Convergentes, porém não diluídos entre si
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Óbvio que num país como o Brasil não é possível simplificar o embate de
classes, nem reduzi-la à vontade subjetiva dos atores em cena.
Mas
é certo também afirmar que a cena política não pode, nem deve, ser ocupada
apenas pelo binômio governo versus oposição.
Melhor
dizendo, além da ação governamental propriamente dita e do pronunciamento
oficial acerca de questões tão candentes quanto complexas, lícito é cobrar a
posição dos partidos que integram a coalizão liderada pelo presidente Lula.
Necessário
e urgente em razão do cerco partidário à direita (apoiado no predominante
conservadorismo na Câmara dos Deputados e no Senado) e do poderoso complexo
midiático (ágil e permanentemente mobilizado em todas as plataformas),
comprometido fundamentalmente com o capital financeiro e o agronegócio
exportador.
Atores
ativos
Em
suma, a cena é ocupada por distintos atores chamados a exercer o seu papel.
Demais, são tantas as trincheiras e desafios que sempre será de bom tom
não confundir os papéis.
Sindicatos
e demais entidades representativas da luta popular jamais poderão abrir mão de
suas pautas específicas e da sua independência — mesmo que eventualmente isto
signifique polêmica aberta com o governo.
Governo
é governo, movimentos sociais são movimentos sociais e partidos são partidos.
Podem e devem se encontrar, porém sem se diluírem entre si.
Como
se sabe, amplíssima e diversificada é a coalizão que governa, com o contraponto
sublinhado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin quando do anúncio da chapa no
início campanha presidencial: o caráter da aliança é essencialmente político,
resguardadas as diferenças na abordagem da economia.
Por
esse crivo, óbvio que há e sempre houve discrepâncias no interior do governo de
tal magnitude que reclamam postura ativa de todos os atores envolvidos.
Qual
a perspectiva?
Impõe-se
tanto a necessidade de realização da plataforma eleitoral com a qual o
presidente da República se elegeu – apresentada pela Federação Brasil da
Esperança -, como encarar as complexas contradições do mundo atual e como
repercutem sobre o país.
Neste
aspecto, no caso particular do PCdoB cabe lugar próprio na coalizão – detentor
que é de concepção programática diferenciada que, no tempo presente, significa
a luta por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento como meio de acúmulo de
forças no rumo do socialismo; como aos demais partidos – o PT inclusive – no
debate para além da agenda governista imediata.
Ora,
impossível é compactar suficientemente forças avançadas à margem do debate
estratégico. E na atualidade, mais ainda, sob pena de não mobilizar os
trabalhadores e as demais camadas populares.
Ambiente
minado
Persistente
é a afirmação (insuficiente) de que parte das fragilidades do atual governo
Lula está na comunicação ineficiente. E se sugere como meio de superação
melhorar a propaganda institucional e o bom uso das redes sociais.
Pode
ser, mas não só nem principalmente.
É
preciso ter em conta a realidade objetiva sobre a qual evolui a subjetividade
da classe operária e das massas do povo.
A
dispersão na produção de bens e serviços tem dificultado a tomada de
consciência de classe pelos trabalhadores. A partir mesmo da fragmentação do
trabalho, seja pelo trabalho remoto, seja pela terceirização e pela
subcontratação, seja ainda pela vivência de divisões entre os trabalhadores que
conspiram contra laços de solidariedade.
Demais,
o enfraquecimento dos sindicatos e demais organizações populares concorre para
o baixo nível de mobilização, que persiste. E reclama novas formas de abordagem
e de organização, considerando não apenas as “linhas de produção”, mas
igualmente os territórios comuns a produtores de bens e serviços, trabalhadores
informais, juventude estudantil, etc.
E
avançar no bom uso da comunicação digital.
Em
outras palavras, sem desprezar a experiência acumulada, encarar novas formas de
debate, de organização e de luta.
Papéis distintos
Nessas
circunstâncias, consiste em tremendo atraso a quase ausência de pronunciamento
dos partidos que compõem a coalização governista, situados à esquerda.
Partidos
devem ser atores ativos, mesmo que em determinadas circunstâncias, ao
expressarem opinião própria, se diferenciem do governo que integram.
Em
torno da macropolítica econômica na essência submetida aos ditames neoliberais,
por exemplo.
Da
parte do PCdoB, a chave para a exata compreensão da relação entre unidade e
diferenciação, amplitude e independência, está precisamente na orientação tática
formulada desde a 6ª. Conferência Nacional, realizada em 1966, aos dias que
correm.
Quando
da realização da 9ª. Conferência Nacional, em meados de 2002, início do
primeiro governo Lula, se estabeleceu conduta tática “propositiva e ao mesmo
tempo crítica”, fórmula adotada precisamente para assinalar a inexistência de
contradição antagônica entre estar no governo e expressar opinião própria
quando necessária no debate em torno de questões complexas e contraditórias.
Os
sucessivos Congressos partidários têm reafirmado essa postura proativa.
Nó
górdio a desatar
O
governo de Luiz Inácio Lula da Silva segue sob cerco cuja essência está na
política macroeconômica, expressão precisa das determinações de cunho
neoliberal dominantes.
Um
dos principais entraves ao governo, condicionando-o às restrições fiscais, à
política monetária, à dependência da exportação de commodities.
Para
desatar esse nó, ao governo cabe mais ousadia – inclusive valendo-se de
oportunidades novas em meio à desorganização comercial no mundo, decorrente da
política tarifária dos EUA - e aos partidos voz ativa no debate público. Já.
[Se
comentar, assine]
Leia: A militância nossa de cada época https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_29.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário