07 novembro 2012

Tucano em dificuldade se mete no que não deve

Excesso de palpite sobre partido adversário
Luciano Siqueira

 
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

 
Como se fosse o confronto entre times de futebol em campeonato de longa duração: o que perde, e apenas resiste, alcançando um êxito aqui outro acolá, mas não evita a tendência decrescente, dá-se ao luxo de opinar sobre seus concorrentes mais diretos, sugerindo opções táticas. Ou seja: já que não consegue resolver-se a si mesmo, concentra atenção em assunto dos outros...

Assim acontece com o PSDB, pela voz de alguns dos seus próceres mais conhecidos. Do recém-eleito prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Deitam falação sobre como deve proceder o PSB, liderado pelo governador Eduardo Campos, agremiação vitoriosa em cinco capitais e importantes cidades de grande e médio porte. Os socialistas ficaram atrás apenas do PT, que dentre a larga base de sustentação do governo Dilma – amplamente vitoriosa no pleito – se destaca no pódio, sobretudo porque venceu na capital de São Paulo, derrotando o tucanato.

Tudo bem que nas hostes oposicionistas ainda é o PSDB que desponta como força mais saliente. Porém muito longe de se converter em alternativa de poder no País, não apenas pela insuficiente força acumulada, mas principalmente pela carência de discurso que vá além do suposto combate à corrupção.

O mais razoável seria o partido de FHC olhar para si mesmo, reavaliar mensagem e postura prática, definir um rumo. Incapaz de assim proceder, dedica-se ao ofício secundário de sugerir ao PSB alternativas que possibilitem a sonhada divisão das forças governistas, pela esquerda.

A tradição política brasileira, desde a Colônia, é marcada por conflitos acirrados, inúmeras vezes sangrentos; e por acordos. Assim se deu com a Independência, a Abolição, a República; na Revolução de 30 e na Redemocratização pós-Estado Novo; e, em tempo mais recente, na superação da ditadura militar que imperou de 1964 a 1985. Então, a construção de pontes entre forças situadas em campos distintos sempre foi, e é, natural e mesmo benéfica. Contribui para a transição de uma determinada ordem institucional para outra, mais avançada. Faz parte do jogo democrático. Dispensadas, porém, ilações precipitadas ao sabor de interesses momentâneos.

Claro que cabe aos socialistas fazerem suas escolhas. Em toda frente partidária, como na ampla e heterogênea coalizão que dá suporte ao projeto nacional liderado pela presidenta Dilma, ao lado da convergência de propósitos se preservam a autonomia e a independência de cada partido. PT, PSB, PCdoB e demais integrantes dessa frente terão que encarar, tendo em vista as eleições gerais de 2014, a opção de permanecerem conjugados ou não. Mas daí a engolir corda de tucano ou da grande mídia vai uma distância abissal.

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