Quando mente e corpo
não se entrosam
Luciano Siqueira
Postei nas redes
sociais cenas da festa junina familiar. Muita gente viu e vários arriscaram um
comentário.
Pelo WhatsApp, a
pergunta curiosa:
— Você dança bem o
forró?
Ou o elogio falso:
— Gostei de ver seu
jeito animado na quadrilha!
Na verdade, não
dancei forró nem participei diretamente da quadrilha. Fotografei e filmei. Só.
Simplesmente porque
não levo jeito para tanto.
Essa incompetência me
acicata desde a adolescência. Nunca soube dançar, nem determinação suficiente
para superar a timidez que me impede, paralisa.
O fato é que dançar
propriamente não, mas participar da algazarra do carnaval no meio da multidão é
talvez a minha única experiência do que se possa chamar, mesmo rudimentarmente,
tentativa de mexer o corpo em sintonia com os acordes.
Na multidão o tímido
se resolve, já comentei isso em algumas crônicas. Então, ali no
vuco-vuco, subindo e descendo ladeiras de Olinda ou nas ruas do Recife Antigo atrás
de orquestras de frevo, quem vai prestar atenção a esse precário folião?
Leia também: 'Tantos
carnavais' https://bit.ly/3nkz7I4
Não tenho diagnóstico
preciso, nem jamais busquei junto a algum especialista minimamente afeito ao
tema... Mas é incrível a discrepância entre o meu prazer em ouvir música, me
deliciar com construções melódicas bem feitas e que tais e, ao mesmo tempo, a incapacidade
de traduzir com o corpo o que escuto.
— Você nunca se
matriculou numa escola de dança?
— Não.
— Por que?
— Não tive vontade,
ora!
E assim me encaminho
para o fim (que espero ainda demore bastante) da minha modesta existência sobre
o solo deste planeta alheio a essa manifestação física dos variados sentimentos
humanos, a dança.
Mas gosto de ver —
isso talvez me credencie pelo menos ao purgatório, ao invés da condenação inapelável
por tamanha incompetência.
[Ilustração: Heitor dos Prazeres]
.
Veja: A poesia em seus lugares e cores https://bit.ly/3BKdwhd
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