Eleição em
Pernambuco: nem lama, nem sangue
Luciano Siqueira
Não são poucas as
vozes qualificadas e experientes que têm comentado o risco de rebaixamento do
debate nas eleições deste ano em Pernambuco.
Não pela disputa
presidencial, marcada aqui pela polarização entre Lula e Bolsonaro, sob alta
temperatura, com larga vantagem para o ex-presidente.
O risco maior está na
disputa pelo governo do Estado, que em meio a uma multiplicidade de candidaturas
destacam-se 5 potencialmente competitivas: a do deputado Danilo Cabral pelo
PSB, à testa da Frente Popular, versus quatro ex-aliados, hoje oposicionistas —
Marília Arraes, Solidariedade; Raquel Lyra, PSDB; Miguel Coelho, União Brasil e
Anderson Ferreira, PL.
Todos buscam um veio
por onde possa ampliar sua base eleitoral.
Marília aposta no
recall da última eleição municipal no Recife, em que recebeu o apoio explícito
de Lula. Porém concentra suas baterias num combate ao PSB, um dos seus
ex-partidos, com tamanha ferocidade que beira o ódio.
Os demais tentarão,
por mil argumentos, consistentes ou não, negar os feitos da Frente Popular nos
últimos quatro governos liderados pelo PSB, com os governadores Eduardo Campos
e Paulo Câmara.
Correndo por fora e
sem maior expressão eleitoral, há outras candidaturas, na quase totalidade
situadas à esquerda, que igualmente concentram o ataque nos socialistas.
Todos estão "com
sangue nos olhos", dizem.
O que faz lembrar uma
"tese" que circulava aqui nos anos 80, segundo a qual campanha
majoritária vitoriosa haveria de conter sangue e lama.
Na terceira década do
século XXI e em estado historicamente politizado como Pernambuco, retroceder a
esse baixo nível de disputa seria lamentável. Pois mais do que nunca é
necessário situar o debate acerca de alternativas para o desenvolvimento de
Pernambuco no âmbito de um projeto de reconstrução nacional.
O país está
destroçado pelo desgoverno Bolsonaro. O Estado nacional fragilizado. A busca de saídas para tamanha crise há de repercutir aqui aplicada aos desafios próprios
da vida pernambucana.
Pois em que pese a integração
completa das economias regionais à condição de economia nacional una, desde
meados dos anos 70, persiste o recorte regional em qualquer projeto sério de
desenvolvimento do país.
Na hipótese de um
novo governo Lula, explorar plenamente o lugar próprio da economia instalada em
território pernambucano traduz-se em desafio e possibilidade.
Nesse cenário, será
possível elevar o nível do debate entre os contendores majoritários em
Pernambuco? Se houver vontade política, sim.
Iniciada a campanha propriamente
dita pós-convenções partidárias, que acontecerão entre julho e início de
agosto, veremos.
[ILustração: Tereza Costa Rêgo]
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