Máscaras profissionais como a PFF2 podem ser indicadas para situações de maior risco; veja como usar
Equipamentos como a PFF2 (N95) filtram
mais de 90% das gotículas que podem carregar o vírus
Everton
Lopes Batista, Folha de S. Paulo
Os
números de casos de Covid-19 e de mortes causadas pela doença no Brasil nas
últimas semanas indicam que chegamos ao pior momento da pandemia do coronavírus
Sars-CoV-2 desde o registro do primeiro caso, há mais de um ano. Ao cenário,
soma-se ainda a chegada de novas variantes do vírus, que estudos indicam ser
mais transmissíveis e letais.
Sem
vacinação em massa, restam os cuidados que já conhecemos: distanciamento
social, higienização das mãos e uso de máscaras. Mas elas ainda são suficientes
para proteger
contra a infecção? É hora de buscar máscaras de uso profissional,
como as de padrão N95 (nos Estados Unidos) ou PFF2 (nomenclatura brasileira)?
Evidências
de que as máscaras são eficazes para evitar infecções respiratórias se acumulam
há mais de cem anos e, durante a pandemia de coronavírus, os
dados ficaram ainda mais robustos, sem deixar brechas para dúvidas de que a
proteção facial, quando bem feita e bem usada, é, sim, uma arma poderosa para
mitigar o contágio.
Hoje,
as principais autoridades em saúde do mundo recomendam o uso universal das
máscaras para combater a transmissão do vírus.
As máscaras que
ficaram conhecidas no Brasil como N95 estão entre as que garantem maior grau de
proteção contra a inalação de vírus e bactérias e chegam a filtrar cerca de 99%
das gotículas que podem conter algum patógeno. A designação N95, porém, é o
padrão americano para essas máscaras voltadas ao uso profissional. No Brasil,
as máscaras equivalentes são as PFF2 (peça facial filtrante), que dão proteção
semelhante.
Por causa dessa
alta proteção, grupos têm se organizado pelas redes sociais para promover
informação e facilitar o acesso da população às máscaras.
O
site pffparatodos.com é um desses
movimentos, surgido no início deste ano. De acordo com o idealizador, o
empresário Bruno Carvalho, mais de 200 mil pessoas já visitaram o endereço
eletrônico, que traz dicas revisadas por especialistas da área da saúde e
indica lojas onde as máscaras podem ser encontradas.
"Se
existe um equipamento de proteção barato e disponível, não há motivos para
restringir o uso desse material", afirma Carvalho. O preço das máscaras
varia no mercado, mas Carvalho diz considerar aceitável pagar entre R$ 2 e R$
10 por unidade.
Apesar
de serem descritas como descartáveis, indica-se a reutilização da proteção
durante a pandemia, desde que ela mantenha a vedação e não apresente desgastes
que podem comprometer a funcionalidade. A vedação da máscara pode ser testada
colocando as mãos ao redor da proteção já posicionada no rosto. Se ao inspirar
e expirar o ar um vento for sentido nas mãos, então a máscara deixou de
proteger e deve ser trocada.
As
máscaras também não devem ser usadas em sequência. É preciso separar um
intervalo de cerca de três dias para cada peça até o próximo uso. O ideal é que
se tenha mais do que uma dessas máscaras se o uso for constante.
Especialistas
da área da saúde reconhecem que as PFF2 podem ser uma boa opção para grupos de
risco e também momentos de exposição a maiores riscos, como uma viagem de
avião, no transporte público cheio ou durante a passagem por um local fechado e
repleto de pessoas que não pode ser evitado.
Por
outro lado, eles temem que um aumento súbito nas compras desses equipamentos
possa gerar escassez do material para os profissionais da saúde, os que mais
precisam do equipamento.
Em
entrevista publicada na segunda-feira (8) na Revista CIPA, especializada em
segurança do trabalho, o gerente-executivo da Animaseg (Associação Nacional da
Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho) Raul Casanova
afirmou que as empresas do setor têm condições de atender um aumento de demanda
das máscaras PFF2. Segundo ele, a produção mensal dos equipamentos está entre
40 milhões e 45 milhões de unidades.
O
CDC (Centros para o Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) não
recomenda o uso das N95 pela população geral para evitar a falta do produto
para os profissionais de saúde. A OMS (Organização Mundial da Saúde) e o CDC
indicam o uso de máscaras de pano pela população geral—pessoas do grupo de
risco podem buscar melhor proteção, como máscaras cirúrgicas, quando precisarem
sair de casa.
Um
artigo publicado em dezembro de 2020 na revista
científica Aerosol Science and Technology por cientistas do CDC
mostrou que máscaras feitas com três camadas de tecido de algodão têm poder
para barrar 51% dos aerossóis que uma pessoa pode expelir em uma tosse. Uma
máscara cirúrgica pode bloquear 59% dos aerossóis em uma mesma situação.
Segundo
a virologista Jordana Alves Coelho dos Reis, do Instituto de Ciências
Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as novas variantes
do vírus não alteram a eficácia de uma máscara de tecido bem feita e bem
utilizada.
"As
variantes têm capacidade maior de causar infecção depois de encontrar as
células da mucosa. Para a pessoa ser infectada, os aerossóis e as gotículas
precisam alcançar o rosto; o vírus atua da máscara para dentro, por isso
máscara e distanciamento são importantes", afirma.
Para
Maura Salaroli de Oliveira, gerente médica do Centro de Controle de Infecção
Hospitalar do hospital Sírio-Libanês, os casos de Covid-19 não aumentaram
porque precisamos de máscaras melhores, mas porque as pessoas deixaram de usar
máscaras e fazer o distanciamento físico.
"Vimos
um relaxamento das medidas de proteção. A máscara sozinha não resolve tudo, ela
não exclui a necessidade do distanciamento, e muitas pessoas não usam a máscara
ou, quando usam, não o fazem corretamente. Mais importante do que inventar
novas maneiras é voltar ao básico e fazê-lo bem feito", afirma Oliveira.
Veja: Você também pode entender de tática política https://bit.ly/3biUKDH
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