30 junho 2020

Deserto

Por que será que Bolsonaro não encontra entre os que o seguem alguém decente para o cargo de ministro da Educação?

Ricas raízes


Nomes diferentes, resistência em comum
Zanzul Alexandre*


Neste último final de semana encontrei, numa dessas salas virtuais que utilizamos para fazer reunião nesse momento de isolamento, uma mulher que me trouxe muitas boas lembranças. Há quem ainda hoje não acredite que meu primeiro nome é Zanzul, e ela foi uma das mulheres que me ajudaram a compreender os motivos e a revolução que é colocar um nome incomum, porém com uma origem que a maioria do nosso povo carrega, a origem negra, africana. 

Esse nome surgiu de um conceito dos meus pais: ter filhos que mostrem para a sociedade nomes diferentes dos ingleses, americanos e portugueses... Existem nomes de origem iorubá, como é o do meu caso, que tem significados tão lindos como qualquer outro nome, porém são desvalorizados por termos, ainda, uma cultura de menosprezar tudo que vem da periferia, do povo, do negro.

Zanzul em português significa personalidade forte, entretanto meus pais encontraram esse nome num acaso muito oportuno: contando histórias enquanto ainda estava na barriga de Mainha. O livro infantil se chama, “História de dois amores”, do grandioso escritor e poeta Carlos Drummond de Andrade. Pronto, era o que faltava para combinar um casal com uma filha e a ideia de colocar um nome diferente. 

Confesso que esse nome me deu muito trabalho na infância, porém hoje em dia acho maravilhoso, um nome diferente, contar a história dele e o que ele significa é sempre muito gratificante. 

Há um tempo atrás achei uma família oriunda da Síria, refugiados de guerra, que se mudaram para a Argentina que lá se chamavam Yanzul, porém quando chegaram na imigração, em vez do "y" colocaram o "z" e ficou exatamente como meu nome: Zanzul. A gente se encontrou no facebook, até hoje conversamos, para eles eu seria uma esperança da família deles aqui, porém mesmo não sendo, surgiu a amizade virtual e eles confirmaram: todos da família tem personalidade forte. 

Ter um nome diferente carregado de história e significados é um ato de resistência. Lembro-me incontáveis vezes, as pessoas que mal me conheciam falando "que nome esquisito" "muda esse nome, você tem direito sabia?!" e eu simplesmente não me cabia, afinal como pode um nome ser tão bonito e ser tão entranho para alguns?! 

A verdade é que hoje, entendo, assimilo e sei do que um ato de resistência é capaz de fazer. Ele muda a percepção das pessoas no seu entorno, fazem perceber que há coisas mais importantes para serem debatidas e defendidas. A história do povo brasileiro vai muito mais além de um encontro feito por Portugal. Somos um país com índios, imigrantes, um povo negro com história de resistência e muita luta até hoje. 

Por isso, que venham mais "nomes esquisitos" pra gente resistir e contar a nossa história.
*Zanzul Alexandre é formada em Gestão de Turismo e pós-graduanda em Sustentabilidade Urbana pelo Instituto Federal de Pernambuco.
Com um livro à mão para resistir https://bit.ly/3cAI1te

Socorro à cultura


Lei Aldir Blanc é sancionada; veja como obter o auxílio para a Cultura
Parcelas de R$ 600 serão pagas a trabalhadores do setor que são autônomos
Portal Vermelho www.vermelho.org.br

A Lei 1.075/2020, já consagrada com o título de Lei Aldir Blanc, foi sancionado nesta segunda-feira (29). De autoria da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) e de outros 23 parlamentares, com relatoria da também deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a medida destina R$ 3 bilhões para o setor cultural durante a quarentena imposta pelo coronavírus.
A principal proposta da Lei Aldir Blanc é garantir um auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores autônomos da Cultura – que foram injustamente excluídos pelo governo Jair Bolsonaro da renda mínima garantida pelo PCdoB e pela oposição. Para a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, trata-se de “uma grande vitória da cultura brasileira! Parabéns a todos os envolvidos nessa grande mobilização em prol da cultura e de seus trabalhadores. Abraço especial em @jandirafeghali, relatora do projeto tão justo e necessário!”.
Por mais de cem dias, a economia da cultura sofreu tanto com os efeitos da pandemia da Covid-19 sobre suas atividades quanto com a demora do setor público na resposta à erosão de recursos – que já eram escassos antes da quarentena. Em alguns casos, estados e municípios saíram à frente, com a criação de editais e lançamento de linhas de créditos, mas que não abrangiam a totalidade de trabalhadores do setor, que ficou à própria sorte com o fechamento de teatros, cinemas, casas de shows e centros culturais.
O governo federal teria até 15 dias para enviar a verba para os estados e municípios – mas esse item do prazo foi o único vetado do texto final. “A Lei Aldir Blanc foi sancionada, mas a luta para garantir o pagamento dos recursos continua!”, resumiu, no Twitter, Benedita da Silva. Após a liberação da verba, as prefeituras têm até 60 dias para determinar o uso. Passado esse prazo, precisam devolver o que não utilizaram aos governos estaduais.
Veja abaixo como obter o auxílio emergencial da Cultura e tire outras dúvidas.
Quem pode receber o auxílio emergencial? Qual o valor?
Pessoas físicas que comprovem atuação no setor cultural nos últimos dois anos podem receber até três parcelas de R$ 600 cada uma. A ajuda não é permitida, porém, para quem tem emprego formal ativo, recebe um benefício previdenciário ou assistencial (com exceção do Bolsa Família) ou está recebendo seguro-desemprego. Também não é possível ganhar se já recebeu o auxílio emergencial geral previsto na Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020. É preciso ainda ter renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50) ou renda familiar mensal total de até três salários mínimos (R$ 3.135), o que for maior. Outra regra é que o interessado deve ter tido rendimentos de até R$ 28.559,70 no ano de 2018. Os R$ 600 podem ser pagos para até duas pessoas de uma mesma família. Mães solteiras recebem o dobro do benefício, R$ 1.200.
Espaços culturais também podem receber? Quanto?
Sim, para esses locais o auxílio ficará entre R$ 3 mil e R$ 10 mil por mês. Podem pleitear a verba espaços culturais e artísticos, microempresas e pequenas empresas culturais, organizações culturais comunitárias e cooperativas. Essas pessoas jurídicas precisam comprovar cadastro municipal, estadual ou de pontos de cultura. Para elas, diferentemente das pessoas físicas, haverá uma contrapartida. Após a reabertura desses locais, precisarão realizar de graça atividades para alunos de escolas públicas ou promover atividades em espaços públicos, também gratuitamente. Também deverão prestar contas de como usaram os valores recebidos em até 120 dias após a última parcela paga.
Além do auxílio para artistas e espaços culturais, o que a lei prevê?
A verba também é destinada para custear editais, chamadas públicas, cursos, prêmios e aquisição de bens e serviços vinculados ao setor cultural (um estado pode, por exemplo, comprar antecipadamente ingressos de uma instituição), entre outras atividades. A lei exige que, no mínimo, 20% dos recursos sejam usados em ações como essas. O texto cria ainda linhas de crédito para fomento de atividades culturais, compra de equipamentos e renegociação de dívidas. Os empréstimos terão que ser pagos em até 36 meses, reajustados pela taxa Selic, a partir de 180 dias depois do final do estado de calamidade pública. As empresas que quiserem as linhas de crédito precisam se comprometer a manter os empregados que tinham em 18 de março, dia em que o estado de calamidade pública foi decretado.
De onde vem a verba federal de R$ 3 bilhões?
Ela vem do Fundo Nacional de Cultura, que tem recursos federais já aprovados e não usados. Ou seja, esse dinheiro já existia no Tesouro e deveria ser destinado ao incentivo de atividades culturais.
Com um livro à mão para resistir https://bit.ly/3cAI1te

Outro furo

‪Fundação Getúlio Vargas afirma que Decotelli não faz parte do quadro de professores efetivos da instituição, conforme consta do currículo que ele divulgou. Falta a Faculdade onde ele diz que se graduou negar que ele tenha concluído o curso.‬

Sem freios de arrumação


Mobilidade urbana
Ericka Manso*


Estamos enfrentando um problema diário e constante, porém agora mais arriscado. Pessoas correndo risco diariamente indo trabalhar, com a terrível dificuldade de locomoção, com o meio de transporte com linhas reduzidas e uma super lotação além do normal devido à pandemia. 

Mesmo com a redução de motoristas e cobradores, alguns morreram com o vírus e nem sequer as empresas nas quais trabalharam não fizeram testes para garantir a segurança dos seus próprios funcionários.

O que fazer nesse momento? Mediante a tantas circunstâncias onde não sabemos lidar com essa nova rotina, a retomada ainda não tomou o seu caminho. 

Cadê a conscientização? O retorno às atividades é necessário para continuarmos, a economia não pode parar, o desemprego só fez aumentar, precisamos levantar aos poucos para que tudo volte ao seu curso novamente.

Precisamos do nosso transporte público na ativa, para que não tenha um índice elevado de contaminação, ajudar os trabalhadores a retornarem a seus trabalhos e suas casas com um pouco de segurança.

*Ericka Manso é formada em Marketing de administração e atualmente realiza curso superior de Nutrição.
Amizades dão cor à vida https://bit.ly/3eQE5WQ

Malefícios encadeados


Paulo Guedes, coautor do desastre
São muitas as contribuições do ministério da Economia ao rebaixamento do Brasil. Não só na área econômica doméstica, mas também – aspecto menos notado – na área internacional.
Paulo Nogueira Batista Jr, Jornal GGN

O presidente Bolsonaro sofre rejeição e críticas crescentes. Curiosamente, a área econômica do seu governo nem tanto. Pode até escapar de um eventual naufrágio. Para alguns setores influentes (nem preciso dizer quem são), tudo se passa como se o ministro da Economia e sua equipe estivessem em uma esfera à parte e precisassem ser preservados de alguma maneira. Mas é uma ginástica e tanto. Bolsonaro e Guedes são dois lados da mesma moeda.
A fragilidade da tentativa de separá-los salta aos olhos. Bolsonaro vem caprichando no esforço de desorganizar e desestabilizar o país, não há dúvida. Poucos se equiparam ao presidente em matéria de talento destrutivo. Como ignorar, entretanto, que ele conta com a sincera colaboração da sua equipe econômica? São muitas as contribuições do ministério da Economia ao rebaixamento do Brasil. Não só na área econômica doméstica, mas também – aspecto menos notado – na área internacional. Pretendo tratar neste texto dos dois aspectos, mas principalmente do segundo, que tem recebido pouca atenção.
Antes de prosseguir, quero deixar claro que o que me move a tratar criticamente desse tema não é nenhuma animosidade pessoal contra o ministro e sua equipe. De forma alguma. Nem conheço a grande maioria deles. Mas, convenhamos: não é por acaso que Guedes se tornou ministro da Economia de Bolsonaro. As afinidades são visíveis. Os dois são extremistas por vocação e trajetória. E o que temos em Brasília hoje é nada mais nada menos do que o casamento do extremismo político com o extremismo econômico.
O radicalismo do presidente é notório. O do ministro da Economia talvez seja um pouco menos conhecido, mas tem raízes antigas. Paulo Guedes é um adepto da escola de Chicago, onde estudou na década de 1970. Essa escola é a vertente radical da economia ortodoxa. Os traços centrais da ortodoxia aparecem ali magnificados e exacerbados. A começar pela propensão a superestimar, de maneira dogmática, o papel das forças de mercado e do setor privado. E a subestimar, em contrapartida, a necessidade que têm as economias modernas de um Estado atuante no campo econômico. Problemas centrais como distribuição de renda são negligenciados ou tratados de forma insuficiente. A questão nacional é ignorada ou vista como mero anacronismo.
É o chamado “fundamentalismo de mercado”, vício que leva economistas supostamente científicos a defender com fervor religioso teses no mínimo discutíveis, às vezes claramente falsas, sobre o que fazer ou não fazer na condução das políticas públicas. Já deveríamos saber, a esta altura, que a economia é uma ciência inexata, que se presta mal à defesa rígida e fervorosa de propostas específica. Mas vá tentar, leitor, convencer os seguidores dessa seita de que ceticismo e distanciamento críticos são sempre necessários para lidar com temas econômicos – temas que são sempre políticos e sociais ao mesmo tempo. A ideologia, como dizia Maria da Conceição Tavares, é uma plataforma precária.
Chicago em Brasília
O espírito crítico foi para o espaço. No Brasil, os xiitas da economia se uniram aos xiitas da política. E ficamos então submetidos, desde 2019, à aplicação de certo tipo de teoria econômica. Já tive ocasião de escrever a esse respeito em artigos publicados na minha coluna na revista Carta Capital (elas podem ser encontradas na minha página na internet: www.nogueirabatista.com.br). A ideia central de Guedes e cia era submeter a economia brasileira a reformas ditas estruturais, a começar pela da Previdência, acelerando e radicalizando o que vinha sendo feito no governo Temer. O objetivo era – e ainda é – reduzir o tamanho do Estado, via mudanças constitucionais e outras medidas, privatizar o que fosse possível – inclusive as estatais estratégicas – e tentar reduzir o déficit fiscal rapidamente, sem levar na devida conta os efeitos desse ajustamento sobre a economia, o emprego e a distribuição da renda.
Um ajustamento regressivo, em suma. Os resultados foram pífios. Como se podia prever, não se confirmou a promessa de que o “choque de confiança” provocado por políticas radicais traria uma recuperação econômica liderada pelo setor privado. A economia continuou se arrastando, crescendo pouco ou nada em termos de PIB per capita. Antes da chegada do novo coronavírus, a tendência para o nível de atividade em 2020 era, na melhor das hipóteses, mais um voo de galinha. Guedes perdeu credibilidade quando garantiu, repetidamente e sem a mínima base, que a economia brasileira estava “decolando”.
Veio então a pandemia e aí foi um verdadeiro deus nos acuda. A inadequação da equipe econômica aos desafios de uma crise dessa magnitude ficou totalmente escancarada. Não sei se o leitor se recorda, mas houve um momento em que a mensagem que se tentou passar era de que a melhor “vacina” contra o vírus era, no plano econômico, a continuação das reformas estruturais! O suprassumo do ridículo nacional.
A participação do Estado na economia, sempre necessária em alguma medida, se torna urgente e indispensável em momentos de crise aguda. Prisioneira de dogmatismos e preconceitos, Guedes e sua equipe resistiram ao óbvio e demoraram a reagir. Quando o fizeram, as medidas foram incompletas, mal formuladas ou implementadas sem convicção. Resultados: a economia mergulhou em recessão profunda, empresas brasileiras estão sendo destruídas, o desemprego cresceu de forma alarmante, a renda nacional se concentrou e aumentou a pobreza. O FMI, por exemplo, prevê agora queda de 9,1% no PIB brasileiro em 2020. Uma recessão sem precedentes na história das contas nacionais brasileiras.
Para ser justo, é preciso dizer que, nas circunstâncias, uma recessão era inevitável e que qualquer ministro da Economia governo teria enorme dificuldade de enfrentar o desafio. Não se pode tampouco botar toda a culpa pelo que vem ocorrendo em 2020 na conta da equipe econômica. O resto do governo deu a sua contribuição – e notável – ao colapso da economia, em especial com a atuação tumultuada e incompetente na área da saúde pública.
Atuação na área financeira internacional
Mas não foi só no campo da macroeconomia que Paulo Guedes e seus auxiliares se destacaram negativamente. Diferentemente do que às vezes se imagina, a política externa do país não é prerrogativa apenas do Itamaraty. O ministério da Economia e outros ministérios também têm responsabilidades importantes na área internacional.
Uma das razões que levam o ministro da Economia a ter protagonismo na política externa é o fato de ele ser o principal representante político do país em organismos financeiros internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Novo Banco de Desenvolvimento. No jargão adotado nessas instituições, ele é o “governador” do Brasil. Com essas alavancas nas mãos, pode-se fazer muito de positivo – e também, claro, muito estrago. O atual ministro, infelizmente, vem se notabilizando pelos estragos que faz no campo financeiro multilateral.
É um tema que conheço bem, pois trabalhei por mais de dez anos em instituições multilaterais, em Washington e Xangai, entre 2007 e 2017. O Brasil era outro, bem sei, principalmente até 2014. Depois veio a decadência política do governo Dilma, seguida do medíocre governo Temer. Mas nada, nada mesmo, se compara ao que tem feito o atual governo nesse campo. Nem mesmo a indigência manifesta da equipe econômica de Temer se compara ao que temos hoje.
Banco dos BRICS
Alguns exemplos. Ao Brasil tocava, em 2020, indicar o segundo presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), mais conhecido como Banco dos BRICS, para um mandato de 5 anos a partir de julho. Foi o resultado de uma difícil negociação, concluída na cúpula dos líderes dos BRICS, em Fortaleza, em 2014. A presidente Dilma Rousseff queria muito que o Brasil indicasse o primeiro presidente. A Índia insistia em garantir para si essa possibilidade. Depois de muita discussão, o Brasil concordou em ceder e ficou com o direito de indicar o presidente seguinte. Na delegação brasileira, eu fui um dos que argumentaram que era mais importante assinar logo o acordo de criação do NBD, em Fortaleza, do que continuar insistindo em indicar o primeiro presidente.
Em retrospecto, parece claro que foi um erro. A Índia acabou indicando um presidente apagado, o banqueiro K.V. Kamath, de carreira ilustre, mas já em idade avançada e em regime de pré-aposentadoria. Durante os seus 5 anos no comando do NBD, sobressaiu-se pela inércia. (Uma avaliação crítica da fase inicial do banco, do qual fui vice-presidente até fins de 2017, pode ser encontrada no livro que publiquei no final do ano passado, O Brasil não cabe no quintal de ninguém, pela editora LeYa.) Quando estávamos em Fortaleza, finalizando a dura negociação do NBD, nunca em nossos piores pesadelos poderíamos imaginar, leitor, que 6 anos depois o Brasil teria como presidente um personagem caricato como Jair Bolsonaro e, como ministro da Economia, o inefável Paulo Guedes. Se tivéssemos bola de cristal, teríamos talvez preferido indicar o terceiro ou quarto presidente do banco!
Mas aqui estamos. Guedes exerceu o direito de indicar e escolheu um certo Marcos Troyjo, figura relativamente obscura e sem experiência relevante. Espero estar errado, mas o que se sabe sobre o novo presidente do NBD não nos autoriza a esperar grande coisa. Dificilmente será capaz de proporcionar a reorientação e o impulso requeridos para uma instituição que começou mal sob a presidência de K.V. Kamath. O leitor pode imaginar a minha frustração ao ver um banco promissor, do qual fui um dos fundadores, passar das mãos de um presidente indiano inerte a um presidente brasileiro aparentemente despreparado para o cargo.
Banco Mundial
A atuação de Paulo Guedes como governador do Brasil em instituições sediadas em Washington também se mostra altamente problemática, para dizer o mínimo. O caso mais comentado é o da diretoria executiva do Brasil no Banco Mundial. Guedes deixou a posição desocupada por cerca de sete meses para depois, a pedido de Bolsonaro, indicar o ex-ministro Abraham Weintraub, nome escandalosamente inadequado. Desnecessário frisar o rebaixamento do Brasil que resulta dessa indicação. Weintraub como diretor executivo do Banco Mundial é coisa de Quarto Mundo!
O pior é que fizemos, em anos recentes, um esforço considerável, do qual eu mesmo participei, para assegurar a posição de diretor executivo exclusivamente para o Brasil, sem ter que compartilhá-la com outros países do nosso grupo no Banco Mundial.
Explico em poucas palavras. Quando cheguei a Washington, em 2007, para assumir a posição de diretor executivo pelo Brasil e outros países no Fundo Monetário Internacional, o Brasil apresentava uma vulnerabilidade importante: o nosso poder de voto no FMI era insuficiente para garantir com segurança a posição de diretor executivo para o país. A solução encontrada por meus antecessores tinha sido negociar com os países do nosso grupo nas instituições em Washington – grupo que era essencialmente o mesmo no FMI e no Banco Mundial – o seguinte arranjo: o Brasil reteria o comando exclusivo no FMI, mas aceitaria uma rotação na posição de diretor executivo no Banco Mundial com Colômbia e Filipinas. Os meus antecessores acreditavam, com razão, que o FMI era mais importante do que o Banco Mundial, valendo assim a pena aceitar a rotação na diretoria executiva desse último para garantir exclusividade na diretoria do primeiro.
Mas esse arranjo não era satisfatório. Geralmente, eram fracos, às vezes muito fracos, os nomes indicados por Colômbia e Filipinas para a rotação no cargo de diretor executivo, e a nossa atuação no Banco Mundial sofria com isso. No meu período em Washington, negociamos a duras penas, com sacrifício e não sem muitos embates, um aumento sem precedentes do poder de voto do Brasil no FMI. Tudo isso está relatado em detalhes no livro acima referido, que publiquei recentemente. Graças a esse fortalecimento na nossa posição no FMI, foi possível em seguida dispensar a rotação no Banco Mundial com Colômbia e Filipinas – não sem desagradar esses países, claro, que insistiam em conservá-la.
Pois bem, o que faz Paulo Guedes? Primeiro, deixa o cargo desocupado por cerca de 7 meses, como mencionei. E, depois, indica o deplorável Abraham Weintraub. Foi para isso que o Brasil tanto insistiu em manter o comando permanente do nosso grupo de países no Banco Mundial?
Banco Interamericano de Desenvolvimento
Absurda, também, foi a atuação no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Trata-se de banco importante para a América Latina e o Caribe, que tem condições de mobilizar volume expressivo de recursos para projetos de investimento e desenvolvimento econômico e social na região. Haverá em breve eleição para a presidência do BID. Existe uma regra não escrita, mas sempre respeitada desde a criação do BID, em 1959, de que presidência fica com um latino-americano. Da mesma forma, regras não escritas reservam a presidência do Banco Mundial para um americano, e a do FMI para um europeu.
Guedes resolveu apresentar candidato brasileiro, escolhendo um nome praticamente desconhecido da área bancária privada. Contava aparentemente com apoio americano, em razão da relação supostamente especial entre Trump e Bolsonaro. Não funcionou. O governo Trump atropelou a candidatura posta por Guedes e resolveu apresentar candidato próprio, Mauricio Claver-Carone, um cidadão americano, de ultradireita, integrante do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. Trump mostrou assim disposição de violar a regra sempre respeitada por todos os países membros, inclusive os Estados Unidos, de que a presidência cabia a um latino-americano.
O que faz então Guedes? Cúmulo da indignidade, emite uma nota conjunta com o chanceler Ernesto Araújo, dando boas-vindas à candidatura americana! Ou seja, concordando com a disposição dos Estados Unidos de violar a regra não escrita que favorece a América Latina e, na prática, jogando o candidato brasileiro ao mar. Como observou alguém, a definição de vira-lata foi atualizada com sucesso.
A bem verdade, a metáfora de Nelson Rodrigues – o célebre complexo de vira-lata que caracteriza o comportamento do brasileiro diante de americanos e europeus – já nem mais dá conta do grau de subserviência exibido pelos integrantes do governo brasileiro, a começar pelo próprio Bolsonaro.
Há um agravante, que ainda não foi noticiado no Brasil. Em entrevista à agência EFE, publicada em 17 de junho, Claver-Carone afirmou que a ideia da candidatura americana teria partido, por incrível que pareça, do próprio Bolsonaro: “Em uma chamada telefônica, casual, há duas semanas”, disse ele, “o presidente Bolsonaro havia dito ao presidente Trump que estava pensando em um candidato (para o BID), mas que apoiaria um candidato norte-americano, se fosse apresentado. E com isso começamos a pensar nas circunstâncias, e se era factível fazê-lo nesses momentos excepcionais”.
Talvez não seja verdade, mas faço o registro. Caberia apurar. Custo a crer que um presidente brasileiro, mesmo Bolsonaro, se rebaixe dessa maneira. A ser verdadeira essa informação, já não estaríamos diante de vira-latismo ou complexo de inferioridade, como mencionei, mas da mais pura e abjeta vassalagem.
A nossa infelicidade, volto a dizer, é a combinação letal do pior governo da nossa história com a pior crise da nossa história. E ninguém deve se iludir ou tentar iludir outros: Paulo Guedes e sua equipe constituem parte integrante – e destacada – desse desastre.
(A parte inicial deste texto foi publicada como artigo na revista Carta Capital, em 26 de junho de 2020.)
Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países. Lançou no final do ano passado, pela editora LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata.
Desafios da realidade concreta https://bit.ly/3fd2YMs

29 junho 2020

Fotografia: cena urbana

Foto: Tatiana Vasconcelos*


*Advogada, fotógrafa amadora
 . Veja: Tema político, veja: Quem avisa que vai melar o jogo com tanta antecedência bom sujeito não é https://bit.ly/2TUCwlA



Reservas

Desde o governo Lula, o Brasil vem acumulando reservas internacionais — hoje estimadas em 340 bilhões de dólares. Uma fração desse volume poderia se destinar a um fundo especial de estímulo a atividades industriais. Para reaquecimento da economia e ampliação do emprego. 

Economia e geopolítica


A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO COMERCIAL BRASIL X CHINA NA FORMAÇÃO DAS RESERVAS INTERNACIONAIS BRASILEIRAS
Roberto y Plá Trevas*

O Brasil nos últimos anos tem apresentado um saldo positivo na sua Balança Comercial, principalmente em função do crescente aumento do resultado comercial com a República Popular da China.
Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior – SECEX, do Ministério da Economia, no ano de 2019, o Brasil exportou US$ 224,00 bilhões e importou US$ 177,34 bilhões, obtendo um saldo da Balança Comercial de US$ 46,66 bilhões.
A República Popular da China é o nosso principal parceiro comercial e, neste mesmo exercício de 2019, o Brasil exportou para a China US$ 57,62 bilhões e importou US$ 32,66 bilhões, obtendo um superávit comercial de US$ 24.96 bilhões,representando 54,25 % do superávit comercial brasileiro.
A China em 2019 foi o principal destino das exportações brasileiras, 27.8 %, com uma participação de cerca de duas vezes mais que a do segundo colocado, os Estados Unidos, que receberam 13,1 % das exportações brasileiras.
A pauta das exportações brasileiras para a China é composta basicamente de commodities, especificamente, soja, minério de ferro, petróleo bruto, carne e aves, dentre outras.
Em face desse superávit da nossa Balança Comercial, e sendo a China o nosso principal parceiro comercial,a formação das reservas internacionais brasileiras são decorrentes principalmente dos recursos financeiros advindos da corrente de comércio internacional, onde a China tem uma importância fundamental, pois conforme assinalado anteriormente, no ano de 2019, 54,25 % do saldo da balança comercial, originou-se das relações comerciais Brasil x China.
Conforme dados do Banco Central do Brasil, as reservas internacionais brasileiras que em 2017 apresentou um montante de US$ 381,97 bilhões, colocou o Brasil em sexto lugar no ranking de países com reservas internacionais substanciais, vindo o Brasil atrás da República Popular da China com US$ 3,202 trilhões, da Arábia Saudita no 2º lugar com US$ 2,257 trilhões, do Japão no 3º lugar com US$ 1,254 trilhão, da Suíça em 4º lugar com US$ 619,55 bilhões e de Taiwan no 5º lugar com US$ 419, 90 bilhões.
O resultado excepcional obtido pelo Brasil nas transações internacionais, decorreu das políticas econômicas-financeiras adotadas a partir de 2003, já no primeiro ano do Governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, até o ano de 2015 no início do 2º Governo da Presidenta Dilma Rousseff, levando o nosso país a se consolidar fortemente no cenário internacional, notadamente nas relações comerciais com a China.
Em termos comparativos, em 2002, o montante das reservas internacionais herdadas do Governo Fernando Henrique era de US$ 36,2 bilhões, e de dezembro de 2003 a dezembro de 2016, nos Governos dos Presidentes Lula e Dilma, as reservas internacionais atingiram o excepcional patamar de US$ 365,02 bilhões, advindos dos superávits, obtidos ano a ano da Balança Comercial, a partir de 2003.
Em face do exposto, podemos constatar que as atuais reservas internacionais brasileiras,proveniente dos governos anteriormente citados, poderão ser um dos instrumentos de política econômica de suma importância a serem utilizados, em associação com a emissão de moeda pelo Tesouro Nacional, no sentido de proporcionar recursos financeiros, destinados ao enfrentamento dos desequilíbrios econômicos-financeiros, resultantes da atual pandemia do Covid 19 que o nosso país atravessa, sem contudo colocar em risco o nosso lastro internacional e tão pouco provocar inflação.
*Roberto y Plá Trevas é engenheiro civil e cientista político. Foi analista de projetos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, Gerente de Recursos Externos da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF e Coordenador de Relações Internacionais das Prefeituras do Recife e do Jaboatão dos Guararapes. Consultor de Empresas.
Desafios da realidade concreta https://bit.ly/3fd2YMs

Unidade e luta


Nossa disputa por dentro da Frente Ampla

Edilson Silva*


O Jornal Nacional da Globo, de sábado passado (27), fez uma cobertura do ato virtual organizado pelo “Direitos Já” que nos mostra a importância da esquerda não deixar o discurso da defesa da unidade em torno da democracia, da vida e dos direitos nas mãos da direita e da própria Globo.
Na sua edição, a Globo fez questão de, nem tão sutilmente, separar a esquerda do “centro”. A narração diz que a esquerda defendeu o impeachment, e que políticos de centro defenderam a “unidade”.
Há várias malandragens políticas na narrativa da Globo, para passar a sua tática nesta conjuntura. Vamos a elas.
A primeira foi/é tratar a “direita política” como se fosse “centro”. O PSDB e o DEM, a grande maioria do PMDB, não são “centro”, são a direita no Brasil. Na geometria política, essa metodologia da Globo tira Bolsonaro de um polo extremista de direita e vai pavimentando o caminho para o seguimento de sua política, que é tão somente “domesticar” este monstro fascista que é Bolsonaro e seu governo.
Na esteira desta narrativa, a Globo tenta colocar um sinal de igual entre a postura da esquerda e a postura de Bolsonaro. Seriam estas as partes beligerantes, as extremidades de um conflito “político” no sentido pejorativo do termo, enquanto o “centro” quer a unidade do país em torno do que realmente interessa.
E para não falar do que realmente interessa ao povo, a Globo omite aspectos fundamentais do manifesto assinado pelos mais de 100 participantes do ato, que propõe um respeito aos direitos das maiorias excluídas e que denuncia uma situação também pré existente ao governo Bolsonaro e que, portanto, exigiria por coerência uma auto crítica de muitos que assinam o manifesto, que é inegavelmente um documento progressista, humanista, mesmo não defendendo abertamente o impeachment ou o abreviamento do governo Bolsonaro.
Esta postura da Globo já era esperada e sua edição acusa o golpe recebido contra a sua política de isolar a esquerda e hegemonizar a narrativa antibolsonarista segundo suas conveniências. Felizmente a esquerda se fez presente e as ausências se apequenaram neste momento.
Há uma disputa hoje no Brasil pelos rumos de nossa democracia, e a Globo é um grande e camuflado “partido” político, que tem seus interesses corporativos, financeiros, tem suas contradições também, mas tem um lado muito nítido nesta disputa.
A combinação dos fatos em torno deste movimento de frente ampla, que deu um passo largo com o ato do dia 26 de junho, mostra que a fala de FHC logo antes do ato, defendendo tolerância com a presidência e alertando para a banalização de processos de impeachment, não foi descuido e nem aleatória, mas sim uma resposta política à forte presença de figuras de esquerda na composição da Frente e confirmadas no ato. Não estivessem ali o Flávio Dino, Haddad, Freixo, Boulos, Molón, Luciana Santos e tantas outras referências do mundo partidário de esquerda, assim como referências da luta antirracista de esquerda, como Djamila Ribeiro e Douglas Belchior, dentre tantos outros, FHC poderia ficar camuflado como defensor abstrato de coisas tão bonitas quanto difusas e gasosas.  Sua fala antes do ato talvez quisesse mesmo gerar desfalques e dar argumentos para os críticos da Frente Ampla justificarem suas ausências no movimento político mais importante do país nesta conjuntura inédita para a nossa geração.
Parabéns aos da esquerda envolvidos nesta empreitada corajosa e necessária. As contradições neste processo não estão naquelas cujas biografias se confundem com o manifesto do “Direitos Ja!”, mas nas figuras e forças políticas que acham que podem continuar atuando com discursos democráticos numa mão e práticas de exclusão social na outra. É importante e necessária a presença de todos, para garantir um sentido claro de isolamento do governo Bolsonaro, mas saber exatamente o papel e os limites de cada um é imprescindível.
A Frente Ampla é disputa política, de narrativas, permanente. Dentro desta frente temos que construir nossa unidade da esquerda com a centro esquerda, buscar tirar as palavras do manifesto do papel e materializá-las na vida do povo brasileiro. E o primeiro passo hoje é tirar Bolsonaro da presidência. À luta!
Quem reconhece as ameaças à democracia se une https://bit.ly/2YfnI0v

Palavra de poeta


Pedreiros
Chico de Assis

Diariamente companheiro
eu te encontro aqui
nessa construção que alumia
o crepúsculo do parque.

Tu colocando pedras
e abrindo caminho nos ares.
Eu deslocando pedras
sem abrir sequer um atalho.

Poetas sabem o que dizem https://bit.ly/2XypaLe

Nenhum centavo a menos!

O auxílio emergencial é indispensável para socorrer a imensa parcela da população que passa por dificuldades nesse instante de pandemia. Nenhum centavo a menos.

Perspectiva

Parcela expressiva dos 30% que apoiam Bolsonaro têm os piores empregos, mais baixos salários e precárias relações de trabalho. Uma parte afunda na informalidade pulverizada pela pandemia. Não demora, virão para a oposição.

Falso

O currículo do novo ministro da Educação,  Decoletti, é feito “Sonrisal”: dissolve-se com um pingo d’água.

Morrendo na praia

Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial-IEDI, há mais de um ano as empresas brasileiras sofrem com a elevação de custos, baixa lucratividade e elevado endividamento. Paulo Guedes e Bolsonaro fazem de contas que não sabem. 

Interesses midiáticos

A falta que uma rede pública de comunicação faz
Pedro Caldas*

A cada novo capítulo da disputa política no Brasil, a chamada “grande mídia” torna-se aliada ou inimiga do chamado “progressismo”. Alguns inocentes vão dizer que a mídia não tem lado, por isso a oscilação, mas isso é história para boi dormir.

A grande mídia tem lado e quando a esquerda assume os governos isso fica claro em um instante. Quem estuda ou já estudou sobre o assunto sabe que cinco famílias (Marinho, Saad, Macêdo, Frias e Sirotsky) comandam pelo menos 25 dos 50 principais veículos de comunicação do país. É muito poder em poucas mãos. E essa turma tem uma ideologia clara: antes de tudo são economicamente liberais.

Em temas como a (de)reforma da previdência (e mais recentemente a privatização da água e do saneamento) a mídia se abraça com governo o que deixa muito esquerdista sem entender nada. “Mas a Globo não tava contra Bolsonaro”? Pode até ser que sim, mas ela tá sempre junto com o “mercado” e a política neoliberal de venda do Brasil.

Vale notar que quando o governo anuncia qualquer reforma, ela vem acompanhada com números astronômicos. “A privatização do saneamento vai gerar 700 bilhões em investimentos”, “a reforma trabalhista vai gerar x milhões de empregos”. Números extremamente otimistas e que a mídia nos vende como reais, sem nenhum contraponto.

Anos depois, mesmo com o estrago feito e os resultados bem distantes das projeções qualquer “jornalista de economia” defenderá a ação feita no passado e vai até usar como exemplo para as próximas medidas.

(Só me lembro de Delfim Netto quando disse que o jornalista de economia não é nem um, nem outro).

A gente não deve se enganar. Precisamos explorar as contradições entre esses gigantes da mídia e o Governo Bolsonaro, mas passada essa tempestade, cada um seguirá para o seu lado. Por isso, a democratização da mídia precisa estar no projeto de desenvolvimento para o Brasil ou então a mídia que criou Jânio, Collor e Bolsonaro voltará a promover figuras tortas e incapazes de cuidar do Brasil.

Enquanto escrevo sobre isso só penso na falta que uma rede pública de comunicação, gerida democraticamente e com financiamento faz. Um espaço para se debater o país, como acontece no Reino Unido com a sua BBC. O mais perto que chegamos disso foi entre 2014 e 2016 quando Dilma criou grandes editais para o audiovisual brasileiro e equipou a assassinada EBC. Espero viver para ver...


Pedro Caldas é Secretário de Comunicação da UJS Recife, estudante de Rádio, TV e Internet na UFPE e integrante do Coletivo Nacional de Comunicação da UJS 

Com um livro à mão para resistir https://bit.ly/3cAI1te

Rumo à debacle

Mais de US$ 50 bi deixaram o país em um ano. Reservas ainda são consistentes — mas podem se esvair, com a percepção de que Bolsonaro mantém o país empobrecido, instável e sem rumo. É um viés importante na evolução da crise. 

Tendência

Uma dúvida pertinente: os 30% de apoio persistente a Bolsonaro são uma base para novo voo ou um dique que se romperá com o avanço da frente ampla de salvação nacional? Aposto na segunda hipótese.

28 junho 2020

Areia movediça

Pandemia de Covid-19 redesenhou corrida presidencial nos EUA porque desnudou as contradições de Trump. Há um cenário dm evolução, que poderá favorecer o candidato do Partido Democrata. 

Inspiração

A crise é caldo de cultura para os bons escritores — e para poetas. É a impressão de quem, como eu, que não é escritor, apenas arrisca crônicas eventuais e artigos políticos diários. Historicamente tem sido assim. https://bit.ly/389YeVV

Opções táticas e atletas


Liverpool é timaço que encanta principalmente pelo jogo coletivo

Sobre Arthur, talvez seja melhor ele ir para a Juventus, pois a expectativa será mais real

Tostão, na Folha de S. Paulo

Quando Arthur foi contratado pelo Barcelona, há dois anos, a expectativa, no Brasil e na Espanha, era de que ele seria um sucesso, o substituto de Xavi, pelos estilos parecidos. Esperava-se também que Arthur preenchesse a enorme falta que existe, há décadas, de um craque no meio-campo da seleção brasileira, um articulador, com ótima troca de passes e que jogasse de uma intermediária à outra.

Quando Arthur começou a atuar no Barcelona, havia também uma grande esperança de que ele evoluiria e que, além dos passes precisos e do domínio da bola, como fazia no Grêmio, passaria a dar mais passes para gols, a avançar mais, a finalizar, a fazer gols e a ser mais dinâmico. Se tornaria um meio-campista quase perfeito, como os grandes da história.
No Barcelona, Arthur entra e sai da equipe. Tem jogado bem, como fazia no Grêmio. A diferença é a exigência do clube espanhol. Quando atuava no Brasil, ele encantava, porque não existia, no país, um grande jogador na posição, ainda mais com seu estilo.

No Barcelona, Arthur não é novidade. Há outros meio-campistas que atuam como ele, no mesmo nível. O que tem jogado melhor é o holandês De Jong.

Algo parecido ocorreu com Coutinho. Ele não decepcionou no Barcelona. A expectativa é que era enorme, que ele fosse quase um Neymar. A distância é grande.

Arthur tem tido outros problemas. A maioria dos times que joga com um trio no meio-campo, como o Barcelona, possui um volante centralizado e mais um meio-campista de cada lado, que marcam como volantes e avançam como meias. Arthur tem dificuldades para defender, atacar e entrar na área adversária.
Uma solução poderia ser ele jogar como volante pelo centro, mais recuado, para iniciar as jogadas ofensivas, como fazia, magistralmente, o italiano Pirlo, no Milan. Porém, para funcionar bem, seria necessário que pelo menos um dos meio-campistas de lado fosse ótimo no desarme, como acontecia no Milan com Gattuso.

Na seleção brasileira é diferente. O time costuma jogar com dois volantes (Casemiro e Arthur) e mais um meia ofensivo. Nessa estratégia, Arthur não é tão cobrado para avançar, como tem sido no Barcelona.
Ainda é cedo para uma avaliação da carreira de Arthur. Dizem que ele irá para a Juventus. Talvez seja melhor, pois a expectativa será menor, mais real. “A espantosa realidade das coisas foi a minha descoberta. Cada coisa é o que é” (Fernando Pessoa).

SOLIDARIEDADE

Liverpool é campeão do mundo, da Europa e da Inglaterra. Quando me perguntam como eu jogava na seleção, lembro-me do Liverpool. A equipe possui um centroavante mais armador, Firmino, como eu, que se movimenta e abre espaços para os velozes, agressivos e artilheiros Salah e Mané, como Pelé e Jairzinho.
Na prancheta, as duas equipes também são iguais, com quatro defensores, três no meio-campo e três no ataque. As coisas vão e voltam, com nomes diferentes.
Essas dicas continuam válidas https://bit.ly/3dVOJM7