06 dezembro 2020

Futebol mais complexo

No futebol atual não há lugar para técnicos motivadores ou apenas com sorte

Na maioria das vezes, treinadores que agem certo conseguem bons resultados, pelo menos a médio prazo

Tostão, Folha de S. Paulo 

Alguns falam que técnico bom é o que ganha. Outro dia, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, disse que queria contratar um treinador de sorte. Não foi apenas uma brincadeira.

Ele e alguns dirigentes acham que o mais importante em um treinador é a sorte. No atual futebol, científico e estratégico, não há mais lugar para técnicos do tipo “vamos lá, com garra” nem medianos ou apenas com sorte.

Por outro lado, é frequente um treinador ter condutas equivocadas nas estratégias, nas escalações e nas substituições, vencer por inúmeros outros motivos e ser bastante elogiado. Ou o contrário, fazer tudo certo, tudo dar errado e ser chamado de burro.

Na eliminação do Flamengo na Libertadores, os dois treinadores cometeram erros importantes. O do Racing, que venceu, foi pior.

Após o zagueiro Rodrigo Caio ser expulso e o Racing, imediatamente, marcar um gol, a equipe argentina, em vez de segurar a bola, trocar passes e aproveitar o jogador a mais, foi toda para trás, o que facilitou a pressão e o gol de empate do Flamengo. Se o Racing tivesse perdido nos pênaltis, o treinador seria bastante criticado. Mas acabou sendo elogiado.

Rodrigo Caio precisa aprender com Thiago Silva, na seleção, que os bons zagueiros jogam em pé, anteveem o passe, antecipam, desarmam e ainda iniciam o contra-ataque. Não dão carrinhos.

Rogério Ceni errou ao tirar, ao mesmo tempo, Arrascaeta e Everton Ribeiro, com a alegação de que queria ter dois atacantes velozes pelos lados, Bruno Henrique e Vitinho, e mais o centroavante Pedro. Pensou que estava no Fortaleza, que atua dessa maneira. O Flamengo, com Torrent, também jogava assim. Rogério foi contratado para substituí-lo e fazer diferente, como fazia Jorge Jesus.

Na maioria das vezes, treinadores que agem certo conseguem bons resultados, pelo menos a médio prazo, ainda mais se existem outras condições favoráveis. É o caso de Fernando Diniz e de outros ténicos brasileiros.

Diniz foi bastante criticado por um longo período, por condutas erradas e por outras certas que deram errado. Se não fosse Raí, teria sido dispensado.

Não há dúvidas de que Fernando Diniz evoluiu, mas não há certeza de que o São Paulo continuará tão bem e que será campeão brasileiro, pois, no futebol, há muitos acasos e mistérios, que desafiam nossa vã sabedoria.

A queda do Flamengo tem inúmeras causas, não só a troca de técnicos. O declínio é também por causa das contusões, das suspensões, da Covid-19, da escalação obrigatória de alguns reservas fracos em relação aos titulares, do excesso de partidas e da ausência de público.

O Flamengo, por ter uma torcida especial, que lota sempre o Maracanã, parece ter sido o clube mais prejudicado pela proibição.

Outras razões, que não são medidas, podem ter prejudicado o time rubro-negro, como o relaxamento e a soberba. Após a conquista de vários grandes títulos seguidos, é comum jogadores, sem notarem, acharem que a missão está cumprida e que são melhores do que são.

O ser humano é fascinado pela glória. Mais do que isso, seria se tornar um deus, um imortal, mesmo que isso seja vivido silenciosamente. Além disso, ele precisa do reconhecimento e do aplauso do outro. Sente-se carente, quando o elogio é pouco ou ausente, e um herói, quando é intenso. Maradona acreditou que podia tudo, que era divino e humano.

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