O pomo da concórdia
Luciano Siqueira, Vermelho www.vermelho.org.br
Em ambiente de
acirrada disputa e de boas perspectivas de vitória do ex-presidente Lula,
várias são as vozes qualificadas que propõem a antecipação de detalhes
essenciais da correção de rumos a ser feita em nossa economia.
A ansiedade é
compreensível tamanha a dimensão da crise em que estamos mergulhados.
Não se trata de ocultar nada, até porque fundamentos essenciais do que se
pretende fazer estão postos tanto na plataforma apresentada pela federação
Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV), como na exposta, um pouco mais ampla, quando
do lançamento da chapa Lula-Alckmin.
Porém
o modus faciendi implica ter os pés no chão e considerar um conjunto de
variáveis internacionais e internas, que estarão postas nos primeiros dias de
janeiro.
Por exemplo, elevar a
taxa de investimentos públicos e privados, diminuindo o custo do crédito e
promover a reindustrialização nacional apoiada numa reforçada ciência e
tecnologia parece ser consensual. Mas quanto a
detalhes no que diz respeito à política fiscal e monetária, aos rearranjos
orçamentários necessários à recuperação imediata da capacidade de pesados
investimentos públicos em infraestrutura, nem tanto.
Leia
também: Lula-Alckmin e o gesto
taticamente contido: https://bit.ly/3A39tiS
Lembro-me
de quando Lula eleito pela primeira vez presidente da República, dias antes da
posse, almoçou com o prefeito João Paulo e membros de nossa equipe de governo e
alguns ilustres convidados, na Prefeitura do Recife. Num canto, conversávamos o
ex-ministro Armando Monteiro Filho, o então futuro ministro Cristóvão Buarque e
eu, a propósito da situação econômica de então.
Lula se aproximou, ouviu parte de nossa conversa e arrematou: "Vocês tem
razão. Sei que vou pegar uma economia em frangalhos. E não serei um De La Rua,
que tentou dar um passo além do tamanho das próprias pernas na Argentina e se
deu mal."
E a história registra os êxitos obtidos nos dois governos Lula quanto à gestão
da economia, ainda que — por carência de convicção ou de força real — não tenha
alterado no essencial os fundamentos macroeconômicos.
Qualquer detalhamento agora do que se deva e se deseje fazer tão logo o novo
presidente tome posse, poderia colocar à mesa, desnecessariamente, o pomo da
discórdia — quando estamos necessitando precisamente do contrário.
Confirmando-se a vitória de Lula, o breve período de transição definirá as
iniciativas concretas em seu conteúdo e em sua dimensão, em parte determinadas
pelas necessidades objetivas, em parte dimensionadas pela correlação de forças
real no interior do próprio governo, no Congresso Nacional e no conjunto da
sociedade.
Aí, quem sabe, seja possível inverter o sentido da expressão advinda da
mitologia grega e tenhamos, enfim, a necessária concórdia para o êxito.
Veja; Pedir o voto é um ato de cidadania https://bit.ly/3QUTNTT
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