Enquanto o futebol se transforma,
Brasil repete vícios acumulados por décadas
Ter dois volantes em linha e um meia de
ligação à frente virou obsessão no país
Tostão,
Folha de S. Paulo
O Palmeiras, no
segundo tempo contra o Sport, melhorou muito após a entrada do meia
Scarpa no lugar de um dos dois volantes. Depois da partida, um repórter
perguntou a Scarpa se ele poderia jogar como um segundo volante, como se só
existisse uma opção, a habitual de quase todos os times brasileiros, com dois
volantes em linha e com um meia de ligação à frente dos dois. No Palmeiras, o
meia de ligação titular é Raphael Veiga.
Antes
e depois da partida entre
Flamengo e Athletico, comentaram, um milhão de vezes, que Andreas
Pereira atuou no lugar errado, como um meia de ligação, e que deveria jogar de
segundo volante, no lugar de Diego.
Não
vi uma única análise de que os dois poderiam jogar juntos, como meio-campistas,
um de cada lado, marcando, construindo e atacando, com apenas um volante, Arão,
pelo centro e mais recuado. Assim jogam os melhores times e seleções do mundo.
Evidentemente, há algumas diferenças entre as equipes, de acordo com as
características dos jogadores.
Como
os melhores times europeus são compactos, não há espaço nem necessidade de ter
um meia de ligação livre, clássico, com a missão de receber a bola entre o
meio-campo e a defesa, entrelinhas, como gostam tanto de dizer. Os
meio-campistas marcam como volantes e atacam como meias.
O Manchester City,
por pressionar e atuar a maior parte do tempo no campo adversário, joga com um
volante e dois meio-campistas perto da área do outro time. Dão passes decisivos
e fazem gols.
Já
o Real Madrid,
por ser uma equipe mais cautelosa, marca mais atrás e atua com um volante
(Casemiro) e um meio-campista de cada lado, Kroos e Modric, que são mais
construtores e marcadores do que atacantes. O Liverpool possui também um trio
no meio-campo. Os três marcam e atacam em bloco.
A
seleção alemã campeã do mundo em 2014, a do 7 a 1, possuía três excepcionais
jogadores no meio-campo (Schweinsteiger, Kroos e Khedira). O três trocavam de
posições, marcavam, atacavam e tinham o domínio da bola e do jogo. A seleção
francesa campeã do mundo em 2018 tinha também um trio no meio, com Kanté, Pogba
e Matuidi.
Todos
os times que possuem um trio no meio, quando perdem a bola e não dá para
pressionar, marcam com cinco, pois os dois do lado também voltam para defender.
Quando recuperam a bola, quatro dos cinco chegam à área, junto com o
centroavante.
Enquanto
o futebol, com o tempo, transforma-se, no Brasil continua a repetição de
vícios, acumulados durante décadas, como ter dois volantes marcadores em linha
e um meia de ligação, camisa 10, à frente dos dois. Tornou-se uma obsessão, uma
compulsão. Pelé,
o maior dos camisas 10, e outros eram atacantes, pontas de lança. Não eram
meias de ligação.
CONVOCAÇÃO
Tite e a
comissão técnica da seleção são muito bem preparados, justos,
racionais. Porém, em alguns momentos, passam a impressão de que conhecem todas
as informações, mas que não percebem os detalhes subjetivos, eventuais.
Vinicius
Junior mostra, a cada dia, grande evolução no Real Madrid, com chances de se
tornar um jogador importante para a seleção. Por causa da meritocracia imposta
por Tite, sem variações, ele prefere Antony, bom jogador, porque atuou bem
quando entrou no segundo tempo contra o Uruguai.
Contra
o Chile, Vinicius Junior passou todo o tempo marcando o lateral adversário, sem
destaque, porque os chilenos sufocaram o time brasileiro, sem dar chances de
contra-ataque.
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