Soneto italiano
Manuel Bandeira
Frescura das
sereias e do orvalho,
Dos brancos pés dos pequeninos,
Voz das manhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:
De quem me
valerei, se não me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinzas que em pranto ao vento espalho?
Também te vi
chorar… Também sofreste
A dor de verem secarem pela estrada
As fontes da esperança… E não cedeste!
Antes, pobre,
despida e trespassada,
Soubeste dar à vida, em que morreste,
Tudo, — à vida, que nunca te deu nada!
.
[Ilustração: Ikenaga Yasunari]
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