Badalar sinistro
(Aos 57 anos de 31 de março de 1964: “DITADURA
NUNCA MAIS!”)
Chico de Assis
Há um relógio tocando
reverberando o tempo.
O toque do relógio
tocava então a carne dos feridos.
Os corpos torturados
fremiam em gritos sumidos.
E em criminosas redes
o horror se implantava entre paredes.
O passar desse tempo
deixa a todos mais próximos.
Mais próximos de quê?
Talvez da História.
Alguém antes dele
fez questão de deixar
um recado numa marca de sangue.
Um pedido de socorro?
Pense bem amigo:
há outros sangrando
diria a voz antiga
escarafunchada nas paredes.
Mas o som é inaudível.
O ar irrespirável.
O falar impossível.
Quando soará o próximo badalo?
[Ilustração: Oswaldo Guayasamin]
Veja: Em livro, todas as cartas de Clarice Lispector https://bit.ly/3uKAgLu
A poesia do não esquecer dá força e beleza à inesquecível resistência.
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