Globo tenta colocar um sinal de igual entre a postura da esquerda e a postura
de Bolsonaro. Seriam estas as partes beligerantes, as extremidades de um
conflito “político” no sentido pejorativo do termo, enquanto o “centro” quer a
unidade do país em torno do que realmente interessa.
E para não falar do que
realmente interessa ao povo, a Globo omite aspectos fundamentais do manifesto
assinado pelos mais de 100 participantes do ato, que propõe um respeito aos
direitos das maiorias excluídas e que denuncia uma situação também pré
existente ao governo Bolsonaro e que, portanto, exigiria por coerência uma auto
crítica de muitos que assinam o manifesto, que é inegavelmente um documento
progressista, humanista, mesmo não defendendo abertamente o impeachment ou o
abreviamento do governo Bolsonaro.
Esta postura da Globo já era esperada e sua edição acusa o golpe
recebido contra a sua política de isolar a esquerda e hegemonizar a narrativa
antibolsonarista segundo suas conveniências. Felizmente a esquerda se fez
presente e as ausências se apequenaram neste momento.
Há uma disputa hoje no Brasil
pelos rumos de nossa democracia, e a Globo é um grande e camuflado “partido”
político, que tem seus interesses corporativos, financeiros, tem suas
contradições também, mas tem um lado muito nítido nesta disputa.
A combinação dos fatos em torno
deste movimento de frente ampla, que deu um passo largo com o ato do dia 26 de
junho, mostra que a fala de FHC logo antes do ato, defendendo tolerância com a
presidência e alertando para a banalização de processos de impeachment, não foi
descuido e nem aleatória, mas sim uma resposta política à forte presença de
figuras de esquerda na composição da Frente e confirmadas no ato. Não
estivessem ali o Flávio Dino, Haddad, Freixo, Boulos, Molón, Luciana Santos e
tantas outras referências do mundo partidário de esquerda, assim como
referências da luta antirracista de esquerda, como Djamila Ribeiro e Douglas
Belchior, dentre tantos outros, FHC poderia ficar camuflado como defensor
abstrato de coisas tão bonitas quanto difusas e gasosas. Sua fala antes
do ato talvez quisesse mesmo gerar desfalques e dar argumentos para os críticos
da Frente Ampla justificarem suas ausências no movimento político mais
importante do país nesta conjuntura inédita para a nossa geração.
Parabéns aos da esquerda envolvidos nesta empreitada corajosa e
necessária. As contradições neste processo não estão naquelas cujas biografias
se confundem com o manifesto do “Direitos Ja!”, mas nas figuras e forças
políticas que acham que podem continuar atuando com discursos democráticos numa
mão e práticas de exclusão social na outra. É importante e necessária a
presença de todos, para garantir um sentido claro de isolamento do governo
Bolsonaro, mas saber exatamente o papel e os limites de cada um é
imprescindível.
A Frente Ampla é disputa
política, de narrativas, permanente. Dentro desta frente temos que construir
nossa unidade da esquerda com a centro esquerda, buscar tirar as palavras do
manifesto do papel e materializá-las na vida do povo brasileiro. E o primeiro
passo hoje é tirar Bolsonaro da presidência. À luta!
Quem reconhece as
ameaças à democracia se une https://bit.ly/2YfnI0v
Palavra de poeta
Pedreiros
Chico de Assis
Diariamente companheiro
eu te encontro aqui
nessa construção que alumia
o crepúsculo do parque.
Tu colocando pedras
e abrindo caminho nos ares.
Eu deslocando pedras
sem abrir sequer um atalho.
eu te encontro aqui
nessa construção que alumia
o crepúsculo do parque.
Tu colocando pedras
e abrindo caminho nos ares.
Eu deslocando pedras
sem abrir sequer um atalho.
Poetas sabem o que dizem https://bit.ly/2XypaLe
Nenhum centavo a menos!
O auxílio emergencial é indispensável para socorrer a imensa parcela da população que passa por dificuldades nesse instante de pandemia. Nenhum centavo a menos.
Perspectiva
Parcela expressiva dos 30% que apoiam Bolsonaro têm os piores empregos, mais baixos salários e precárias relações de trabalho. Uma parte afunda na informalidade pulverizada pela pandemia. Não demora, virão para a oposição.
Falso
O currículo do novo ministro da Educação, Decoletti, é feito “Sonrisal”: dissolve-se com um pingo d’água.
Morrendo na praia
Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial-IEDI, há mais de um ano as empresas brasileiras sofrem com a elevação de custos, baixa lucratividade e elevado endividamento. Paulo Guedes e Bolsonaro fazem de contas que não sabem.
Interesses midiáticos
A falta
que uma rede pública de comunicação faz
Pedro Caldas*
A cada novo capítulo da disputa política no Brasil, a chamada “grande mídia” torna-se aliada ou inimiga do chamado “progressismo”. Alguns inocentes vão dizer que a mídia não tem lado, por isso a oscilação, mas isso é história para boi dormir.
A grande mídia tem lado e quando a esquerda assume os governos isso fica claro em um instante. Quem estuda ou já estudou sobre o assunto sabe que cinco famílias (Marinho, Saad, Macêdo, Frias e Sirotsky) comandam pelo menos 25 dos 50 principais veículos de comunicação do país. É muito poder em poucas mãos. E essa turma tem uma ideologia clara: antes de tudo são economicamente liberais.
Em temas como a (de)reforma da previdência (e mais recentemente a privatização da água e do saneamento) a mídia se abraça com governo o que deixa muito esquerdista sem entender nada. “Mas a Globo não tava contra Bolsonaro”? Pode até ser que sim, mas ela tá sempre junto com o “mercado” e a política neoliberal de venda do Brasil.
Vale notar que quando o governo anuncia qualquer reforma, ela vem acompanhada com números astronômicos. “A privatização do saneamento vai gerar 700 bilhões em investimentos”, “a reforma trabalhista vai gerar x milhões de empregos”. Números extremamente otimistas e que a mídia nos vende como reais, sem nenhum contraponto.
Anos depois, mesmo com o estrago feito e os resultados bem distantes das projeções qualquer “jornalista de economia” defenderá a ação feita no passado e vai até usar como exemplo para as próximas medidas.
(Só me lembro de Delfim Netto quando disse que o jornalista de economia não é nem um, nem outro).
A gente não deve se enganar. Precisamos explorar as contradições entre esses gigantes da mídia e o Governo Bolsonaro, mas passada essa tempestade, cada um seguirá para o seu lado. Por isso, a democratização da mídia precisa estar no projeto de desenvolvimento para o Brasil ou então a mídia que criou Jânio, Collor e Bolsonaro voltará a promover figuras tortas e incapazes de cuidar do Brasil.
Enquanto escrevo sobre isso só penso na falta que uma rede pública de comunicação, gerida democraticamente e com financiamento faz. Um espaço para se debater o país, como acontece no Reino Unido com a sua BBC. O mais perto que chegamos disso foi entre 2014 e 2016 quando Dilma criou grandes editais para o audiovisual brasileiro e equipou a assassinada EBC. Espero viver para ver...
Pedro Caldas é Secretário de Comunicação da UJS Recife, estudante de Rádio, TV e Internet na UFPE e integrante do Coletivo Nacional de Comunicação da UJS
A cada novo capítulo da disputa política no Brasil, a chamada “grande mídia” torna-se aliada ou inimiga do chamado “progressismo”. Alguns inocentes vão dizer que a mídia não tem lado, por isso a oscilação, mas isso é história para boi dormir.
A grande mídia tem lado e quando a esquerda assume os governos isso fica claro em um instante. Quem estuda ou já estudou sobre o assunto sabe que cinco famílias (Marinho, Saad, Macêdo, Frias e Sirotsky) comandam pelo menos 25 dos 50 principais veículos de comunicação do país. É muito poder em poucas mãos. E essa turma tem uma ideologia clara: antes de tudo são economicamente liberais.
Em temas como a (de)reforma da previdência (e mais recentemente a privatização da água e do saneamento) a mídia se abraça com governo o que deixa muito esquerdista sem entender nada. “Mas a Globo não tava contra Bolsonaro”? Pode até ser que sim, mas ela tá sempre junto com o “mercado” e a política neoliberal de venda do Brasil.
Vale notar que quando o governo anuncia qualquer reforma, ela vem acompanhada com números astronômicos. “A privatização do saneamento vai gerar 700 bilhões em investimentos”, “a reforma trabalhista vai gerar x milhões de empregos”. Números extremamente otimistas e que a mídia nos vende como reais, sem nenhum contraponto.
Anos depois, mesmo com o estrago feito e os resultados bem distantes das projeções qualquer “jornalista de economia” defenderá a ação feita no passado e vai até usar como exemplo para as próximas medidas.
(Só me lembro de Delfim Netto quando disse que o jornalista de economia não é nem um, nem outro).
A gente não deve se enganar. Precisamos explorar as contradições entre esses gigantes da mídia e o Governo Bolsonaro, mas passada essa tempestade, cada um seguirá para o seu lado. Por isso, a democratização da mídia precisa estar no projeto de desenvolvimento para o Brasil ou então a mídia que criou Jânio, Collor e Bolsonaro voltará a promover figuras tortas e incapazes de cuidar do Brasil.
Enquanto escrevo sobre isso só penso na falta que uma rede pública de comunicação, gerida democraticamente e com financiamento faz. Um espaço para se debater o país, como acontece no Reino Unido com a sua BBC. O mais perto que chegamos disso foi entre 2014 e 2016 quando Dilma criou grandes editais para o audiovisual brasileiro e equipou a assassinada EBC. Espero viver para ver...
Pedro Caldas é Secretário de Comunicação da UJS Recife, estudante de Rádio, TV e Internet na UFPE e integrante do Coletivo Nacional de Comunicação da UJS
Rumo à debacle
Mais de US$ 50 bi deixaram o país em um ano. Reservas ainda são consistentes — mas podem se esvair, com a percepção de que Bolsonaro mantém o país empobrecido, instável e sem rumo. É um viés importante na evolução da crise.
Tendência
Uma dúvida pertinente: os 30% de apoio persistente a Bolsonaro são uma base para novo voo ou um dique que se romperá com o avanço da frente ampla de salvação nacional? Aposto na segunda hipótese.
28 junho 2020
Areia movediça
Pandemia de Covid-19 redesenhou corrida presidencial nos EUA porque desnudou as contradições de Trump. Há um cenário dm evolução, que poderá favorecer o candidato do Partido Democrata.
Inspiração
A crise é caldo de cultura para os bons escritores — e para poetas. É a impressão de quem, como eu, que não é escritor, apenas arrisca crônicas eventuais e artigos políticos diários. Historicamente tem sido assim. https://bit.ly/389YeVV
Opções táticas e atletas
Liverpool é timaço que encanta principalmente pelo
jogo coletivo
Sobre Arthur,
talvez seja melhor ele ir para a Juventus, pois a expectativa será mais real
Tostão, na Folha de S. Paulo
Quando Arthur foi contratado pelo
Barcelona, há dois anos, a expectativa, no Brasil e na Espanha, era de que ele
seria um sucesso, o substituto de Xavi, pelos estilos parecidos. Esperava-se
também que Arthur preenchesse a enorme falta que existe, há décadas, de um
craque no meio-campo da seleção brasileira, um articulador, com ótima troca de
passes e que jogasse de uma intermediária à outra.
Quando Arthur começou a atuar no Barcelona, havia também uma grande esperança de que ele evoluiria e que, além dos passes precisos e do domínio da bola, como fazia no Grêmio, passaria a dar mais passes para gols, a avançar mais, a finalizar, a fazer gols e a ser mais dinâmico. Se tornaria um meio-campista quase perfeito, como os grandes da história.
Quando Arthur começou a atuar no Barcelona, havia também uma grande esperança de que ele evoluiria e que, além dos passes precisos e do domínio da bola, como fazia no Grêmio, passaria a dar mais passes para gols, a avançar mais, a finalizar, a fazer gols e a ser mais dinâmico. Se tornaria um meio-campista quase perfeito, como os grandes da história.
No Barcelona, Arthur entra e sai da
equipe. Tem jogado bem, como fazia no Grêmio. A diferença é a exigência do
clube espanhol. Quando atuava no Brasil, ele encantava, porque não existia, no
país, um grande jogador na posição, ainda mais com seu estilo.
No Barcelona, Arthur não é novidade. Há outros meio-campistas que atuam como ele, no mesmo nível. O que tem jogado melhor é o holandês De Jong.
Algo parecido ocorreu com Coutinho. Ele não decepcionou no Barcelona. A expectativa é que era enorme, que ele fosse quase um Neymar. A distância é grande.
Arthur tem tido outros problemas. A maioria dos times que joga com um trio no meio-campo, como o Barcelona, possui um volante centralizado e mais um meio-campista de cada lado, que marcam como volantes e avançam como meias. Arthur tem dificuldades para defender, atacar e entrar na área adversária.
No Barcelona, Arthur não é novidade. Há outros meio-campistas que atuam como ele, no mesmo nível. O que tem jogado melhor é o holandês De Jong.
Algo parecido ocorreu com Coutinho. Ele não decepcionou no Barcelona. A expectativa é que era enorme, que ele fosse quase um Neymar. A distância é grande.
Arthur tem tido outros problemas. A maioria dos times que joga com um trio no meio-campo, como o Barcelona, possui um volante centralizado e mais um meio-campista de cada lado, que marcam como volantes e avançam como meias. Arthur tem dificuldades para defender, atacar e entrar na área adversária.
Uma solução poderia ser ele jogar como volante pelo centro, mais
recuado, para iniciar as jogadas ofensivas, como fazia, magistralmente, o
italiano Pirlo, no Milan. Porém, para funcionar bem, seria necessário que pelo
menos um dos meio-campistas de lado fosse ótimo no desarme, como acontecia no
Milan com Gattuso.
Na seleção brasileira é diferente. O time costuma jogar com dois volantes (Casemiro e Arthur) e mais um meia ofensivo. Nessa estratégia, Arthur não é tão cobrado para avançar, como tem sido no Barcelona.
Na seleção brasileira é diferente. O time costuma jogar com dois volantes (Casemiro e Arthur) e mais um meia ofensivo. Nessa estratégia, Arthur não é tão cobrado para avançar, como tem sido no Barcelona.
Ainda
é cedo para uma avaliação da carreira de Arthur. Dizem que ele irá para a
Juventus. Talvez seja melhor, pois a expectativa será menor, mais real. “A
espantosa realidade das coisas foi a minha descoberta. Cada coisa é o que é”
(Fernando Pessoa).
SOLIDARIEDADE
O Liverpool é campeão do
mundo, da Europa e da Inglaterra. Quando me perguntam como eu jogava
na seleção, lembro-me do Liverpool. A equipe possui um centroavante mais
armador, Firmino, como eu, que se movimenta e abre espaços para os velozes,
agressivos e artilheiros Salah e Mané, como Pelé e Jairzinho.
Na
prancheta, as duas equipes também são iguais, com quatro defensores, três no
meio-campo e três no ataque. As coisas vão e voltam, com nomes diferentes.
Essas dicas continuam válidas https://bit.ly/3dVOJM7