10 dezembro 2021

A técnica ontem e hoje

Futebol teve mudanças positivas na última década

Tenho a impressão, porém, de que jogadores do passado eram mais inventivos
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Houve muitas mudanças positivas, na última década, na maneira de jogar em todo o mundo, como a pressão em todo o campo para recuperar a bola, a diminuição dos espaços entre os setores, o aumento da intensidade do jogo, a troca de passes para manter a posse de bola e tantos outros detalhes.

No Brasil, essa transformação não é tão habitual. O Santos, no gol contra o Flamengo, tocou a bola desde o goleiro até dentro da área adversária. Os jogadores do Flamengo olhavam à distância, como nos anos 1960.

Na média, houve também um crescimento técnico no repertório individual dos atletas. Tenho a impressão, e posso estar enganado, de que no passado os jogadores eram mais inventivos, fantasistas, surpreendentes e ousados, e de que os do presente são mais técnicos, racionais e pragmáticos.

Uma evolução individual é o aumento da frequência de jogadores que cruzam muito bem a bola para a área, seja em movimento ou em bolas paradas, embora haja ainda um grande número de atletas que jogam a bola na área para contar com a sorte. Os cruzamentos de Scarpa, do Palmeiras, Arana, do Atlético, Reinaldo, do São Paulo, e outros são um tormento para os goleiros e as defesas. As bolas saem rápidas e em curva, entre o defensor e o goleiro.

Outra melhoria do futebol atual são os goleiros. Na Copa de 2014, Neuer, da Alemanha, deu uma aula de como sair rapidamente do gol para fazer a cobertura dos zagueiros adiantados. Hoje, cada vez mais, há goleiros que têm um bom passe, como Ederson, do Manchester City e da seleção brasileira, Ter Stegen, do Barcelona e da seleção alemã, e tantos outros. O City já fez alguns gols após lançamentos de Ederson, por cima dos zagueiros. No Brasil, Everson, do Atlético, e Weverton, do Palmeiras, progrediram muito com os pés.

Os meio-campistas, ainda pouco reconhecidos no Brasil, que atuam de uma intermediária à outra, e muitos jogadores que atuam pelos lados são capazes de atravessar o campo em uma jogada, desarmar, construir e atacar. No passado, essa distância era dividida entre os laterais e os pontas e entre os volantes e os meias ofensivos.

Vinicius Junior, no Real Madrid, atua a cada dia melhor, pela esquerda, da defesa até o ataque. No jogo da seleção contra o Chile, Tite foi muito criticado, sem razão, porque teria escalado Vinicius apenas para marcar. Não foi isso o que ocorreu. O Chile sufocou o Brasil e não permitiu os contra-ataques.

Além de Vinicius Junior, com chances cada vez maiores de brilhar na seleção, o Brasil, nos últimos jogos, ganhou mais dois jogadores importantes, o volante Fabinho, do Liverpool, e o zagueiro Militão, do Real Madrid. Os dois são reservas à altura dos excepcionais Casemiro e dos dois zagueiros, Thiago Silva e Marquinhos.

Repito, falta ainda à seleção um craque meio-campista, ao lado de Casemiro. Fred é bom, marca e passa bem, mas não faz nada mais que o habitual. Estaria eu muito exigente? Quem viu de perto Didi, Gerson, Rivellino, Falcão, Cerezo, Dirceu Lopes, Ademir da Guia e outros ficou bem-acostumado.

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