08 agosto 2022

Bons lances, bons jogos

Joguei ao lado de Pelé e fui entrevistado por Jô Soares

É o que falo quando quero me sentir importante
Tostão, Folha de S. Paulo


Quando quero me sentir importante, falo que joguei ao lado de Pelé e que fui entrevistado por Jô Soares. Dos personagens de Jô, o que mais gostava era o Reizinho. Outro era o Zé da Galera, que telefonava do orelhão para Telê, técnico da seleção brasileira, e dizia: "Bota ponta, Telê"!

Tempos depois, entrevistei, para a ESPN Brasil, o gênio da crônica, Luis Fernando Verissimo, mais tímido que eu. Em uma entrevista de Jô com Verissimo, ele disse: "Vi sua entrevista com o Tostão. Vocês começaram calados e terminaram mudos".

Independentemente das atuações e dos resultados das partidas de ontem, pelo Brasileirão, tivemos, no meio de semana, ótimos e importantes jogos pela Libertadores, que merecem reflexões. Nos próximos dias, conheceremos os classificados para as semifinais.

Corinthians e Flamengo mostraram diferentes modelos táticos, bem-executados, mas prevaleceu a nítida superioridade individual do Flamengo, embora os dois belíssimos gols tenham tido a colaboração de detalhes imprevisíveis, como o escorregão do zagueiro Balbuena e a batida da bola no braço do jogador do Flamengo, para ficar do jeito que Arrascaeta queria.

Enquanto Vítor Pereira seguia o rígido modelo europeu de ter, obrigatoriamente, jogadores pelos lados que atacam e defendem, Dorival Júnior escalou novamente os melhores para jogar onde preferem. O futebol comporta várias estratégias, desde que seja bem executado o que foi planejado e que haja atletas com talento.

No losango formado no meio-campo por Dorival Júnior, Arrascaeta é a ponta, próximo aos dois atacantes, onde gosta de estar, onde sabe jogar bem. Thiago Maia é a outra ponta, mais recuado e centralizado, e os dois meio-campistas, Éverton Ribeiro, pela direita, e João Gomes, pela esquerda, atacam e participam da marcação pelos lados.

Arrascaeta evoluiu bastante e, provavelmente, será um dos destaques da seleção uruguaia na Copa, embora, dificilmente, jogará na mesma posição em que atua no Flamengo, pois quase todos os técnicos não abrem mão de jogadores pelos lados, que atacam e que defendem.

Athletico e Estudiantes fizeram um bom e equilibrado jogo, empate por 0 a 0. O volante Fernandinho foi o grande destaque da partida, pelo talento, pela clareza, pela lucidez e pelos passes precisos. Ele, que era reserva no Manchester City, tem tudo para ser um dos craques do futebol no Brasil.

No Mineirão, o Palmeiras conseguiu um bom empate, depois de estar perdendo por 2 a 0, graças à competência do técnico, às jogadas ensaiadas, à força mental, à seriedade profissional e, principalmente, ao enorme talento nas cobranças de falta e de escanteio de Gustavo Scarpa.

O Atlético jogou tão bem quanto no ano passado e teve o domínio do jogo na maior parte do tempo. Cuca escalou a equipe do jeito que fazia, com dois pontas abertos, que marcam e atacam, e um meia pelo centro, Zaracho, próximo a Hulk.

Após a partida, um grande número de repórteres queria saber de Cuca a razão pela qual o Galo sofreu dois gols no fim. De acordo com as perguntas, cada um tinha uma resposta preferida, que poderia ser técnica, tática, emocional ou física. Cuca, com sabedoria e simplicidade, respondeu: "Tudo isso, mais o Palmeiras e outras coisas que eu não sei". Muitos ficaram frustrados pela resposta, pois queriam uma única explicação, a chave do enigma.

O futebol e a vida são complexos. Nós é que tentamos simplificá-los, com nossas racionalizações e pretensa sabedoria.

Leia também: Implacáveis marcas do tempo https://bit.ly/3noLqTH

Nenhum comentário:

Postar um comentário