De qual dispersão estamos falando?
Luciano Siqueira*
O mundo gira — e muda. E é preciso atualizar concepções e reinventar formas e métodos na luta por transformá-lo.
Mas, entre militantes partidários e lutadores em geral, há uma pressão subjetiva permanente em favor da mesmice e da repetição do que antes deu certo, mas agora nem tanto.
Uma espécie de reflexo do embrutecimento que ocorre no mundo da produção de bens e serviços – nas formas e métodos e recursos tecnológicos empregados para que as coisas sejam feitas e para a organização e o gerenciamento dos trabalhadores.
Um contexto em que tudo conspira em favor do individualismo e da superficialidade quanto à consciência dos indivíduos e ao modo como se comportam.
Isto em contraste com a feição multifacetada do proletariado de hoje — melhor dizer classe trabalhadora —, submetido à superexploração e à crescente exclusão das atividades produtivas, tanto quanto com a dramática necessidade de se reconhecer como classe e adquirir plena consciência do seu papel na transformação da sociedade.
O individualismo e a informação fracionada, superficial e instantânea dos meios digitais; a incapacidade de ouvir e de formar opinião coletivamente; a rejeição aos vínculos sociais com os mais simples e ao movimento a partir da base — conspiram em favor do imediatismo estéril na ação política.
E, como se dizia no século passado, isso acontece com as melhores famílias...
Ou seja, também com as melhores organizações da luta social e popular e mesmo com os partidos mais comprometidos com os interesses do povo.
Mas entre estes parece predominar uma perigosa resistência subjetiva ao reconhecimento do subproduto desse conjunto de fatores — a dispersão no modo de pensar e de agir.
E isso é grave, pois como bem advertia Lênin, o ponto de partida para a superação de erros e insuficiências é o reconhecimento de que existem.
No Brasil dos nossos dias, a um partido como o PCdoB, por exemplo, urge calçar a importante influência que exerce na chamada "grande politica" institucional com laços extensos e práticos com a classe trabalhadora e o povo.
E isto não se faz tão somente à base de proclamacões gerais (por mais bem formuladas que sejam, e têm sido), mas concretamente através do bom funcionamento coletivo de suas instâncias de direção (em todos os níveis) e de um retorno geral, concreto, prático e entusiasta de quadros e militantes ao convívio e à luta na base da sociedade.
Vale também para partidos coirmãos. Tanto que, recentemente, em encontro nacional do PT, Lula fez dramático apelo a um retorno às bases, questionando inclusive — no dizer dele — se "estamos falando o que o povo quer ouvir e se estamos dizendo as coisas de um jeito que o povo entende".
Cá entre nós do centenário e glorioso partido a que pertencemos, é desta dispersão que estamos falando — de modo fraterno, confiante e entusiasta.
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
Veja: A esquerda entre “identidade” e classe social https://tinyurl.com/ms3whve8
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