Governo sob cerco, reagir é preciso*
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Governar o Brasil será sempre uma missão complexa, quaisquer que
sejam as circunstâncias — favoráveis ou não.
Luiz Inácio Lula da Silva, em seus dois primeiros governos, em boa
medida jogou a favor do vento. Fatores externos e internos articulados entre si
permitiram realizações importantes, tanto no que diz respeito aos pilares do
desenvolvimento econômico, como a adoção de programas sociais compensatórios de
largo alcance.
Não é exagero afirmar que na história da República foi
precisamente de 2003 a 2011 (com boa vontade é possível incluir também os primeiros
quatro anos da presidente Dilma) que mais se avançou no país na satisfação de
direitos sociais.
Agora, presidente pela terceira vez, Lula navega em mar
revolto.
Venceu o pleito presidencial por pequena margem e desde o primeiro
dia vive às turras com um Congresso Nacional majoritariamente conservador, onde
pontificam fortes bancadas de centro-direita e de extrema direita.
Não fosse a amplitude das alianças celebradas para a disputa
eleitoral não teria sido possível vencer.
Amplitude que tanto contribui, em certa medida, para as condições
de governabilidade; como também dificulta a adoção de matizes mais afirmativos
e mais claros em relação a questões cruciais.
O exemplo mais marcante é a ininterrupta quebra de braços com a
classe dominante hegemonizada pelo rentismo, centrada na
"obrigatoriedade" de um equilíbrio fiscal sob todos os títulos
dificultador da obra administrativa.
O poderoso complexo midiático dominante, comprometido
fundamentalmente com o capital financeiro e o grande agronegócio exportador,
exerce com sofisticada competência o papel ter partido político, a ponto de
pautar tanto o parlamento como o próprio governo.
A bola da vez é a pretensão do governo alterar alíquotas do IOF
(Imposto sobre Operações Financeiras): ao cartão de crédito/débito
internacional: de 3,38% para 3,5%; cartão pré-pago e cheques de viagem de 3,38%
para 3,5%; compra de moeda em espécie: de 1,1% para 3,5%; empréstimo externo de
curto prazo de 0% para 3,5%.
A Associação Brasileira de Bancos e a Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo puxam os protestos e determinam a oposição parlamentar.
O governo, na defensiva, resolve manter em zero a alíquota sobre
aplicação de investimentos de fundos nacionais no exterior, que iria para 3,5%,
e manteve a alíquota atual de 1,1% para remessas destinadas a investimentos.
A polêmica segue e os jornais anunciam que o presidente da Câmara,
deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) "determina" o prazo de 10 dias
(sic) para que o governo refaça sua proposta, naturalmente recuando em sua
essência.
Não é uma batalha qualquer. Há uma poderosa “operação de cerco e
aniquilamento” operada por poderosas forças, que tentam manter o governo acuado
até o próximo pleito, enquanto tentam viabilizar uma candidatura de
centro-direita eleitoralmente viável.
Aguarda-se uma posição mais clara do próprio presidente da
República, assim como uma atitude proativa na mobilização das correntes mais
avançadas da ampla frente governista e dos diversos segmentos que formam a sua
base social. Manobras táticas ágeis e focadas em fragilidades do poderoso
adversário para romper o cerco.
*Texto da minha coluna desta
quinta-feira no portal ‘Vermelho’ www.vermelho.org.br
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Leia também: Forças políticas ativas na frente ampla https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_27.html
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