Felicidade
José
Luiz Simões*
Em 2009, iniciei os
estudos da temática “Felicidade”. Naquela época, logo percebi que pouquíssimos
pensadores se preocupavam com esse tema no Brasil. Identifiquei ainda que a
maioria das pesquisas científicas sobre Felicidade era produzida nos países
mais ricos. Então, registrei a primeira hipótese desse fenômeno: as
desigualdades econômicas e mazelas sociais no Brasil se impõem como principal
problema de pesquisa aos sociólogos, economistas, filósofos, historiadores e
cientistas políticos.
Aprendi que não há
definição única de Felicidade. Há diversas formas de entender, perceber ou
perseguir o que todo ser humano busca em sua vida: ser feliz. Descobri que a Filosofia
foi a primeira ciência que se preocupou com o tema, desde Aristóteles, o que se
confirma no seu livro “Ética à Nicômaco”.
Ao longo da história
da humanidade, a busca da Felicidade se caracterizou pelo desejo da
imortalidade e ostentação social. No Egito Antigo (cerca de 2.000 a.C) os
faraós contratavam escribas para registrar suas biografias, estratégia de
reverenciar a memória e também uma forma de se eternizar. Jesus Cristo também
foi um divisor de águas na história da humanidade. A partir de seus
ensinamentos, novos valores sociais ganham importância como, por exemplo, a
tese do perdão aos pecadores e a solidariedade aos marginalizados e execrados
pela sociedade. Ao promover milagres e profetizar, Jesus Cristo defendeu a
ideia de vida após a morte e a tese do Deus oniciente e onipotente, o que
trouxe esperança e grande sentido à civilização.
O período da Idade
Média trouxe como contribuição à busca da Felicidade a valorização da razão, o
surgimento da Ciência e a colocação do ser humano como centro do universo
(Homocentrismo). A humanidade, influenciada pelas ideias antropocêntricas,
rompeu com verdades anteriormente aceitas como absolutas, entre elas, a ideia
do Terraplanismo ou de que a Terra é o centro do Universo. O advento da ciência
ajudou a libertar a humanidade, trouxe novas possibilidades de produção de
riqueza material, novas tecnologias, o avanço da medicina e a descoberta de
fármacos diminuiu o sofrimento dos doentes e deu esperança de cura para várias
doenças, o que fez melhorar a expectativa de vida. Nos últimos 200 anos a
humanidade produziu novas tecnologias em todas as áreas, a ciência avançou, e
isto trouxe novas formas de perceber o mundo e a vida. Experimentamos novos
prazeres, novas possibilidades, mas também novos problemas. A luta pelo bem
estar objetivo e subjetivo, que são os pilares de uma vida feliz, passa a ser
mais latente do que no passado distante.
A saúde é um bem
precioso, o ponto de convergência entre todos que refletem sobre o tema Felicidade.
O filósofo Arthur Schopenhauer, no livro “A Arte de ser Feliz”, sentencia que a
saúde física e mental é base de uma vida com mais episódios de felicidade do
que infelicidade. Em tempos de pandemia, com sonhos e projetos estacionados ou
postergados para o futuro, a saúde e a ciência (como estratégia de combater
doenças) se reafirmam como bens fundamentais na luta pela vida e na busca da
Felicidade.
Momentos de tristeza
e infelicidade sempre vão acontecer, faz parte da condição humana. Mas a
maneira como reagimos aos problemas é a questão chave. Enfrentar os obstáculos
que emergem à nossa frente, nossas frustrações e incertezas, nos tornam fortes,
mais preparados para saborear os prazeres e valorizar a vida. Ter fé, humildade,
adquirir conhecimentos, ser otimista e produzir boas ações no cotidiano
fortalecem a esperança no futuro e ajudam no caminho de uma vida feliz.
*Zé Luís Simões, professor do Centro de Educação/UFPE
[Ilustração: Arshile Gorki]
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