23 junho 2024

Decadente gestão do futebol brasileiro

Futebol brasileiro patina na gestão de clubes e federações

Precisamos melhorar a produtividade, um problema nacional, da sociedade
Tostão/Folha de S. Paulo

 

Existe quase um consenso no futebol, em todo o mundo, o que é raríssimo, de que Manchester City e Real Madrid, dirigidos por Guardiola e Ancelotti, são os dois melhores times do planeta e os que dão mais espetáculo, coletivo e individual. Mesmo assim, com tantos elogios de outros treinadores, da imprensa, de torcedores e jogadores, são raríssimas as equipes que seguem as filosofias e as estratégias de jogo do City e do Real. Estranho! Temos que aprender com os melhores.

A única seleção, analisando Eurocopa e Copa América, que pressiona a maior parte do jogo, que tem mais o domínio da bola e espera o momento certo para acelerar em direção ao gol é a Espanha. Rodri é o centro médio, o maestro do City e da seleção espanhola. Se a Espanha tivesse um ótimo atacante finalizador, teria goleado a Itália na vitória por 1 x 0. 

A única seleção da Eurocopa e da Copa América que possui uma estratégia e um posicionamento tático parecido com o do Real Madrid é a Argentina. A diferença é que no Real existe, além do trio de meio-campistas e do meia ofensivo Bellingham, uma dupla de atacantes (Vini e Rodrygo). Na Argentina, são três meio-campistas, Messi entre os três e o centroavante e mais o ponta Di Maria, que alterna pelos dois lados.

A Argentina venceu o Canadá por 2 x 0. Scaloni já prepara a saída de Di Maria, que vai parar de jogar depois da Copa América. O técnico pode colocar um ponta veloz, driblador, ou usar uma linha de quatro meio-campistas, como fez no segundo tempo contra o Canadá.

Scaloni tem mostrado, principalmente pelo que fez na Copa, que é capaz de mudar com sucesso o esquema tático de várias maneiras de acordo com o momento do jogo.

O Brasil, que tem a dupla de atacantes do Real Madrid e poderia jogar de uma maneira parecida com a do Real, deve manter na segunda-feira (24) contra o Costa Rica os titulares dos amistosos e a mesma estratégia. É preciso dar boas condições para Vinicius Junior brilhar como no Real Madrid. No time espanhol, ele não é mais um ponta que volta para marcar nem centroavante. É um atacante que utiliza muito bem os espaços por todo o ataque.

Os nítidos e importantes problemas defensivos da seleção ocorrem porque há apenas dois jogadores que marcam no meio campo em um grande espaço e porque os zagueiros ficam distantes dos dois meio-campistas. Preocupados com a marcação, os dois do meio campo deixam de construir as jogadas e de avançar, tarefas também importantes para os jogadores desse setor.

A Inglaterra decepcionou nos dois primeiros jogos da Eurocopa. O seu dilema é parecido com o do Brasil. O técnico escala os quatro ótimos meias ofensivos e atacantes (Bellingham, Folden, Saka, Kane) e deixa apenas dois jogadores no meio campo, sendo um deles improvisado, o excelente lateral direito Alexander Arnold.

O futebol brasileiro patina, na organização e na gestão dos clubes e das federações. Dentro de campo, há um grande numero de ótimos jogadores e alguns excelentes treinadores, mas precisamos evoluir na qualidade individual e coletiva para aumentar as chances de ganhar a Copa do Mundo.

É necessário melhorar bastante a produtividade, um problema nacional, da sociedade. Como mostrou a Folha, pesquisa feita entre 2010 e 2023 revelou que a produtividade do brasileiro é um quarto da dos americanos, o que prejudica o desenvolvimento.

Precisamos aprender. Infelizmente, neste mundo radicalizado, binário, em que é "isso ou aquilo", as pessoas não escutam nem enxergam o outro. É a banalização da mediocridade.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/07/para-onde-vai-o-futebol-brasileiro.html

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