66%
dos brasileiros dormem mal e mulheres são mais afetadas, aponta estudo
Chegada da Covid afetou a qualidade do sono e 'igualou para
pior' ocorrência entre classes sociais
Matheus Moreira, Folha de S. Paulo
Um
estudo publicado na revista Sleep Epidemiology (Epidemiologia do Sono, em
tradução livre) indica que 65,5% dos brasileiros
têm sono de má qualidade. As mulheres são as mais afetadas: quando comparadas às dos
homens, as chances de dormir mal são 10% maiores para elas.
A
qualidade do sono é definida pela pesquisa por fatores como duração (falta ou
excesso), regularidade (interrupções durante a noite) e estados (leve, profundo
e REM). A satisfação pessoal com o sono também é considerada.
O
sono ruim compromete a retenção de informações e de memórias e causa
irritabilidade e cansaço, entre outros problemas.
Os
dados foram coletados entre os dias 16 e 30 de março de 2020, poucos dias
depois de a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar a pandemia de Covid-19.
A
iminência da alta de casos no Brasil, a possibilidade de lockdowns e o medo de
perder o emprego contribuíram para aumentar a ansiedade e depressão entre os
brasileiros, levando à piora do
sono,
segundo Luciano Drager, presidente da ABS (Associação Brasileira do Sono) e
professor da Faculdade de Medicina da USP.
Leia também: De volta à Idade Média https://bit.ly/3bAk6iT
Os fatores de risco são maiores para habitantes do
Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul. Viver em qualquer uma dessas regiões aumenta
em 12% a chance de ter pior qualidade de sono em comparação com a região Norte.
Quem mora nessa área, segundo o estudo, está mais protegido contra sono ruim.
"Para
nossa surpresa, a região Centro-Oeste é a que teve o indicativo de pior
qualidade de sono. O ritmo dos grandes centros, que nunca param, pode
influenciar. Por isso esperávamos que o Sudeste fosse a região com pior
índice."
Ser
jovem também é um fator de risco para dormir mal, devido a hábitos como uso
excessivo de celulares antes de dormir, consumo de café, energéticos e outros
estimulantes, além de
trabalho e estudo em ritmo acelerado.
Cruzando
fatores de risco, o perfil que se destaca é o da mulher jovem que vive no
Centro-Oeste. O homem que vive na região Norte é o perfil mais protegido contra
o sono de má qualidade.
Em
relação a rotinas, usar
celulares antes de dormir é outro fator que diminui a chance de uma noite bem
dormida. Atividades interativas como curtir fotos ou fazer comentários em redes
sociais deixam o cérebro em alerta e atrasam o sono.
Entre
os achados, chamou a atenção dos pesquisadores o que está relacionado a pessoas
que têm companheiros mas não dormem na mesma cama ou no mesmo cômodo.
"O
sono dessas pessoas é pior. Já sabemos que quando um parceiro tem um distúrbio
do sono ou ronca, o outro tem mais chance de dormir mal. Porém, dormir separado
também pode estar associado a piora do sono, o que nos leva a alguns
questionamentos", diz Drager.
Uma
das hipóteses levantadas é um problema de relacionamento. A dificuldade neste
caso se traduziria em estresse e ansiedade, afetando a noite de sono.
Os
pesquisadores também destacam o papel irrelevante da classe socioeconômica dos
voluntários nos resultados obtidos.
Dalva
Poyares, neurologista e professora da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) e membro da ABS, afirma que a chegada da Covid-19 "igualou para
pior" a relação entre a qualidade do sono e a classe socioeconômica
analisada.
"Um
exemplo é alguém de classe alta [A] que tem ou tinha seu negócio, mas passou a
ter medo dos riscos e imprevistos causados pelo vírus. A situação gera aumento
do estresse e queda da qualidade do sono."
COMO FOI FEITA A PESQUISA
A
pesquisa recebeu 2.635 respostas de voluntários com 18 anos ou mais ao
questionário PSQI (Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, em português).
O
PSQI é composto por 19 itens divididos em sete componentes que somam pontos de
0 a 3 cada. O resultado máximo do teste é 21 pontos. Quanto mais próximo de
zero for a pontuação de uma pessoa, melhor é o seu sono. Valores superiores a 5
indicam sono ruim.
Os
participantes responderam ao questionário online aplicado pelo Ibope
Intelligence. O resultado médio do PSQI brasileiro foi de 7,3, indicando que o
brasileiro dorme mal.
.
Veja: Em ambiente de instabilidade
tudo é possível https://bit.ly/3uEnGxa
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