29 dezembro 2025

Minha opinião

Da rede tudo se ouve e se imagina

Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

Aqui na praia é hora de almoço. Postas à mesa no alpendre terrinas com feijoada, bobó, arroz, salada verde e outras iguarias, instala-se uma espécie de Babel em que todos comem e falam ao mesmo tempo. Quase que initerruptamente. 

— A cerveja está quente, bota gelo no copo!

— Ninguém mais toma Imosec para diarreia, está proibido pela Anvisa, sabia?

— Pode misturar bobó de camarão com feijoada? Vou experimentar, visse?

— Fui goleiro de futsal, ainda hoje tenho calos nas mãos, tá ligado?

— Bel já chegou em Muro Alto, sabia?

— Casamento bom é na Igreja. Pode até não durar, mas é bonito pra caraí!

— Veja essa foto de Mel, as quatro patas encolhidas e os olhinhos assustados... estranhando muita gente falando alto.

— Bom agora é que todo mundo fosse dormir até 5 da tarde, valendo?

— Qual foi a mentira maior que eu já contei?, pergunta o bebedor de cerveja, os olhos já esmorecidos pela semi-embriaguez.

Faz-se silêncio momentâneo. Parece que o dito cujo mente como quem respira.

Copo de cerveja à mão, voz embolada pelas hidroxilas, dispara o pretenso mentiroso:

— Gozado, ninguém acredita que já fui à lua!

À média distância, acomodado na rede, retorno à leitura de "O mapeador de ausências", de Mia Couto, e me deparo com a frase "Há coisas que não têm depois".

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Leia também: Sempre na superfície maledicente https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_22.html

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