27 abril 2025

Minha opinião

Convergentes, porém não diluídos entre si
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65

Óbvio que num país como o Brasil não é possível simplificar o embate de classes, nem reduzi-la à vontade subjetiva dos atores em cena.

Mas é certo também afirmar que a cena política não pode, nem deve, ser ocupada apenas pelo binômio governo versus oposição.

Melhor dizendo, além da ação governamental propriamente dita e do pronunciamento oficial acerca de questões tão candentes quanto complexas, lícito é cobrar a posição dos partidos que integram a coalizão liderada pelo presidente Lula.

Necessário e urgente em razão do cerco partidário à direita (apoiado no predominante conservadorismo na Câmara dos Deputados e no Senado) e do poderoso complexo midiático (ágil e permanentemente mobilizado em todas as plataformas), comprometido fundamentalmente com o capital financeiro e o agronegócio exportador.

Atores ativos

Em suma, a cena é ocupada por distintos atores chamados a exercer o seu papel.
Demais, são tantas as trincheiras e desafios que sempre será de bom tom não confundir os papéis. 

Sindicatos e demais entidades representativas da luta popular jamais poderão abrir mão de suas pautas específicas e da sua independência — mesmo que eventualmente isto signifique polêmica aberta com o governo.  

Governo é governo, movimentos sociais são movimentos sociais e partidos são partidos. Podem e devem se encontrar, porém sem se diluírem entre si. 

Como se sabe, amplíssima e diversificada é a coalizão que governa, com o contraponto sublinhado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin quando do anúncio da chapa no início campanha presidencial: o caráter da aliança é essencialmente político, resguardadas as diferenças na abordagem da economia.

Por esse crivo, óbvio que há e sempre houve discrepâncias no interior do governo de tal magnitude que reclamam postura ativa de todos os atores envolvidos.

Qual a perspectiva?

Impõe-se tanto a necessidade de realização da plataforma eleitoral com a qual o presidente da República se elegeu – apresentada pela Federação Brasil da Esperança -, como encarar as complexas contradições do mundo atual e como repercutem sobre o país.

Neste aspecto, no caso particular do PCdoB cabe lugar próprio na coalizão – detentor que é de concepção programática diferenciada que, no tempo presente, significa a luta por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento como meio de acúmulo de forças no rumo do socialismo; como aos demais partidos – o PT inclusive – no debate para além da agenda governista imediata.

Ora, impossível é compactar suficientemente forças avançadas à margem do debate estratégico. E na atualidade, mais ainda, sob pena de não mobilizar os trabalhadores e as demais camadas populares.

Ambiente minado

Persistente é a afirmação (insuficiente) de que parte das fragilidades do atual governo Lula está na comunicação ineficiente. E se sugere como meio de superação melhorar a propaganda institucional e o bom uso das redes sociais.

Pode ser, mas não só nem principalmente.

É preciso ter em conta a realidade objetiva sobre a qual evolui a subjetividade da classe operária e das massas do povo.

A dispersão na produção de bens e serviços tem dificultado a tomada de consciência de classe pelos trabalhadores. A partir mesmo da fragmentação do trabalho, seja pelo trabalho remoto, seja pela terceirização e pela subcontratação, seja ainda pela vivência de divisões entre os trabalhadores que conspiram contra laços de solidariedade.

Demais, o enfraquecimento dos sindicatos e demais organizações populares concorre para o baixo nível de mobilização, que persiste. E reclama novas formas de abordagem e de organização, considerando não apenas as “linhas de produção”, mas igualmente os territórios comuns a produtores de bens e serviços, trabalhadores informais, juventude estudantil, etc.

E avançar no bom uso da comunicação digital.

Em outras palavras, sem desprezar a experiência acumulada, encarar novas formas de debate, de organização e de luta.

Papéis distintos

Nessas circunstâncias, consiste em tremendo atraso a quase ausência de pronunciamento dos partidos que compõem a coalização governista, situados à esquerda.

Partidos devem ser atores ativos, mesmo que em determinadas circunstâncias, ao expressarem opinião própria, se diferenciem do governo que integram.

Em torno da macropolítica econômica na essência submetida aos ditames neoliberais, por exemplo.

Da parte do PCdoB, a chave para a exata compreensão da relação entre unidade e diferenciação, amplitude e independência, está precisamente na orientação tática formulada desde a 6ª. Conferência Nacional, realizada em 1966, aos dias que correm.

Quando da realização da 9ª. Conferência Nacional, em meados de 2002, início do primeiro governo Lula, se estabeleceu conduta tática “propositiva e ao mesmo tempo crítica”, fórmula adotada precisamente para assinalar a inexistência de contradição antagônica entre estar no governo e expressar opinião própria quando necessária no debate em torno de questões complexas e contraditórias.

Os sucessivos Congressos partidários têm reafirmado essa postura proativa.

Nó górdio a desatar

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva segue sob cerco cuja essência está na política macroeconômica, expressão precisa das determinações de cunho neoliberal dominantes.

Um dos principais entraves ao governo, condicionando-o às restrições fiscais, à política monetária, à dependência da exportação de commodities.

Para desatar esse nó, ao governo cabe mais ousadia – inclusive valendo-se de oportunidades novas em meio à desorganização comercial no mundo, decorrente da política tarifária dos EUA - e aos partidos voz ativa no debate público. Já.

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Leia: A militância nossa de cada época https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_29.html

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