O que explica o maior orador do país errando tanto em seus discursos?
Pedro Caldas*
Essa semana uma fala infeliz do
ex-presidente Lula ofendeu PMs de todo o Brasil e não foi a primeira vez que
ele cometeu uma gafe como essa. Mas pra entender, vamos voltar vinte anos no
tempo.
Quando penso na campanha de Lula em
2002 vem na mente a tese dos 3 terços, pensada pelo genial marqueteiro Duda
Mendonça. Naquele pleito, os eleitores se dividiriam em um terço do PSDB, um do
PT e o outro em disputa. Lula ganharia (e ganhou) ao atingir com qualidade o
último público.
O que fica de fora dessa história é que
Lula sempre fez o dever de casa. Sempre cuidou com carinho “seu” terço (tanto
que o mantém até hoje). E fazia isso, não na rádio ou na televisão, mas nos
comícios de rua, na mobilização da militância e na propaganda impressa.
Lula sempre foi um gênio do discurso,
capaz de empolgar as mais variadas plateias. Falando e convencendo nichos
variados ele foi acumulando forças até ser eleito.
A bronca é que 20 anos depois o jeito
de se comunicar e, consequentemente, de fazer campanha capotou (e gosto desse
termo porque ele ilustra a violência com que as coisas mudaram).
O que ele conversa no sindicato dos
metalúrgicos ou em um evento com lideranças do centrão rapidamente é transmitido
e compartilhado pelas redes sociais. Aquela oratória magnifica, pensada para
impressionar operários ou raposas da política, ao vivo vai ser transmitida para
outras bolhas rendendo comentários, discussões e novos compartilhamentos.
Foi assim que, falando para uma plateia
de esquerda, conseguiu ofender toda a gigantesca categoria dos policiais
militares. Uma gafe gigantesca, munição para Bolsonaro que dificilmente poderia
ser usada por Serra em 2002.
O caminho não é fácil, mas é necessário
que a campanha se aprume nas e para as redes sociais. Montar uma estratégia
para discursos, imagem e redes de Lula, entendendo que tudo o que ele fala pode
ser usado contra ele é o primeiro passo (e nisso o PT já tem trabalhado), o
seguinte é organizar, municiar e dar tarefa ao exército de apoiadores do
presidente, mas isso é tema pra outro texto.
*Pedro Caldas é videomaker e fotógrafo.
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