Governança em mar revolto*
Luciano Siqueira
Como conduzir a luta política no caleidoscópico tempo em que vivemos?
Parece pura abstração, mas não é.
Antes a imperiosa necessidade de se buscar formas e métodos que assegurem — do ponto de vista dos que almejam o avanço do processo civilizatório neste atribulado século XXI — a unidade de propósitos, coesão e capacidade de resposta em tempo real aos múltiplos desafios estratégicos e táticos que se expressam no cotidiano.
Vale para os partidos políticos e, guardadas as diferenças, vale também para governos como o liderado por Lula no Brasil.
Obviamente, há distintos partidos situados à esquerda, numa concepção ampla — que engloba os que em certa medida se batem pela soberania do país e pelos interesses fundamentais do povo.
Dentre eles a diferença se dá pela concepção programática.
O maior diferencial está na proposição de um novo projeto de desenvolvimento do país que, a um só tempo, supere entraves à construção da nação e produza condições objetivas para a elevação do padrão de vida material e espiritual dos trabalhadores e do povo, capacitando-os a almejarem o passo adiante, de caráter socialista.
Esse conceito rebate de maneira incontornável na absoluta necessidade de uma direção coletiva competente, coesa e ágil, infensa às pressões pela dispersão, dominantes hoje numa sociedade marcada por novas formas de comunicação e produção de bens e serviços, em que a tecnologia confunde a ação coletiva consciente.
Não se trata da mera repetição de formas e métodos, digamos, gerenciais que deram certo no passado. Mas implica necessariamente no exercício da direção coletiva.
Num partido como o PCdoB, uma necessidade vital, em todas as instâncias.
De modo diferenciado, mesmo sentido tem a evidente necessidade de um núcleo de
condução do governo federal, obviamente sob a inquestionável liderança do
presidente da República.
Parece ousadia excessiva de quem escreve essas notas breves e
despretensiosas.
Pois que sejam tomadas como provocação de militante que há décadas pôde
comprovar, pela experiência prática, que a liderança única e formas meramente
bilaterais de funcionamento do estado maior nunca deram certo.
De modo que o que há de ser
politicamente consistente, coeso e ágil torna-se de certo modo poroso e sujeito
às tormentas constantes do mar revolto.
Daí a palavra mal colocada, a iniciativa pouco consistente e a vulnerabilidade diante de pressões da base social, legítimas ou não; e dos ataques de poderosos inimigos cada vez mais ágeis, sofisticados e ardilosos.
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/03/minha-opiniao_14.html
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