03 julho 2022

Futebol: polivalência

Um bom meio-campo deve ter um atleta intenso e um criativo

Melhor ainda é ter De Bruyne, que faz tudo em um mesmo jogo
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Após dois anos e meio de pandemia, tirei uma semana de férias e me reencontrei com a natureza, com o verde, com o canto dos pássaros e com o mar. "A eternidade está no encontro do mar com o sol", disse Arthur Rimbaud.

A vida e o futebol continuam. No fim de semana, assisti a várias partidas. O Athletico, com Felipão, e o Inter, com Mano Menezes, dois treinadores que já foram rotulados de ultrapassados, vão muito bem no Brasileirão. As séries A e B mostram que treinador bom não tem nacionalidade nem idade.

A diversidade é essencial. Além disso, os times não ganham ou perdem somente –ou principalmente– por causa dos técnicos, embora muitos insistam em endeusar e em massacrar os treinadores nas vitórias e nas derrotas.

Vários gols, na última rodada, ocorreram após cruzamentos na área, como é habitual. O Atlético fez três gols pelo alto, na virada sobre o Fortaleza. É uma estratégia eficiente, desde que não seja a única nem a principal.

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Já o São Paulo, contra o Juventude, no empate por 0 a 0, cruzou mil bolas na área, sem sucesso, mesmo com Calleri, um ótimo cabeceador. As bolas eram mal cruzadas, muito altas e lentas. Enquanto isso, Reinaldo, excelente nos cruzamentos, ficou no banco de reservas durante toda a partida.

Pontas, alas ou laterais como Reinaldo e Arana não precisam receber a bola livres para fazer ótimos cruzamentos. Mesmo marcados, sem driblar, tocam para o lado e cruzam fortemente, de curva, com velocidade e a bola saindo do goleiro.

No empate do São Paulo, o jovem e promissor Nestor, mais uma vez, atuou por todos os lados, entrou na área várias vezes e só não jogou onde deveria, no meio-campo, vindo de trás, com a visão ampla do conjunto, de onde poderia construir as jogadas, dar ótimos passes e penetrar na área no momento certo.

A terminologia usada no passado para as posições de meio-campo, de ter um primeiro volante, camisa 5, um segundo volante, mais hábil, com a 8, e um meia-atacante ou ponta de lança, camisa 10, mesmo que hoje os números não sejam fixos, ainda é bastante utilizada por muitos treinadores.

Atualmente, na Europa, a formação mais usada é a com um volante mais centralizado, que protege a zaga e inicia as jogadas ofensivas, além de um meio-campista de cada lado que joga de uma intermediária à outra.

Hoje, valoriza-se mais o meio-campista que joga com intensidade do que o que joga com criatividade. Os dois são necessários. Jogadores como Ganso, de pouca intensidade, perderam o lugar.

Ganso voltou a atuar bem porque o Fluminense possui um treinador, Fernando Diniz, que tem uma visão ampla do jogo e se preocupa com o passe e com o domínio da bola. O ideal é ter, no mesmo time, um meio-campista intenso, como Kanté, e um criativo, como Pogba. Os dois se completam na seleção francesa. Melhor ainda é De Bruyne, que faz tudo em um mesmo jogo.

No empate entre Avaí e Palmeiras, vi, para minha surpresa, o meio-campista Jean Pyerre, ex-Grêmio. Ele entrou no time catarinense na metade do segundo tempo e fez um belíssimo gol de falta, pela curva, pela velocidade da bola e pelo toque na trave antes de a bola morrer na rede. Jean Pyerre saiu do Grêmio muito criticado pela falta de intensidade. Queriam que ele fosse um meia-atacante, para entrar na área e fazer gols.

Eu, que fiquei encantado ao vê-lo jogar as primeiras partidas pelo Grêmio, pela elegância e pelos toques e passes bonitos, recuperei a esperança ou a ilusão de vê-lo brilhar intensamente.

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