18 julho 2024

Palavra de poeta: Carlos Marighella

A vaga
Carlos Marighella   

De manso surge a vaga.
Vem de leve de uma ruga do mar que o vento ensaia
impelir e rolar. E rola e em breve
numa auréola de espumas cinge a praia.

E é majestosa e bela quer se eleve
expandindo-se toda ou se contraia,
erga-se em cristas brancas como a neve
ou rebramando escachoante caia.

Tal como a vaga é o meu amor por ti
férvido, impetuoso — o que eu senti
no coração com mais ardor vibrar.

Amor que de meus versos dentre a espuma
borbulha e se agiganta e se avoluma

como a vaga rolando sobre o mar.


[Ilustração: Marc Chagall]


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