Vozes
diferenciadas no arco-íris do governo Lula
Luciano
Siqueira*
Na política, como na vida, a ansiedade frequentemente atropela as palavras e o sentido das coisas.
Acontece
no seio das melhores famílias, ou seja, entre os combatentes mais aguerridos e
bem intencionados.
Por isso,
nunca é ocioso esclarecer: 1) o êxito do governo Lula é tarefa central de todas
as forças do campo democrático, popular e progressista; 2) propósitos e ações
do governo sempre e invariavelmente serão objeto de debate — seja pela sua
complexidade, seja pela ocorrência de compreensões diferenciadas sobre esses
problemas e suas possíveis soluções.
Isto
significa que o debate de ideias no interior do governo e no seu entorno é
essencial ao êxito do próprio governo.
Partidos
políticos que integram a frente ampla democrática e progressista liderada pelo
presidente Lula têm não apenas o direito, mas o dever de expressar suas
opiniões próprias.
No caso
do PCdoB — corrente política embandeirada da luta pela unidade da frente ampla
e pelo apoio ao presidente Lula —, essa questão se insere na concepção de que é
preciso, no âmbito das coalisões, exercer dialeticamente a relação entre a
unidade e a luta, entre empenho pela amplitude e a preservação de suas próprias
concepções.
Já em
1966, sob as condições absolutamente difíceis da ditadura militar, o PCdoB
praticava essa conduta tática ao propor, em sua 6ª Conferência Nacional, a
"União dos brasileiros para livrar o país da crise, da ameaça
neocolonialista e da ditadura".
No texto,
a explicitação clara da relação entre unidade e independência.
E, nas
décadas que se sucederam, essa conduta tática sempre esteve preservada.
Tanto que
em junho de 2003, por ocasião do primeiro governo Lula, do qual o partido
participou em nível de ministério, a 9ª Conferência Nacional adotou conduta
tática a um só tempo "propositiva e crítica", expressão atualizada do
compromisso inarredável com o êxito do governo de então, do empenho em sua
unidade e ao mesmo tempo expressão de opiniões partidárias próprias.
Opinar em
público sobre questões polêmicas obviamente não significa necessariamente a
crítica ou o combate ao governo; antes uma contribuição ao próprio governo, que
precisa da compreensão e do apoio do conjunto da sociedade e da classe
trabalhadora em particular.
No
arco-íris da frente ampla governista, o vermelho há de ser visto.
Este é o
ponto. Não cabe nessa questão misturar alhos e bugalhos. Nem inibições
despropositadas.
*Coluna semanal no portal Vermelho
Viver é mais do que existir https://bit.ly/3Ye45TD
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