31 outubro 2021

Concepções e táticas

Enquanto o futebol se transforma, Brasil repete vícios acumulados por décadas

Ter dois volantes em linha e um meia de ligação à frente virou obsessão no país
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Palmeiras, no segundo tempo contra o Sport, melhorou muito após a entrada do meia Scarpa no lugar de um dos dois volantes. Depois da partida, um repórter perguntou a Scarpa se ele poderia jogar como um segundo volante, como se só existisse uma opção, a habitual de quase todos os times brasileiros, com dois volantes em linha e com um meia de ligação à frente dos dois. No Palmeiras, o meia de ligação titular é Raphael Veiga.

Antes e depois da partida entre Flamengo e Athletico, comentaram, um milhão de vezes, que Andreas Pereira atuou no lugar errado, como um meia de ligação, e que deveria jogar de segundo volante, no lugar de Diego.

Não vi uma única análise de que os dois poderiam jogar juntos, como meio-campistas, um de cada lado, marcando, construindo e atacando, com apenas um volante, Arão, pelo centro e mais recuado. Assim jogam os melhores times e seleções do mundo. Evidentemente, há algumas diferenças entre as equipes, de acordo com as características dos jogadores.

Como os melhores times europeus são compactos, não há espaço nem necessidade de ter um meia de ligação livre, clássico, com a missão de receber a bola entre o meio-campo e a defesa, entrelinhas, como gostam tanto de dizer. Os meio-campistas marcam como volantes e atacam como meias.

Manchester City, por pressionar e atuar a maior parte do tempo no campo adversário, joga com um volante e dois meio-campistas perto da área do outro time. Dão passes decisivos e fazem gols.

Já o Real Madrid, por ser uma equipe mais cautelosa, marca mais atrás e atua com um volante (Casemiro) e um meio-campista de cada lado, Kroos e Modric, que são mais construtores e marcadores do que atacantes. O Liverpool possui também um trio no meio-campo. Os três marcam e atacam em bloco.

A seleção alemã campeã do mundo em 2014, a do 7 a 1, possuía três excepcionais jogadores no meio-campo (Schweinsteiger, Kroos e Khedira). O três trocavam de posições, marcavam, atacavam e tinham o domínio da bola e do jogo. A seleção francesa campeã do mundo em 2018 tinha também um trio no meio, com Kanté, Pogba e Matuidi.

Todos os times que possuem um trio no meio, quando perdem a bola e não dá para pressionar, marcam com cinco, pois os dois do lado também voltam para defender. Quando recuperam a bola, quatro dos cinco chegam à área, junto com o centroavante.

Enquanto o futebol, com o tempo, transforma-se, no Brasil continua a repetição de vícios, acumulados durante décadas, como ter dois volantes marcadores em linha e um meia de ligação, camisa 10, à frente dos dois. Tornou-se uma obsessão, uma compulsão. Pelé, o maior dos camisas 10, e outros eram atacantes, pontas de lança. Não eram meias de ligação.

CONVOCAÇÃO

Tite e a comissão técnica da seleção são muito bem preparados, justos, racionais. Porém, em alguns momentos, passam a impressão de que conhecem todas as informações, mas que não percebem os detalhes subjetivos, eventuais.

Vinicius Junior mostra, a cada dia, grande evolução no Real Madrid, com chances de se tornar um jogador importante para a seleção. Por causa da meritocracia imposta por Tite, sem variações, ele prefere Antony, bom jogador, porque atuou bem quando entrou no segundo tempo contra o Uruguai.

Contra o Chile, Vinicius Junior passou todo o tempo marcando o lateral adversário, sem destaque, porque os chilenos sufocaram o time brasileiro, sem dar chances de contra-ataque.

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