Máscaras
que nos confundem
Luciano Siqueira
A pandemia nos obriga a usar máscaras.
Elas esquentam, incomodam — mas nos protegem, asseguram corretamente
anúncios na TV.
E nos confundem.
No supermercado o velho amigo me olha, e eu a ele, ambos com ar inquiridor.
— É Luciano?
— Sim, respondo abaixando parcialmente minha máscara.
— Sou Gumercindo, cara (também afrouxando a máscara), quanto
tempo!
Realmente, de máscaras nem sempre somos facilmente reconhecidos.
Nos velhos filmes do faroeste norte-americano da minha pré-adolescência,
os caras punham máscaras como as de agora, que ocultam apenas parcialmente o rosto, assaltavam bancos e não eram reconhecidos.
Reconhecer de pronto implica a lembrança do olhar.
Ou você guarda na memória horas de olhos nos olhos ou mesmo breves
encontros passados, ainda que fortuitos, marcantes; ou não tem jeito.
Ou o jeito é tirar a máscara... por alguns segundos e
à distância.
Se não, podemos nos equivocar facilmente.
Como me ocorreu ontem, numa clínica, onde aguardava laudos de exames radiológicos.
À minha frente uma senhora de porte mediano, morena, máscara escura e olhar apreensivo. Imaginei de pronto que seria uma colega do curso médico na UFPE que não vejo há anos.
Pensei em abordá-la, mas desisti porque
ela parecia também não me reconhecer.
Solicitado pela moça do guichê,
pronunciei meu nome em voz alta, observando-a de soslaio.
Ela ouviu, sim; mas nem se mexeu.
Em seguida, foi a vez dela: “Senhora
Maria das Dores de tal...”
Frustrei-me. Realmente não era a minha
colega de Faculdade.
Apenas os olhos eram semelhantes, a face
semi ocultada pela máscara.
E a emoção se foi.
.
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