01 outubro 2021

Palavra de poeta: Manuel Bandeira

Soneto italiano

Manuel Bandeira

Frescura das sereias e do orvalho,
Dos brancos pés dos pequeninos,
Voz das manhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:

De quem me valerei, se não me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinzas que em pranto ao vento espalho?

Também te vi chorar… Também sofreste
A dor de verem secarem pela estrada
As fontes da esperança… E não cedeste!

Antes, pobre, despida e trespassada,
Soubeste dar à vida, em que morreste,
Tudo, — à vida, que nunca te deu nada!

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[Ilustração: Ikenaga Yasunari]

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