13 março 2022

Futebol contemporâneo

Existem muitas opções estratégicas; a melhor é a mais bem executada

Treinadores portugueses do Brasil estão mais atentos ao que acontece no mundo
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Na véspera da final da Copa do Mundo de 2002, jornalistas alemães presentes na sala de imprensa me disseram que era a pior seleção da Alemanha dos últimos anos. Isso não diminui a brilhante conquista brasileira, mas serve para lembrar que, na época, o jogo coletivo estava estagnado, chato, pragmático e previsível.

Depois do Mundial, o futebol começou a mudar para melhor, progressivamente. O Barcelona, dirigido por Guardiola, iluminou o espetáculo, que se espalhou pela Europa, criando muitas variações da maneira de jogar e de comportamento.

Alguns craques baixinhos, meio-campistas, como Xavi, Iniesta e outros, voltaram a ser badalados. O Brasil não acompanhou essa evolução e, só recentemente, após o 7 a 1 e a chegada de vários treinadores, estrangeiros e brasileiros, começou, aos poucos, a jogar um futebol mais moderno e eficiente.

O jogo, especialmente na Europa, está muito mais intenso, com menos espaços entre os setores, com mais pressão para recuperar a bola, com variação da marcação mais adiantada e da mais recuada, com mais troca de passes e triangulações e tantos outros detalhes.

Individualmente, houve também evolução da parte técnica. Os goleiros aprenderam a jogar fora da área e, junto com os zagueiros, desenvolveram um melhor passe. Há mais jogadores capazes de atuar de uma intermediária à outra. Os cruzamentos das laterais são mais fortes e mais difíceis para a defesa. Os goleiros são mais altos e rápidos, uma das razões da diminuição do número de gols de falta.

Os treinadores que gostam de atuar com três zagueiros usam, cada vez mais, pelos lados, pontas hábeis, dribladores e velozes no lugar de laterais com funções de alas. Os times pressionam, deixam quatro jogadores no próprio campo (três zagueiros e um volante) e atacam com seis. O Bayern atua quase sempre dessa forma. Outros clubes europeus fazem o mesmo.

O Palmeiras também tem usado meias ofensivos, como Scarpa, como alas. O Flamengo coloca o meia Everton Ribeiro ou mesmo um atacante, como Vitinho, como ala esquerdo. Os treinadores portugueses que atuam no Brasil estão mais atentos ao que acontece no mundo.

Existem muitas opções estratégicas. A melhor é a mais bem executada, no momento certo e de acordo com o adversário. Entre as tantas histórias do futebol, verdadeiras ou inventadas, uma deliciosa é a de Garrincha, após a preleção de Vicente Feola, antes do jogo contra a Rússia, na Copa de 1958, quando Mané perguntou ao treinador: "Já combinaram com os russos?".

O CRIADOR E A CRIATURA

O Galo Doido, personagem símbolo da torcida do Atlético, foi suspenso por um jogo porque pressionou o jogador do Cruzeiro que comemorava o gol. O criador, a pessoa que estava dentro da vestimenta de Galo Doido, é quem deveria ser punido.

Isso me faz lembrar que, na vida, muitas pessoas usam a personagem para se proteger de atitudes ilegais, absurdas, imorais, como o deputado que ofendeu as ucranianas e todas as mulheres do mundo. Ele se justificou dizendo que era um áudio privado, uma conversa com amigos, como se o responsável fosse a personagem, não ele.

No mundo, é frequente pessoas criarem personagens para viver, conviver em sociedade, o que é compreensível, desde que não façam grandes besteiras. "Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido (Fernando Pessoa).".

Veja: Onde a luta encontra a poesia https://bit.ly/3E95Juz

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