A Venezuela, o óleo e a água*
Luciano Siqueira
A complexa a questão da Venezuela ensejou momentaneamente posturas distintas entre o governo brasileiro, pela palavra do próprio presidente da República, e partidos políticos que integram a coalizão governista — o PT e o PCdoB.
O
tema em si há que ser examinado tanto do ponto de vista do princípio da
autodeterminação dos povos, que implica em não ingerência nos assuntos internos
de determinado país; como sob o prisma geopolítico mundial.
É
fato que o regime bolivariano tem sido alvo de severas sanções econômicas impostas
pelos Estados Unidos e por países europeus, razão direta de muitas dificuldades
econômicas e sociais que enfrenta.
A
Venezuela dispõe das maiores reservas de petróleo do mundo (alvo da cobiça
norte-americana), juntamente com o Irã e a Rússia, e ainda padece de uma
economia fundamentalmente dependente da exportação do produto.
E
os EUA têm patrocinado diretamente a extrema direita venezuelana em sucessivas
tentativas de golpe.
O
presente pleito presidencial foi antecedido pela divulgação de pesquisas
distorcidas que anunciavam a provável (sic) derrota do presidente Nicolás
Maduro, precisamente para criar um clima favorável a nova aventura
golpista.
Nesse
contexto, se ao governo brasileiro cabe certa cautela, inclusive pelo papel que
o presidente Lula exerce no subcontinente sul-americano, diplomaticamente
proativo, aos partidos políticos cumpre pronunciamento próprio.
Isto
sob gigantesca a pressão midiática, na base da deturpação dos fatos e da
exaltação da execrável líder da extrema direita venezuelana, María Corina
Machado.
O PT agiu
corretamente ao reconhecer o resultado das eleições presidenciais, assim como o
PCdoB.
Demais, o caso
específico do Partido Comunista do Brasil implica na relação de amplitude e
independência no seio da ampla coalizão governista.
Desde 2012, quando o PCdoB passou a integrar o governo no primeiro escalão, ocupando a chefia do Ministério do Esporte no primeiro governo Lula, a 9ª Conferência Nacional partidária estabeleceu conduta política "propositiva e ao mesmo tempo crítica".
Não se trata de
se opor ao governo, obviamente, e sim de contribuir com opinião própria.
Dito de maneira
simplificada, o PCdoB integra as frentes democráticas e progressistas as mais
amplas possíveis, trabalhando pela unidade e ao mesmo tempo preservando a sua própria fisionomia, feito o óleo na água — juntos, mas não diluídos entre si.
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_11.html
Concordo com esse opinião! Não podemos nos pautar pela gde mídia refém e porta vozes do imperialismo decadente dos EUA.
ResponderExcluirTalvez tenha faltado esclarecer que, diferente dos partidos políticos, o governo deve considerar em suas avaliações os desdobramentos do seu posicionamento, frente as conjunturas interna e externa. Sabe que tem diante de si uma mídia hegemônica que já demonizou Maduro como ditador, ignorando as sansões impostas e o confisco criminoso das reservas cambiais, naturalizando estes crimes. E no plano externo seu posicionamento geopolítico. Precisa manter capacidade de diálogo com todas as partes envolvidas.
ResponderExcluirMuito bom texto, Dr. Luciano Siqueira.
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