Da rede tudo se ouve e se imagina
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Aqui na praia é hora de almoço. Postas à mesa no alpendre terrinas com feijoada, bobó, arroz, salada verde e outras iguarias, instala-se uma espécie de Babel em que todos comem e falam ao mesmo tempo. Quase que initerruptamente.
— A
cerveja está quente, bota gelo no copo!
— Ninguém
mais toma Imosec para diarreia, está proibido pela Anvisa, sabia?
— Pode
misturar bobó de camarão com feijoada? Vou experimentar, visse?
— Fui
goleiro de futsal, ainda hoje tenho calos nas mãos, tá ligado?
— Bel já
chegou em Muro Alto, sabia?
—
Casamento bom é na Igreja. Pode até não durar, mas é bonito pra caraí!
— Veja
essa foto de Mel, as quatro patas encolhidas e os olhinhos assustados...
estranhando muita gente falando alto.
— Bom
agora é que todo mundo fosse dormir até 5 da tarde, valendo?
— Qual
foi a mentira maior que eu já contei?, pergunta o bebedor de cerveja, os olhos
já esmorecidos pela semi-embriaguez.
Faz-se
silêncio momentâneo. Parece que o dito cujo mente como quem respira.
Copo de
cerveja à mão, voz embolada pelas hidroxilas, dispara o pretenso mentiroso:
— Gozado,
ninguém acredita que já fui à lua!
À média
distância, acomodado na rede, retorno à leitura de "O mapeador de
ausências", de Mia Couto, e me deparo com a frase "Há coisas que não
têm depois".
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Leia também: Sempre na superfície maledicente https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_22.html

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