Eleições sofrem o impacto da realidade
paralela criada pelo bolsonarismo
Professor e pesquisador
João Cezar de Castro Rocha fala sobre as mazelas da extrema-direita
Ana Gabriela
Sales, Jornal GGN
O ensaísta
e professor titular de literatura comparada na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), João Cezar de Castro Rocha, explica o esquema de engajamento da
desinformação política adotado pela extrema-direita e seus impactos no pleito
presidencial no Brasil.
“A finalidade da
eterna guerra cultural da extrema-direita é aumentar a presença nas redes
sociais, com conteúdo abjeto, absurdo, pois essa presença pode se materializar
em votos, capturando o campo dos indecisos. Quando isso acontece de forma
vertiginosa? Na véspera das eleições“,
explicou o autor de “Guerra cultural e retórica do ódio” (Editora Caminhos), à reportagem do
Estado de Minas.
Segundo o
professor, o “Brasil é um laboratório mundial de criação metódica de realidade
paralela” que assiste à
consolidação das imposições da extrema-direita brasileira para a instauração de
um “Estado
totalitário e fundamentalista, do ponto de vista
religioso”.
“O que a
extrema-direita tem feito no plano da política é a despolitização do debate
público para avançar o projeto político totalitário – de eliminação completa do
adversário ou do outro que resiste – em algumas circunstâncias, mesmo
teocrático”, explicou.
O professor ressaltou que os conservadores nacionais compartilham das
mesmas estratégias de seus aliados da extrema-direita no mundo: “ uso das
plataformas de mídias digitais para a produção da dissonância cognitiva
coletiva, um Brasil paralelo, que fratura a espinha dorsal dos valores
verdadeiramente cristãos e democráticos” escreveu a jornalista Bertha Maakaroun.
“A extrema-direita está à frente em relação ao
campo progressista no que se refere à compreensão profunda da forma própria do
mecanismo do universo digital“, pontuou Rocha.
A partir
das ferramentas digitais a extrema-direita cria uma dissonância cognitiva
coletiva, “uma temível máquina eleitoral pela transferência para a política da alta
intensidade de engajamento das redes sociais. É um engajamento em torno da
desinformação e de teorias conspiratórias“.
“A inédita criação da
dissonância cognitiva coletiva deliberada, por meio de um conteúdo coordenado,
estrategicamente produzido para desinformar e fazer circular teorias
conspiratórias e fake news. O universo digital e as redes sociais
possibilitaram isso e não é casual o fato de que o principal instrumento de
divulgação da extrema-direita bolsonarista sejam as redes sociais e plataformas
digitais”, destacou o
professor.
“Hoje, no Brasil,
contamos com dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras que estão vivendo
na ilusão, estão realmente convencidos de todo conteúdo dessa usina de
desinformação”, completou. [Ilustração: Hector]
Leia também: Qual
o foco da campanha na reta final? https://bit.ly/3VSOVSB
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