18 setembro 2022

Futebol: craques dão o tom

Ordem no caos

Os grandes craques vão além do conhecimento científico, observam detalhes e buscam reinvenção
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Flamengo e Corinthians são os finalistas da Copa do Brasil. O São Paulo jogou bem nas duas partidas, tentou pressionar e marcar um gol no início, mas prevaleceu a maior qualidade individual do Flamengo. O time rubro-negro, mesmo sem meias pelos lados, que marquem e que ataquem, não fragiliza a marcação, porque os meias Éverton Ribeiro, pela direita, e João Gomes, pela esquerda, ajudam os dois laterais.

A estratégia do Corinthians, de pressionar no campo do Fluminense para recuperar a bola, e de transitar, com velocidade, de uma intermediária à outra, foi superior à do Fluminense, de aproximação e de troca de passes, para criar chances de gol. Dessa vez, Cássio não precisou fazer grandes defesas.

Vítor Pereira, após a partida, disse que essa é a maneira de jogar que desejava ver no Corinthians. Para isso, é necessário escalar mais vezes os melhores e não depender tanto do apoio da torcida. Grandes equipes são as que brilham dentro e fora de casa.

Amanhã é dia de Fla-Flu, pelo Brasileirão. Vão jogar os titulares? O Flamengo, mesmo sendo finalista da Copa do Brasil e da Libertadores, não deveria abandonar o Brasileirão, a competição mais importante de nosso futebol. As finais da Copa do Brasil serão apenas nos dias 12 e 19 de outubro, e a da Libertadores, no dia 29 de outubro.

O Fluminense, que tem um elenco inferior ao das principais equipes brasileiras, não pode se abater e deve lutar para ficar entre os primeiros do Brasileirão, para conseguir a vaga na Libertadores do próximo ano. O torcedor deveria aplaudir o time e o técnico, pelo bom futebol, na média das partidas, e pelas boas colocações no Brasileirão e na Copa do Brasil.

Depois de quase três anos de pandemia, estarei de férias por duas semanas, na tentativa de fortalecer a alma e o corpo. Vou perder o acesso oficial do Cruzeiro à Série A. Eu e vários leitores estamos cansados de minhas análises técnicas e táticas, de minhas filosofias de botequim, da importância que dou ao imprevisível e de minhas críticas à exagerada valorização dos treinadores, como se eles fossem sempre, com suas condutas, os grandes e únicos responsáveis pelos resultados.

Com frequência, não há correspondência entre desempenho e placar e entre a estratégia usada pelos treinadores e o que acontece em campo. Existem também outros fatos emocionais e inesperados que vão além do conhecimento técnico.

Após a época medieval, os iluministas achavam que a razão seria o único caminho para a sabedoria, que a natureza e todas as coisas tinham a lógica da matemática e que, somente pelo conhecimento científico e pela racionalidade, as pessoas seriam melhores e mais felizes. Não é bem assim. O imponderável continua importante na vida, no futebol e em todas as áreas, e as pessoas não estão tão felizes.

Os grandes craques, profissionais de todas as áreas, são os que, além do conhecimento científico, observam os detalhes e tentam reinventar o futebol e a vida e colocar ordem no caos.

O futebol repete a vida, na emoção, na razão, na paixão, na técnica e na simbolização.

O psicanalista Lacan dizia que a vida se passa em três níveis, o real, o simbólico e o imaginário. O real é a mistura dos desejos e dos instintos. Lacan falava que o real era impossível. O ser humano, para sobreviver e evoluir, sublimou, reprimiu os instintos e criou o mundo simbólico, da cultura e da civilização. Mas é preciso imaginar, sem perder a razão.

Veja: O teólogo cristão e a poeta: um gesto de confiança e de afeto https://bit.ly/3QKokTX

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