28 março 2021

Palavra de poeta

 

Badalar sinistro
(Aos 57 anos de 31 de março de 1964: “DITADURA NUNCA MAIS!”)
Chico de Assis

Há um relógio tocando
reverberando o tempo.
O toque do relógio
tocava então a carne dos feridos.

Os corpos torturados
fremiam em gritos sumidos.
E em criminosas redes
o horror se implantava entre paredes.

O passar desse tempo
deixa a todos mais próximos.
Mais próximos de quê?
Talvez da História.

Alguém antes dele
fez questão de deixar
um recado numa marca de sangue.
Um pedido de socorro?

Pense bem amigo:
há outros sangrando
diria a voz antiga
escarafunchada nas paredes.

Mas o som é inaudível.
O ar irrespirável.
O falar impossível.
Quando soará o próximo badalo?

[Ilustração: Oswaldo Guayasamin]

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Um comentário:

  1. A poesia do não esquecer dá força e beleza à inesquecível resistência.

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