O descalabro e o voto
Luciano
Siqueira
Em reuniões de círculos avançados de
candidaturas às Prefeituras e Câmaras de Vereadores, escuto com frequência
muita inquietação sobre uma possível influência de Bolsonaro sobre o eleitor
mais sofrido, apesar do descalabro que é seu governo.
Argumenta-se com a absurda insanidade do
presidente em relação à pandemia do novo coronavírus e com o desastre da
economia e suas terríveis consequências sobre a vida das pessoas.
Como se a relação entre a realidade concreta e a consciência política se desse
de modo automático, quase mecânico.
Mas não é assim. É permeada pela luta no terreno das ideias, nos seus diversos
matizes ideológicos e políticos.
E também a maldita realidade concreta não se apresenta retilínea, cabível num
gabarito.
Basta anotar que cerca de 70% de mais de metade dos brasileiros e brasileiras
beneficiados com o auxílio emergencial – que Bolsonaro concedeu por
determinação do Congresso Nacional, contra a sua vontade – sobrevivia com renda
familiar mensal de apenas R$ 3,00.
Toda essa gente vê na tela do seu smartphone a logomarca da Caixa Econômica
Federal e associa obviamente ao governo federal.
Mais: nesses quase sete meses de pandemia, cerca de 2 milhões de brasileiros
das camadas mais pobres melhoraram de vida. No outro polo, os bilionários,
esses formam o contingente que mais enriqueceu no período.
Por essa e outras se diz que o Brasil não é para principiantes.
E não é mesmo.
Nem a luta política se faz apenas com boa vontade. Há que combinar
sensibilidade, ausculta à população com tirocínio e capacidade de
convencimento.
Por mais que a grande maioria dos candidatos suponham que materiais de
propaganda, vídeos e cards que circulam nos meios digitais, principalmente,
bastem para conquistar o voto, a realidade demonstra que não é assim.
Especialmente numa conjuntura como a atual, em que as múltiplas trincheiras
eleitorais se dão ainda sob o impacto da onda conservadora matizada de ideias e
atitudes da direita extremada.
Ou seja, lutamos agora no quadro do novo ciclo político inaugurado com a
vitória de Bolsonaro nas eleições presidenciais.
Beco sem saída? Claro que não. A realidade é muito dura para a maioria dos
brasileiros. Forças politicamente avançadas podem conquistar vitórias
eleitorais. Têm argumentos concretos e justos para convencer maiorias. Mas
precisam, sim, superar o simplismo do control-c e control-v (copiar e colar e
passar adiante) como meio supostamente determinante da conquista do voto.
Seja no contato direto, relativamente restrito em razão da pandemia, seja por
via digital – a conversa de viva voz via WhatsApp principalmente –, é preciso
intensificar e dar volume a essa espécie de “trabalho braçal” em busca do voto.
Veja: Não é simples o processo de
elevação da consciência cidadã https://bit.ly/2ZVr8pE
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