Unidade em dois tempos
Luciano Siqueira
A história desse momento difícil da
vida nacional haverá de registrar, com destaque, a federação partidária
constituída pelo PT, PCdoB e PV.
Convergência de propósitos em nível
elevado e consonante com os cruciais desafios da sociedade brasileira.
É como uma peça de múltiplas faces a
exibir o peso político estratégico que pode jogar.
Em sua carta programa, assinala que é
"plenamente possível sustentar uma gestão econômica tendo o papel decisivo
do Estado".
Este é um ponto de convergência
avançado, claramente contraposto às esfarrapadas concepções de Estado mínimo —
desmoralizadas pela ampla intervenção estatal, sobretudo via bancos centrais,
nos países capitalistas mais desenvolvidos, na tentativa deter as muitas
sangrias decorrentes da crise global que emergiu desde 2007.
Na outra ponta, a República Popular da
China tem no Estado o condutor de extraordinário desenvolvimento econômico com
ampla e crescente satisfação das necessidades básicas de toda a população.
Em nosso país tropical, variantes do
tal Estado mínimo ainda circulam, sustentados particularmente pelos arautos do
rentismo.
Entretanto, tamanha a dimensão da crise
multifacetada que envolve o país, agravada a cada nova medida adotada pelo
desastroso governo Bolsonaro, que há espaço sim para uma concertação social e
politicamente ampla em torno de uma plataforma de reconstrução nacional, que
reconheça a absoluta necessidade da intervenção progressista do Estado sobre a
economia.
Segundo a carta programa da Federação
PT-PCdoB-PV, ao Estado devem caber "investimentos capazes de gerar um
ciclo virtuoso de crescimento econômico, a valorização do trabalho, geração de
emprego decente, formal e com direitos, distribuição de renda, sobretudo pela
ampliação da massa salarial e institucionalização de uma política de valorização
substancial do salário mínimo, visando à recuperação do poder de compra
determinado pela Constituição, a formatação e manutenção de políticas
universais para a redução de desigualdades."
Mais claro e tão abrangente não poderia
ser.
Evidente que essas intenções pedem
detalhamento e encontrarão, ao se instalar o desejado futuro governo Lula,
empecilhos de muitas naturezas — seja pelo cipoal de legislação
infraconstitucional de caráter privatista, acumulado especialmente nos governos
Temer e Bolsonaro; seja pela correlação de forças no Congresso Nacional, talvez
não tão adversa como a atual.
.
Veja: O nó da terceira via
https://bit.ly/35Q9UAn
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