Racismo e ciência
José Luis Simões*
Os recentes acontecimentos de violência contra pessoas negras no Brasil e nos Estados Unidos colocam à baila, com vigor, o debate sobre racismo no século XXI.
É um absurdo, em pleno século XXI, ainda existir práticas racistas e o crescimento de grupos fascistas.
Aqueles que têm comportamentos e ideias racistas, ou ignoram o que diz a Ciência sobre o conceito de raça, ou são partidários de uma visão de mundo terraplanista, retrógrada.
O racismo não encontra nenhuma justificativa científica. Não há etnia, raça ou cultura que seja superior a outra. Há, outrossim, culturas diferentes, etnias diferentes e heranças genéticas diversas, nada mais.
A história da humanidade lamentavelmente também é a história das exclusões e tentativas de submeter determinados grupos sociais a uma espécie de "ordem" ou "sistema".
Assim foram tratados os negros no Brasil, escravizados, desde sua chegada no século XVI, até 1888. Mesmo após a Abolição, um tipo de escravidão persiste através do racismo estrutural, institucional e cultural, impregnado na mente e nas atitudes de parte da elite branca que comanda o país.
No Brasil, negros são tratados como "outsiders", para usar um conceito do sociólogo Norbert Elias (1897-1990). No contexto das relações sociais deste século XXI, apesar da evolução na legislação sobre crime de racismo, negros são vítimas de violência gratuita e diária. Não são balas perdidas, são balas apontadas para a pele negra, que comprovam o racismo estrutural e a quase certeza de impunidade ao matar um jovem negro e pobre. O choro do pai de João Pedro é o choro de toda sociedade, que está doente.
"I can't breathe" é o grito que ecoa agora nos Estados Unidos. A frase é mais do que um grito pela vida, de George Floyd, ao ser enforcado pelo policial, após ser dominado e deitado no asfalto.
"I have a dream", de Martin Luther King, marcou a luta por igualdade racial e direitos civis no século XX. É uma frase de esperança, revolucionária, de um tempo sombrio, mas que aspirava por mudanças.
"I can't breathe", do negro desempregado e assassinado sob acusação de "falsificar uma cédula de 20 dólares", é um grito de desespero, de piedade, mas revela que, temporariamente, voltamos ao medievo, antes do século das luzes.
*José
Luís Simões é professor do Centro de
Educação/UFPE.
[Ilustração:Manabu Mabe]
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