19 março 2021

Sob cerco da Covid-19


Vítimas da necropolítica

Rosalva Silva*

 

Com o surgimento de uma pandemia, onde o desconhecido se faz presente, os gestores e planejadores de saúde precisam se apoiar nas aprendizagens das ocorrências passadas, que, apesar de estarem no passado, com uma tecnologia menor que a atual, elas sempre nos auxiliam à tomada de decisão.

Uma pandemia nova traz para a sociedade diversos desafios políticos, econômicos, culturais e principalmente na saúde, responsável por direcionar diversas diretrizes para solucionar a crise sanitária. Portanto, se não sabemos o que fazer, precisamos voltar ao passado, como uma forma de compreender o pensar de hoje, dentro da nossa realidade e desafios.

As decisões políticos sociais dentro de uma pandemia precisam deixar claros qual o valor da vida e como a ciência pode fazer para protege-la, a partir dos direcionamentos estratégicos para os demais setores, que precisam colaborar. Assim como o próprio comportamento social, que fica ainda mais explícito diante da crise, uma pandemia que transforma o comportamento da humanidade. Na Pandemia da COVID-19, podemos perceber a necessidade de um resgate social, daqueles que se mostram frios perante às mortes e colapso do sistema de saúde. Uma parte da sociedade perdeu o laço de solidariedade, negando-se ao pertencimento social e à noção de responsabilidade mútua, pois cada “Cada vida importa e vai fazer falta.”

A insensibilidade do presidente da República perante as vidas e a sua não colaboração com as decisões governamentais colocadas pelos estados para salvar vidas, se transformaram no que chamamos de necropolítica.

Moramos em um país com grande capacidade produtiva, mas somos um dos mais desiguais. As pandemias revelam o que fica escondido em tempos normais, exacerbando ainda mais a alta desigualdade social, em que uma grande parcela pobre da sociedade, além de enfrentar a crise sanitária, dentro dos grupos mais vulneráveis, ainda precisam lidar com o fato de serem pobres e esquecidos na agenda pública.

A sociedade de fato, está corrompida por uma parcela que prefere não reagir às mortes. É preciso fazer um resgate dos valores sociais, guiados pela parte da população que não se degradou. Caso contrário seremos apenas um aglomerado de pessoas egoístas insensíveis à dor do outro.

*Rosalva Silva é Doutoranda em Saúde Pública pela Fiocruz

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