Israel, EUA, Irã...: entre tréguas suspeitas, as guerras seguem matando indefesos
Enio Lins
UMA ESTRANHA TRÉGUA numa guerra tornada estranha não oferece muitas perspectivas de paz no horizonte, mas é o que se tem. Pelo menos matar-se-á menos gente nesses momentos de interrupção dos confrontos entre Israel e Irã. Entretanto, a matança de civis no Gueto de Gaza, tida como uma das motivações da guerra entre a teocracia iraniana e o neonazismo israelense, não foi aliviada em nenhum momento.
ESTRANHEZAS ESSAS menos pelo exagero das pantominas dos envolvidos, e mais pelo desconhecimento das bases para o cessar-fogo, e pelas bizarrices do confronto específico entre Irã e Estados Unidos. A imprensa internacional com acesso às fontes tem esquecido e/ou evitado de ir a fundo nesta questão. As duas derradeiras ações bombásticas entre Irã e EUA, foram esquisitas, digamos assim, embora o vocábulo “manipuladas” esteja na ponta da língua.
QUE ACONTECEU DE VERDADE no ataque estadunidense ao Irã e na “resposta” iraniana aos Estados Unidos? No ar, odores de armação: Trump, atendendo aos apelos de Bibi Netanyahu, entra na guerra entre Israel e Irã, e permite que a operação das temíveis aeronaves B-2 seja divulgada (em evidente aviso ao alvo), um dia antes do ataque, possibilitando ao alvo tempo para esvaziar-se do material mais importante. A operação é comemorada por americanos e aliados como “um tremendo sucesso” e “um dia histórico”. O Irã retalia com mísseis contra a principal base americana no Oriente Médio, mas antes avisa ao governo americano que iria atacar, quando e onde, possibilitando a neutralização do ataque sem quaisquer dores de cabeça. Uma inesperada trégua cai do céu de repente, é imediatamente rompida, e volta a valer em instantes.
NADA FOI MODIFICADO na correlação de forças entre Israel e Irã depois da participação-relâmpago dos Estados Unidos. Os iranianos, que não possuíam armas nucleares, seguem sem elas; o programa nuclear iraniano, único legalizado na região, vai adiante (segundo os próprios americanos) apesar de ter de consertar algumas de suas instalações. Os israelenses, que – ilegalmente – possuem armas nucleares, seguem com elas, e seu programa nuclear avança de vento em popa sem dar satisfações. O Irã segue sofrendo todo o tipo de sanção internacional, apesar de cumprir tudo que lhe é determinado pelas Nações Unidas. Israel, impunemente, segue descumprindo todas as recomendações da ONU. Telavive e Teerã continuam em estado de guerra, apesar da trégua. Como dantes no quartel de Abra ntes, Israel prossegue com imensa superioridade militar, e total desenvoltura, frente ao Irã e a todos os demais países da redondeza.
DURANTE O PERÍODO dos combates abertos, uma única novidade se amostrou: alguma vulnerabilidade do sistema de defesa de Israel, até então tido como “impenetrável”. Mas repito aqui o escrito há poucos dias: nenhuma estrutura estratégica israelense foi atingida, nenhum dano foi causado à sua estrutura bélica, nenhum militar importante israelense jamais foi alcançado. A reação iraniana foi digna, pois demonstrou um mínimo de irresignação diante de uma sequência de agressões israelenses que podem ser classificadas como crimes de guerra ou terrorismo. Deu uma grande demonstração de coragem ao reagir – por uma dúzia de dias – a um agressor com armamento muito superior, mas continua a ser a vítima nesse processo que, sistematicamente, tem assassinado dezenas de seus quadros militares e técnicos. O Irã impressiona pela capacidade de substituição de seus oficiais e cientistas assassinados por Israel, mas o fato é que apenas os israelenses têm matado, e nada indica que essa supremacia sicária vá mudar. Mas, enfim, cada lado (EUA, Israel, Irã) canta vitória, e nada mudou – especialmente para a população civil martirizada em Gaza, onde a morte virou esporte para os israelenses.
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Leia: Donald Trump e a hipermilitarização do espaço https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/trump-guerra-no-espaco.html
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