A política com as cores naturais da vida*
Luciano Siqueira
Encontro casual em restaurante, no Recife Antigo:
— Olá, Dr. Luciano! Quanto tempo! O senhor é candidato?
— Prazer em revê-lo. Sou candidato não, participarei da campanha como militante. No Recife, já empenhadíssimo na pré-campanha para a reeleição da vereadora Cida Pedrosa, do meu partido.
— Então me explique esse troca-troca de uns que eram de um lado passarem pra outro e dos que estavam juntos e agora são do contra…
— Nada estranho, sempre aconteceu. A política é assim.
— Mas eu não entendo como amigos viram inimigos e inimigos viram amigos em tão pouco tempo.
— O povo não diz que o mundo dá muitas voltas?
— Mas fica difícil de compreender.
— Nem tanto. Cada eleição tem uma ‘pauta’, as pessoas e os partidos tomam posição sobre os assuntos dessa pauta, que às vezes são diferentes dos assuntos da eleição anterior. Então, concordâncias viram discordâncias e vice-versa.
— Quem decide essa pauta?
— A vida é que muda a pauta. E as pessoas podem mudar de opinião. Aqui e em qualquer lugar do mundo.
— Mas não fica uma mistura muito esquisita?
— Esquisita, não. As pessoas e os partidos se juntam por objetivos comuns, mesmo que sejam de curto prazo. A coerência está aí.
— Pra mim ainda é uma coisa muito confusa. E por que demoram tanto a se entender?
— Verdade, mas pior é reunião de condomínio, as pessoas dificilmente se entendem, não é mesmo?
— Humm... é isso mesmo.
A essa altura, nossos pratos feitos e nos dirigindo a diferentes mesas, tentei arrematar:
— Pois é isso amigo, a política é a face institucional da vida como ela é; e na vida as coisas nunca acontecem em linha reta. No meio do caminho muita coisa muda.
— Acontece... outro dia a gente conversa mais, tá?
— Será um prazer.
*
Em minha experiência militante, não há situação que o povo não compreenda, por mais complexa e até surpreendente que seja. Mas é preciso debater pacientemente.
Ruim é quando candidatos de campos opostos fazem de conta que mudar de opinião necessariamente significa incoerência e cobram uns dos outros por isso.
Pior: quem muda para o nosso lado, vale; quem muda para o lado oposto é execrado.
No confronto entre candidaturas para cargos majoritários (agora para os governos municipais), o debate deve se concentrar nas questões essenciais, programáticas e mais sensíveis à percepção do eleitor. Para estimular o voto consciente. O simples bate boca leva a nada.
*Texto da minha coluna semanal no portal Vermelho, nesta quinta-feira
Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html
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