30 junho 2013

A palavra do presidente nacional da UJS

No Jornal do Brasil, registro da opinião de André Tokarski, presidente nacional da União da Juventude Socialista, após reunião de que participou com o ex-presidente Lula, juntamente com outras lideranças jovens:

"No Brasil, estamos saindo às ruas para conquistar mais direitos, como a educação e o transporte de qualidade. Diferente da Europa, em crise, onde os jovens hoje lutam para não perder direitos já conquistados. A nossa luta é para o Brasil seguir em frente, continuar crescendo, distribuindo renda, incluindo milhões de jovens à educação formal. Mas à medida que se consolidam conquistas, queremos avançar mais", resumiu André Tokarski, presidente da União da Juventude Socialista.

Tokarski acredita que o Brasil possui uma energia democrática viva e forte, expressa na força que a juventude demonstra ao tomar as ruas e lutar pelos seus direitos. Com relação aos atos de violência cometidos por pequenos grupos durante os protestos, ele é bem direto:

"As manifestações de rua devem ser pacíficas e democráticas, todos nós dos movimentos jovens repudiamos as agressões cometidas pelas forças policiais aos manifestantes e a ação de uma minoria que foi às passeatas para praticar atos de vandalismo, ou mesmo agredir outros manifestantes."

Tokarski acredita que avaliação dos atos públicos é positiva, porque demonstra o aumentou no nível de consciência e exigência da juventude.

"No meio das pautas difusas, uma coisa é certa: a juventude quer ser ouvida e quer participar do processo de decisão das principais pautas do país. Isso se expressa na necessidade de realizar uma reforma política democrática no país. Fica evidente também o papel das redes sociais na convocação dos atos, na articulação de pautas e na conexão de pessoas nos quatro cantos do país e, claro, ao redor do mundo. É uma nova geração que sabe usar as ferramentas que as novas tecnologias propiciam para se comunicar, mas também para fazer política", considerou o presidente da UJS.
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Dados pesquisa merecem atenção

Leio no Valor Econômico que “a maior perda de popularidade da presidente Dilma Rousseff ocorreu dentro da camada mais pobre da população, indica levantamento do Datafolha publicado neste sábado pelo jornal Folha de S. Paulo. Entre aqueles que ganham até cinco salários mínimos, a aprovação despencou 30 pontos em relação à pesquisa anterior feita pelo instituto na primeira semana de junho. No início do mês, a gestão Dilma contava com 58% de respostas positivas nessa faixa de renda. Na nova pesquisa, só 28% dos brasileiros que ganham de 2 a 5 salários mínimos consideraram bom ou ótimo o governo. Entre os mais pobres, o índice de ruim e péssimo saltou de 8% para 25%. Já aqueles que consideraram o governo regular subiu de 33% para 44%.

No mínimo esquisito que assim aconteça, pois trata-se justamente da camada da população mais beneficiada pelas políticas públicas na década, inclusive no governo Dilma.

Este e outros aspectos da pesquisa devem ser analisados com atenção. Melhor ainda quando vierem resultados que se prevê semelhantes dos demais institutos de pesquisa.

A vida do jeito que é

Ainda o Recife
Marco Albertim, no Vermelho

Cena 1 - A lisonja do PM

O motoqueiro estendido na rua escassa de veículos, bem que é indício de que não há vítimas do acaso; com ou sem tragédia. A avenida Conde da Boa Vista é um sorvedouro. Não fosse o motoqueiro com a perna esquerda dobrada, presa pelos dois punhos das mãos, o cenário seria de desolação na nudez granítica do chão cinzento. Ele prende a perna para estancar a dor; não geme, inda que o rosto se retorça no ricto da agonia.

O PM mantém a superfície da ponta do coturno sob a bacia do motoqueiro, sobre um arremedo de tapete; supõe, o PM, que está aliviando o sofrimento do moço de bermuda desbotada, barba crespa e rosto curtido na exposição diária ao so l que incide no asfalto, nos paralelepípedos desordenados que dão acesso aos morros do Recife. Calma, rapaz... - repete o PM. Na voz, há um misto de ordem e censura. Em sua volta, ou em volta do acidente que pode ser o prelúdio de uma tragédia maior, há outros PMs e um ajuntamento ralo de curiosos. O militar não quer perder a chance de esfregar-se na lisonja - Eu já botei o tapete pra você não sentir dor. Calma...

A ambulância do SUS não tem dificuldade de acesso ao local. Os PMs seguem para o Derby, são absorvidos pela multidão de moços que ocupam um dos lados da praça. Não há agitação, ainda não há, só alguns apitos estridentes nas bocas de moços de bermuda, moças com shorts curtos, esfiapados nas bordas. Têm a cara pintada, alguns, um traço preto e outro verde em cada lado do rosto. Não estão expostos ao sol porque a sombra das palmeiras e oitizeiros da Praça do Derby, concede-lhes o conforto irrecusável de um convescote no protesto. O sorveteiro tem um ganho a mais; o pipoqueiro e o vendedor de água. O preço é um real mais salgado. Ninguém se queixa. Só o colorido de faixas e cartazes grita do mal-estar dos transportes, da precariedade dos serviços públicos.

Cena 2 - Um beijo e levantar acampamento

Encostado ao tronco da palmeira, ela com a nuca no colo do parelho, o casal se beija; dir-se-ia um gole profundo de línguas ao abrigo da curiosidade alheia, na proteção da estridência dos apitos.

Levantar acampamento! Não se ouve a sonoridade da ordem, só a bruma pardacenta das quatro da tarde instiga os moços a ocupar a avenida. A multidão segue rala a avenida Agamenon Magalhães; encorpa-se em frente ao Hospital da Restauração. Uma faixa branca com letras pretas indica o rumo da marcha - Vamos ao Centro de Convenções. Lá, o governador Eduardo Campos está despachando. Na frente da faixa, deficientes físicos, uns em cadeiras de rodas, outros segurando-se em muletas, erguem pequenas cartolinas com reivindicações próprias do segmento.

Feito uma cobra numa incursão cega, a multidão gritando desvia-se em cada uma das pontes do canal da avenida; quer ocupar os dois lados do canal. A patrulha de vinte PMs segue-a, caminhando na calçada entre o canal e o meio-fio. No viaduto da João de Barros, ocupa a margem esquerda. Do alto do viaduto sem trânsito de carros, os fotógrafos tiram proveito do ângulo em comprimento. Motoqueiros, como num camarote, refestelam-se na almofada do assento. Adiante, depois de ocupar a margem direita do canal, a marcha espera os profissionais de saúde que, de branco, descem o viaduto numa marcha própria. Incorporados à cauda da passeata, dão a impressão de que dez mil são donos da avenida.

Um moço, cujo rosto trigueiro é marcado por varíola cicatrizada, sorri à chance de protestar a seu modo. Um ônibus está parado na margem da avenida; os passageiros não reclamam da interrupção do trânsito. O moço expõe a animosidade anárquica, com bordoadas na lataria. Logo o major, comandante da patrulha, corre em direção ao moço; segura-o num dos braços; o trejeito é de quem vai quebrar a junta do braço com o antebraço. O moço esboça um riso contrafeito, não consegue se mostrar acima da dor. O major hesita vendo a bochecha imberbe do moço; empurra-o para longe do ônibus, tem o apoio dos manifestantes. Sem violência, grita um dirigente da UESPE, no comando de sua turba.

Minutos de pânico depois do cruzamento com a rua Odorico Mendes. São bombas, rojões estrondosos que dispersam parte da multidão. A patrulha da PM corre para cima. Pedras são atiradas por moços da localidade. Não há feridos. Ainda se veem no chão cinzas de colchões queimados; houvera, pela manhã, protesto por mais moradias.

Ao lado do viaduto da Tacaruna, a manifestação esbarra na barreira de policiais apoiados em gradis improvisados de ferro. Na retaguarda, o choque de cinquenta PMs, todos com escudos de proteção, fica à espreita. Não há como passar, não há como ter acesso ao Centro de Convenções. Dirigentes da UESPE negociam com o oficial comandante da barreira.

- Sinto muito - diz o oficial de baixa estatura, sem desígnios de truculência nos olhos.

A turba grita. A rua é do povo! O negror da noite não põe fim à inquietação juvenil. Do alto, no viaduto, as câmeras tiram proveito dos derradeiros lances.

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29 junho 2013

Baluartes

Eufrásio Elias e José Inácio (Zezinho): militantes do PCdoB nas ruas há mais de 50 anos, inspiram novas gerações na luta pelos direitos do povo.

Partido vivo

Ótimo debate na plenária de militantes do PCdoB que atuam nos movimentos sociais no Recife. Reforçando bandeiras históricas e atuais.

Descoberta

Subestimar as pessoas que foram às manifestações de rua pela primeira vez? Nada disso. Um passo para o despertar de uma consciência avançada.

O poeta sabe

O sábado é de Tom Jobim: “Fundamental é mesmo o amor/É impossível ser feliz sozinho...”

Convergindo para avançar

No Vermelho:
Partidos de esquerda criam Fórum para defender a democracia
 
Os dirigentes dos partidos de esquerda da base aliada do governo Dilma (PCdoB, PT, PSB e PDT) reuniram-se, nesta sexta-feira (28), na sede do Comitê Central do PCdoB para definir a estratégia diante da atual conjuntura política.

Em entrevista, Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, informou que a reunião inaugura a reativação do encontro dos quatro partidos. “O principal resultado desta reunião é a criação do Fórum Nacional em Defesa da Democracia e do Plebiscito. Um espaço que foi debatido e construído pelos quatro partidos presentes”.

Na oportunidade, foi consenso, entre os partidos, que será deflagrada uma campanha nacional pelo plebiscito. Além disso, já está agendada nova reunião para a próxima quarta-feira (3) em Brasília.

Questionado sobre qual o caráter do fórum, o dirigente comunista pontuou que “o espaço terá caráter consultivo, mais amplo. Está aberto a ouvir os demais partidos da base e as lideranças nacionais dos movimentos sociais e sindical. Ou seja, será um espaço de construção de uma ação comum entre as forças que compõem o fórum”.

Renato ainda frisou que a questão democrática é muito importante para os partidos. “O país vive uma situação de ampla democracia e pela posição da presidenta Dilma, dentro dos cinco pactos propostos por ela, um dos pactos mais importantes e que se traduz no plano político é a proposta do plebiscito. E por que é importante? Porque ouvir o povo significa ouvir as necessidades vividas por ele.”

O presidente do PCdoB explicou que no caso da reforma política, o Congresso sempre encontrou muita dificuldade para pensar uma saída para esta questão. “Entendemos a consulta pública como um espaço para que o povo possa se pronunciar sobre algumas questões balizadoras, para usar um termo da presidenta Dilma. Destacando que o plebiscito não é para entrar nos detalhes, mas sim para dar consistência ao processo”, ressaltou.

O dirigente comunista destacou ainda que o Fórum defende que a reforma política deve ter dois pontos centrais: financiamento para as campanhas e o sistema de representação. “Os partidos de esquerda concordam que a reforma política deve implementar o financiamento exclusivamente público das campanhas. E sobre o sistema de representação, os quatro partidos concordaram em defender o proporcional com listas, que serão definidas pelos partidos de forma democrática”, salientou.

Oposição teme a voz das ruas - Renato Rabelo destacou que “a posição ouvida e lida nos meios de comunicação só reflete a posição da oposição conservadora”. Ele esclarece que quem defende o referendo é, justamente, estes setores e alerta: “O referendo significa ao povo aprovar uma proposta de reforma política que será definida pelo Congresso, mas até hoje o Congresso não conseguiu firmar uma proposta para está questão”.

O dirigente questiona: “Por que não podemos ouvir a população para uma questão tão importante e que interfere na vida de todos? Por que temer? Os partidos entendem que o povo precisa ser ouvido e deve participar da construção desse espaço”, finalizou Renato Rabelo.

Agenda nacional nas ruas

O próximo capítulo
Eduardo Bomfim, no Vermelho

 
As manifestações estudantis, populares que vêm sacudindo o País resultaram no congelamento, redução das tarifas dos transportes coletivos em praticamente todas as cidades, deflagraram um processo político de intensa profundidade.

Na véspera da grande maré social que sacudiu a nação a linha da grande mídia hegemônica nacional vinha sendo pautada, de maneira alarmista, pelo “descontrole inflacionário em consequência dos gastos públicos do governo federal”, escondendo a sua verdadeira intenção: o retorno das altas taxas de juros visando a maior remuneração dos lucros do capital especulativo.

Quando eclodiram as passeatas essa mesma mídia hegemônica passou a incentivar a repressão policial contra os manifestantes notadamente em São Paulo e Rio de Janeiro mas logo entendeu que a luta em curso refletia forte insatisfação da sociedade com a mobilidade urbana, os serviços de saúde e a educação pública no Brasil.

O Planalto, governadores, prefeitos deram-se conta de que havia uma grave agenda nacional demandada pelos segmentos sociais especialmente os que compõem a maioria da população, secundarizada por uma nebulosa problemática multiculturalista global cuja gênese é auto justificável, mas transformada no alfa e o ômega das questões nacionais.

Iniciou-se daí uma batalha política, ideológica, campal onde grupos reacionários, provocadores tentaram canalizar a insatisfação social através do vandalismo, ódio aos partidos políticos, especialmente de esquerda, sindicatos, entidades estudantis, desestabilização dos movimentos sociais com o intuito de levar o País ao caos institucional. Caminhava-se para uma espécie de putsch ao mais clássico estilo nazifascista.

Os setores democráticos e patrióticos iniciaram a resistência nas ruas para buscar, ao lado do Movimento Passe Livre e outros, o caminho para as justas reinvindicações que foram incorporadas numa urgente agenda nacional proposta pela presidente da República sobre educação, saúde, transporte, contra a corrupção, um plebiscito sobre a reforma política.

Os grupos provocadores, a mídia reacionária vão tentar inviabilizar o avanço inadiável, gostam de pescar em águas turvas, não desejam a democracia. O próximo capítulo dessa novela arquitetada passo a passo, vai depender da permanente mobilização social, do nível de consciência do povo brasileiro em defesa do desenvolvimento, das mudanças exigidas pelo Brasil.

28 junho 2013

Pura poesia


A sexta-feira é de Jaci Bezerra: “A ternura retida/entre grades e muros/é paixão e cantiga/no alicerce maduro.”

27 junho 2013

Palavra de poeta

A quinta-feira é de Alberto da Cunha Melo: “quem sou eu,/minha classe perdida/para condenar/tua salada verde/tua falsa fome/de vida?”

Rumos da rebelião urbana

Iceberg de duas pontas
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Uma imensa insatisfação com a qualidade dos serviços públicos e um sentimento de rejeição a tudo o que aparece como expressão da política tradicional – eis as duas pontas desse gigantesco iceberg que surge e se espraia pelas ruas do País através de manifestações de protesto.

Pesquisas permitem uma síntese possível das bandeiras espontaneamente alevantadas nas manifestações, que coloca a saúde no pódio dos serviços públicos cuja qualidade é questionada, seguindo-se a educação, o transporte, a segurança e a assim por diante. Reflexo de uma defasagem real entre a demanda - que se expande em nossas cidades, na proporção em que, nos últimos dez anos, inúmeras e inquestionáveis conquistas têm sido acumuladas, na esteira da expansão das oportunidades de trabalho, do crescimento da massa salarial e do ingresso no mercado de consumo – a capacidade de resposta dos governos. Num cenário que ganhou forma em apenas cinco décadas – dos anos 30 aos anos 80 do século passado -, caracterizado pelos estudiosos como “explosão urbana”, as conquistas obtidas se traduzem, a um só tempo, numa dupla sensação: de possibilidade de melhora da qualidade de vida e da necessidade de melhorar mais ainda.

A novidade é que essa dupla sensação emerge com tamanha força, que extrapola os limites dos movimentos sociais organizados. Daí o paradoxo: as reivindicações que vêm agora à tona constam das pautas de sindicatos e centrais sindicais, entidades estudantis nacionais e locais, organizações populares comunitárias e entidades democráticas ocupadas com questões gerais que dizem respeito às condições de existência nas cidades; entretanto, boa parte dos manifestantes não as reconhece como preexistentes, nem se sente representada por tais organizações.

De outra parte, faz-se compreensível a rejeição a partidos políticos e detentores de mandatos, alvos de ataque intenso, sistêmico e continuado por parte da mídia nos últimos anos. À primeira vista, poucos escapam à percepção negativa por parte das multidões – e assim mesmo correm o risco de serem confundidos com os que efetivamente praticaram atos ilícitos e merecem a repulsa da população.

Mas se assim é, como está não vai ficar. Ou bem a onda de protestos ganha sentido conseqüente e se direciona para a busca de soluções reais a serem negociadas junto aos poderes públicos, ou mergulha na dispersão; ou, pior ainda, se deixa levar pelo canto da sereia da direita, na espreita e sempre pronta a conspirar contra a ordem democrática.

Em ouras palavras, segue em disputa o sentido e o rumo da explosão urbana, pondo em pólos opostos forças que historicamente se organizam e se movimentam em favor dos pleitos ora levantados versus correntes oportunistas de variados matizes que nada têm a oferecer, senão a regressão social e de direitos. O desdobramento depende de muitos fatores, sobretudo da capacidade de discernimento da grande maioria insurreta, que não pode ser subestimada.

26 junho 2013

Unir forças para avançar nas mudanças

No Vermelho:
PCdoB quer reunir aliados para lutar por reformas estruturais

Reunir os aliados e os movimentos sociais para reforçar a liderança da Presidenta Dilma e realizar mobilizações em torno das reformas estruturais, que já existiam antes da deflagração das manifestações de rua, com comando determinado e conteúdo progressista. Foram essas as proposta do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, aos membros da Comissão Política do Partido reunidos nesta terça-feira (25) em Brasília.

A reunião extraordinária foi convocada para discutir a situação do país diante dos últimos acontecimentos – as manifestações de rua e as medidas anunciadas pela presidenta Dilma Rousseff ontem na reunião com governadores e prefeitos das capitais.

“Ao fim e ao cabo prevalece quem tem mais organização, influência política e rumo definido”, garante Renato Rabelo. “Vamos reunir todo nosso campo político em torno de uma plataforma comum”, disse, sugerindo reuniões com o PT, setores do PDT e PSB e dos movimentos sociais, citando nominalmente o MST. Ele diz ainda que deve-se atuar mas redes sociais, onde se trava hoje a principal batalha da comunicação.

A nossa posição é de apoio à conduta política de Dilma de ouvir as ruas e atender as reivindicações de imediato. “Cabe à Presidenta Dilma a liderança política do país com clara demarcação de campo”. E ao PCdoB, fortalecer o governo e sua liderança e não entrar no redemoinho da crise de poder criado pela oposição e a grande mídia.

Segundo Renato Rabelo, “o aspecto importante a ser considerado na fase atual de pulverização de bandeiras e mobilizações é que devemos avançar nas nossas bandeiras programáticas que a própria Presidenta já colocou em debate”.

Passo adiante - As manifestações são dos que querem mais, que se levantam por direitos e um país melhor. Ao atingir novos patamares se criou novas necessidades. “As conquistas não podem parar e as mudanças devem continuar”. O PCdoB vem afirmando isso e que o passo adiante são as reformas estruturais.

“Quando vem a tona a questão das reformas estruturais mostra que as nossas reivindicações são justas e atuais”, disse o presidente do PCdoB, destacando que o Partido não precisa receber os louros agora que essas reformas estão sendo discutidas, desde que elas sejam realmente implementadas.

Na avalição do líder comunista, a alta aprovação do governo fez com que a Presidenta Dilma protelasse essas reformas. Renato Rabelo também citou o afastamento da Presidenta dos movimentos sociais e políticos como outro fator que retardou esses avanços. Para ele, é inadiável dialogar com os partidos que apoiam o governo e os movimentos sociais.

A avalição do líder comunista é de que a evolução no Brasil se dá a partir do embate entre as tendências conservadoras e as patrióticas, democráticas e progressistas que lutam por mudanças.

Ele criticou que em meio à disputa política com a aproximação do ano eleitoral setores do PT ou partidos da base lancem o movimento “Volta Lula”. “É um desatino”, afirma, lembrando que o momento é de fortalecer a liderança da Presidenta Dilma. O “Volta Lula” fragilizaria a presidenta e faria o jogo da oposição que se anima com as manifestações e tenta criar crise política de poder.

Ele lembrou que ao contrário do que quer a oposição e a mídia, eles não têm base nas manifestações que são fortes em São Paulo – reduto tucano -, criticam Aécio Neves e a TV Globo.

“A mídia que já vinha falseando informações sobre os megaeventos esportivos, procura incompatibilizar o povo com o governo atribuindo ao governo as despesas com as obras dos eventos. Os ministros do Esporte e da Fazenda foram a público dizer que não foram empregados recursos do governo nas obras e ressaltaram os benefícios que advirão desses eventos para o país e o povo”, disse Renato Rabelo.

Apoio dos comunistas - Ele também destacou a fala da Presidente Dilma diante das manifestações de rua. A Presidenta Dilma disse que a manifestação mostra a força da nossa democracia e que se deve usar essa energia para avançar nas mudanças. Segundo Renato Rabelo, a fala foi correta e recebe o apoio dos comunistas.

Ele disse também que o Partido apoia as medidas anunciadas pela presidenta e enumerou os cinco itens do pacto – responsabilidade fiscal, plebiscito de convocação de Assembleia Constituinte exclusiva para Reforma Política, combate à corrupção e melhorias nos setores de saúde, educação e transporte público.

Para o PCdoB, essas são as mudanças estruturais que venho sendo defendidas pelo Partido ao longo dos anos: fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), mais recursos para educação com aplicação dos royalties do petróleo no setor e melhoria no transporte público com criação do Conselho Nacional do Transporte Público.

Na avalição do presidente do PCdoB, o ciclo iniciado em 2003, com a eleição de Lula, já está superado, tendo o povo obtido conquistas e elevado sua consciência política e social nesses 10 anos. “O país respira democracia”, afirma Renato Rabelo.

E destaca que o PCdoB diz, desde o início das mobilizações, que elas são bem-vindas, tem que ser ouvidas, se empenhar para atender as reivindicações e rechaçar os atos de violência. No aspecto da violência, ele diz que ainda não se sabe se os atos de violência são praticados por saqueadores ou são conduzidos pela extrema-direita, já que houve manifestações contra os partidos políticos.

De Brasília, Márcia Xavier

25 junho 2013

O caminho para novas conquistas

Nas ruas com democracia e vitória
Jandira Feghalli, no Vermelho

Os milhares de tênis que marcham pelo asfalto das mais diversas ruas e avenidas das metrópoles brasileiras tem um objetivo. É injusto declarar que a multidão plural e diversificada não tenha princípios ao tomar as ruas, pois ela extravasa a angústia que está contida em muitas de suas famílias.

Os milhares de tênis que marcham pelo asfalto das mais diversas ruas e avenidas das metrópoles brasileiras tem um objetivo. É injusto declarar que a multidão plural e diversificada não tenha princípios ao tomar as ruas, pois ela extravasa a angústia que está contida em muitas de suas famílias. Os jovens, movidos inicialmente por bandeiras aparentemente simples, expressam, na verdade, desejos maiores de conquista em diversas áreas da vida cotidiana e que necessitam de respostas. São bandeiras múltiplas, difusas, por vezes de horizonte nublado, mas, sim, eles possuem um norte.

A sociedade se vê espremida em veículos de massa precários, tentando chegar de um ponto a outro da cidade, em engarrafamentos gigantescos e condições insalubres. Esse estopim também impulsiona a luta por superação de problemas nas áreas essenciais, como Saúde, Educação e ética na política. É como se um pequeno feixe de luz na caverna iluminasse todo o seu interior, mostrando que o buraco é, realmente, mais embaixo.

Contudo, é preciso salientar que a “rejeição” pela política partidária tradicional não misture trajetórias que a própria história aponta como contribuidoras da democracia e da luta pela emancipação do cidadão. Negação dos partidos e da política é a mais preocupante questão que grupos anárquicos tentam costurar no processo de mobilização do povo, num oportunismo para prática do vandalismo ou de negação dos poderes instituídos. As lutas vitoriosas do povo sempre foram suprapartidárias e amplas. A ninguém cabe tutelar a luta do povo e nem conseguiria. Mas excluir as entidades e partidos do que eles são corpo integrante e indissociável em plena democracia não é aceitável. Só a ditadura tentou fazê-lo.

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) há 91 anos, junto a outras organizações partidárias, traça caminhos que ajudaram na derrubada do regime militar, que restituíram a democracia brasileira, o direito ao voto, a liberdade dos movimentos sociais, populares, o direito à diversidade humana e o próprio direito de ocupar as ruas como fazemos hoje.

É necessário isolar os que se utilizam das massivas correntes de solidariedade e lutam para gerar depredações e violências, desmascarar também grupos fascistas pagos, que agridem os próprios manifestantes e militantes de partidos e movimentos sociais, como também a ação indiscriminada e violenta do aparato policial.

Nos últimos dias, os governos de diversas capitais e estados suspenderam os aumentos de tarifas de transportes marcando a primeira vitória do Movimento Passe Livre. No entanto, é preciso avançar mais. Os diversos governos precisam dar novas respostas, como também o Parlamento brasileiro, em conjunto com o governo Dilma Rousseff. É preciso, agora, construir uma pauta mais clara e objetiva que signifique vitória nacional da juventude e do povo trabalhador que está nas ruas lutando por um momento novo no Brasil. Não seremos pautados pela grande mídia.

Aprovar mecanismos e projetos que democratizem a comunicação, garantir imediata ampliação de recursos para Educação e Saúde devem estar no alvo imediato de todos nós.

A democracia e a liberdade de expressão, bens maiores de todos nós, devem ser preservados!

* Deputada federal pelo PCdoB-RJ

24 junho 2013

Ouvindo a voz das ruas

No Vermelho:
Dilma propõe pacto nacional e plebiscito sobre reforma política
. A presidenta Dilma Rousseff apresentou cinco itens para o pacto que propôs aos governadores e prefeitos das capitais com quem se reuniu na tarde desta segunda-feira (24), no Palácio do Planalto. Ela sugeriu a convocação de um plebiscito popular de um processo constituinte para fazer a reforma política. “O Brasil já está maduro para avançar em uma reforma política que amplie participação popular e os horizontes da cidadania”.
. E alertou para a necessidade de que se rompa o impasse que faz com que o tema da reforma política entre e saia da agenda do país várias vezes. Ao reafirmar que a reunião convocada por ela é um reflexo das manifestações de rua ocorridas nas últimas semanas em várias cidades brasileiras, a presidenta disse que trazia propostas concretas e disposição política para construir o pacto.
. Além da reforma política, ela propôs ainda responsabilidade fiscal para garantir o crescimento econômico e o combate à inflação; combate à corrupção de forma mais contundente do que está sendo feito e ampliação dos investimentos para melhorar os serviços públicos na áreas de saúde, educação e transporte coletivo.

A vida do jeito que é

Recife continua invicta
Marco Albertim, no Vermelho www.vermelho.org.br

Cena 1 - O seio está quase à mostra

Depois de escrever a reivindicação que mais convém à musicalidade de seus ouvidos, a moça empunha a cartolina com os dois braços. Um vento sopra na marquise da esquina da rua Gonçalves Maia; sopra para desalinhar os curtos e finos cabelos em sua cabeça roliça. No balanço de seu corpo, o decote do vestido desabre-se sem controle.


O seio esquerdo fica quase à mostra; túrgido, tropical, com o bico tão redondo quanto uma moeda. Parece a revolucionária da Comuna de Paris; numa mão, a bandeira vermelha; noutra, o fuzil. Convém não citar seu nome, convém dizer que é tão moça quanto o viço da União dos Estudantes de Pernambuco. Dois de seus confrades têm na mão um saco plástico com tubos de tinta em spray.

- Livrem-se disso. A UEP não concorda em sujar as paredes com tintas no spray.

A censura da militante é tão enérgica que toda a sua roupa se recompõe, como para dar conta da moral do bulício promissor da tarde. Os dois moços entreolham-se, não se livram dos tubos de tinta. Recolhem-se a um canto da marquise, sentam-se na frieza dos canos de ferro que separam as bombas de gasolina da loja de conveniência.

As cartolinas colorem-se com o calor de demandas escritas. Uma vintena de estudantes, com bochechas e narizes pintados de verde, de amarelo, espera o sinal para seguir a multidão, ainda rala à altura das duas da tarde. No estacionamento do posto, outros cinco moços apeiam-se do Fiat cinzento. Têm uma sacola com tintas; pintam-se sem esconder o gestual feminino. A vaidade gay mistura-se aos cartazes com censuras ao deputado Marcos Feliciano.

A duzentos metros dali, na rua Gonçalves Maia. Uma patrulha de vinte PMs protege a frente do consulado americano. Três viaturas de cor negra compõem o cenário. Gays e militantes da UEP não lhes dão atenção. A patrulha se mantém absorta, prosaica.

Cena 2 - A prenhez da estudante

Às quinze horas a avenida Conde da Boa Vista esvazia-se de carros, de ônibus. Moços com cartazes, apitos, percorrem-na como para sorver a ausência do risco de serem atropelados. As lojas, com exceção da loja do posto, point de moços notívagos, estão com as portas cerradas, muitas com tapumes. No Derby, a praça está ocupada por milhares de moços. O trânsito na avenida Agamenon Magalhães é interrompido; dos raros carros, os ocupantes acenam para a multidão. Ouvem-se, aqui e ali, os estampidos de rojões. Um motorista desce do ônibus sem a pressão da multidão; não há susto em seu rosto. A Associação de Praças e Bombeiros monta uma barraca, arrecada donativos para as vítimas da seca. No meio da ponte, sentados no asfalto, rapazes com cabelos à moda rastafári, fazem circular de boca em boca a grossa bituca de liamba; o odor mistura-se à inhaca que sobe da lama do canal. Uma patrulha de quinze PMs está na esquina da avenida Carlos de Lima Cavalcanti; sobre a farda, num dos antebraços, portam uma fita branca com uma legenda: PAZ. .Cinco marginais tentam tomar o celular de uma mulher. Ela grita, chora com desespero no rosto lívido. Manifestantes, um grupo deles, conseguem agarrar dois dos ladrões e os entregam à polícia.

Indiferente ao tumulto, a prenhez de seis meses, exposta, da estudante, exibe em letras vermelhas - Quero uma nova vida. O rosto e as pernas estão intumescidos, encorpam a multidão que protesta feliz.

Cem mil pessoas arrastam-se lentamente rumo ao centro do Recife; a avenida lhes pertence. As patrulhas da Polícia Militar olham-nos prosaicas, sem indícios de que a força militar é maior que a multidão na ruas. Uma dezena de militantes do PSTU aproxima-se do primeiro cruzamento da avenida. Manifestantes apupam-nos. A polícia põe-se no meio, separa-os sem empurrões. Ouve-se na pouca altura o ruído do helicóptero da Globo. Vaias. Mais alto, o helicóptero da Polícia Militar monitora o rumo da marcha.

Às 19 horas, também a avenida Guararapes é ocupada. Na Praça da Independência, a polícia prende ladrões que fazem arrastão; ouve o aplauso da multidão. Na margem do rio Capibaribe, em frente à Assembleia Legislativa, a calçada formiga de PMs. Uma rala multidão zumbe na rua da Aurora. Dali em diante, por toda a noite, vazando a madrugada, todo o gradil de ferro do Palácio da Justiça enxameia-se com faixas e cartolinas; dir-se-ia uma noite de novena sem o sussurro de rezas.

Recife dorme convencida de que permanece invicta.

Sobre os que temem assumir suas opiniões

A covardia do anonimato
Francisco Cunha, na revista Algomais


É lugar-comum o entendimento de que a internet é o espaço da ampla democracia, onde todo mundo pode se manifestar livremente, praticamente para todo o planeta. Pura verdade. A blogosfera e as redes sociais são um avanço inacreditável, em especial para alguém como eu que é do tempo em que não existia nem televisão por aqui... Todavia, o lado dark dessa força monumental é o uso do espaço para manifestações anônimas e, como tais, covardemente protegidas da contestação, condição essencial para o debate democrático.

Esse é o caso no Recife do blog “Prefeito Lucena” que, usando o disfarce do humor, se esconde atrás do biombo do anonimato para investir contra o “urbanismo” e os “urbanistas” da província. Não tenho nada contra o humor nem sou a favor dos urbanistas, apesar de ser diplomado neste ofício pela UFPE. Muito pelo contrário, até.

Todavia, tenho tudo contra a covardia do anonimato, sobretudo quando usado como pretexto para agredir de forma grosseira e difamar pessoas e instituições escolhidas a dedo. Mais ainda, tenho absolutamente tudo contra a covardia de usar o pretexto do humor de má qualidade e do anonimato para tentar ridicularizar ideias expostas a favor da vital reinvenção da cidade do Recife como foi feito em relação a mim, à TGI e à Algomais (instituições sérias que tive a honra de ajudar a criar e tenho a honra maior ainda de integrar) e a outras pessoas e instituições que têm insistido em expor e debater ideias novas neste dramático momento pelo qual passa a cidade.

Minhas ideias bem, como aquelas que tenho a honra de relatar ou comentar, indicando a autoria, como as do projeto O Recife que Precisamos, alvos da tentativa de ridicularização, as exponho abertamente e com assinatura aqui nesta Última Página, bem como são alvo de reportagem na Algomais. Além disso, tenho perfis públicos no Twitter e no Facebook, abertos e assinados. Quem não concorda comigo ou com as ideias que exponho pode e deve discordar publicamente, seja nos perfis, seja na Algomais que, praticando o que preconiza sua Missão, sempre publicou todas as opiniões contrárias recebidas, desde que assinadas, evidentemente.

Há que se distinguir muito claramente o que é humor assinado, ainda que escrachado (tipo Casseta & Planeta, Porta do Fundos, o nosso Pa-pafigo ou o pai de todos que foi o Pasquim), da tentativa de ridicularizar pessoas, organizações e ideias seletiva e anonimamente, por motivos inconfessáveis como são todos os que estão por trás

de cartas, telefonemas, e-mails ou blogs anônimos. O Recife precisa, mais do que nunca em sua história, do debate franco e aberto sobre o futuro. Se não fizermos assim, vamos perder a nossa cidade (tenho certeza absoluta disso). Precisamos, agora, sobretudo, da democracia do debate aberto e não da ditadura do anonimato covarde.

22 junho 2013

Descoberta

O sábado é de Janice Japiassu: “de tudo que era teu me encantava/teu pranto, teu encanto, teu deserto/de tudo que era meu, nada sabias”

Desigualdade e luta

Realidade e paradoxos
Eduardo Bomfim, no Vermelho www.vermelho.org.br


Graciliano Ramos, mestre da literatura mundial, ilustre alagoano, comunista, dizia que no Brasil existe uma minoria de opulentos, uma classe média instruída e na base da sociedade uma maioria de gente vivendo como bichos, reduzidos à luta pela sobrevivência, levando uma vida ordinária.

Porém o Brasil mudou e de lá para cá, com altos e baixos, percalços de todos os tipos, especialmente nos últimos anos houve a incorporação de imensa parcela da população a patamares mais elevados de vida com acesso a bens de consumo antes inimagináveis.

Segundo estatísticas a chamada classe C é composta atualmente por cem milhões de trabalhadores denominados, talvez equivocadamente, como a nova classe média brasileira.

O Brasil cresceu economicamente, transformou-se substancialmente mas é sabido que quanto mais se melhora de vida mais aumenta o nível de aspirações e a consciência da realidade social em que se vive.

A questão de fundo sobre as gigantescas manifestações estudantis, populares no País é que apesar dos avanços a realidade brasileira continua profundamente desigual, injusta para com as grandes maiorias. O recado que vem das ruas não é contraditório com aquele que veio das urnas mas indica um paradoxo evidente.

Não é aceitável que uma nação possua a segunda maior frota de helicópteros particulares do mundo e tenha um sistema de transportes público de péssima qualidade num País hoje essencialmente urbano onde as maiorias levam horas para chegar ao trabalho e tantas horas iguais para retornar aos seus lares.

Não é necessário pertencer aos estratos mais populares para constatar as condições em que a população é submetida nos serviços públicos de saúde mesmo que a existência dele já seja uma conquista num mundo que avança para a sua privatização a passos largos. Idêntico diagnóstico acontece com a educação ou segurança pública.

Os atores políticos, as instâncias governamentais em todos os níveis priorizaram as relações institucionais mas ficou debilitada a organização social massiva, programática, identificada com os reclamos mais profundos da sociedade brasileira.

Quanto aos desdobramentos das manifestações, sabe-se que em política não existem espaços vazios, mas cabe aos segmentos políticos avançados extrair as lições exatas dos acontecimentos e apresentar um renovado projeto social estratégico, patriótico, consequente com a urgência que a realidade exige.

21 junho 2013

Dilma na TV: a voz das ruas, o diálogo e o compromisso com a Nação

Agência Brasil: A presidenta Dilma Rousseff prometeu chamar os governadores e prefeitos das principais cidades do país e os líderes das manifestações populares para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, Dilma anunciou que as ações do governo terão três focos.

O primeiro será a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo. O segundo é a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação, proposta que está em discussão no Congresso. Para melhorar a saúde, Dilma prometeu trazer mais médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com a presidenta, o vigor das manifestações pode ser aproveitado para que sejam tomadas medidas que beneficiem a população e já começaram a produzir resultados, como a redução das tarifas de ônibus em diversas cidades brasileiras.

“As manifestações desta semana trouxeram importantes lições. As tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor das manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira”, declarou.

A presidenta citou a trajetória de defesa da democracia durante a ditadura como motivo para levar as reivindicações em consideração. “A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada e não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros”.

Dilma disse ainda que não deixará de combater a corrupção. “Sou a presidenta de todos os brasileiros. Dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática. Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de dinheiro público. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão”

A presidenta prometeu ainda conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes, governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. Ela anunciou ainda que pretende receber os líderes das manifestações pacíficas, representantes de organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores e das associações populares.

Corredores exclusivos

Implantação de 40 km de corredores exclusivos para ônibus em cinco importantes avenidas da cidade - Mascarenhas de Morais, Abdias de Carvalho, Beberibe, Conselheiro Aguiar e Domingos Ferreira – é a parte que cabe à Prefeitura do Recife no pacote de iniciativas destinadas a melhorar a mobilidade na Região Metropolitana do Recife, anunciadas pelo governo estadual.  

Palavra de poeta

A sexta-feira é de Pablo Neruda: “Tu és total e breve, de todas és uma,/e assim contigo vou percorrendo e amando...”

20 junho 2013

Luta e paz

No Recife, belíssima manifestação de cidadania, combatividade e paz – em sintonia com a melhor tradição de luta dos pernambucanos.

Opinião sensata

. Sensata e bem posta a avaliação do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, das manifestações de rua que ora se espraiam pelo País. Ele considera que tornam o Brasil mais forte e que as vozes serão ouvidas para promover os avanços desejados. Mais: neste instante, o respeito ao Brasil no exterior é muito grande e continua sendo.
. Patriota entende que os protestos resultam dos avanços já conquistados pela sociedade brasileira, como o aumento da inserção na classe média. “Isso é em função, em grande medida, do fato de que houve avanços importantes da sociedade brasileira, que permite aos jovens e aos outros manifestantes terem outras aspirações e essas aspirações, sendo legítimas, o governo tentará atendê-las”, disse.

Por resformas estruturais

No Vermelho:
Movimento social nas ruas pelas mudanças que o Brasil precisa
. Com o objetivo de dar continuidade às lutas, a juventude volta às ruas de São Paulo e em outras capitais, nesta quinta-feira (20). Em entrevista ao Vermelho, Carina Vitral, presidenta UEE-SP, falou o quão simbólico foram as manifestações pelo Brasil e sinalizou que a luta continua. “Agora as ruas serão tomadas para cobrar, entre outras bandeiras, uma educação de qualidade, a reforma política, a reforma da mídia”.
. Leia mais http://migre.me/f6J7d

Uma crônica minha de abril de 2006

Batismo de fogo no Atheneu
Luciano Siqueira



Para o menino de apenas onze anos, aquilo tudo era absolutamente inusitado. E empolgante. Naquela manhã de muito calor, estava difícil mesmo acompanhar a chata aula de matemática do professor carrancudo de sotaque gaúcho. O colégio int

A massa de estudantes se deslocou inicialmente para a Praça Pedro Velho e depois para o Grande Ponto, “o coração da cidade de Natal”, como se dizia à época. Aos gritos de “Queremos transporte” e “Abaixo as novas tarifas” instalamos a algazarra. A presença da polícia militar acirrou os ânimos. Ônibus da São Domingos foram apedrejados. A polícia reprimiu. Ora nos dispersávamos, ora nos concentrávamos novamente, em movimentos alternados que duraram até o final da tarde, quando o governador do Estado, Dinarte Mariz, recebeu uma comissão de estudantes no Palácio Potengi. Após as negociações, a grande notícia: as tarifas não seriam aumentadas!


Em meio à alegria geral, uma sensação nova, quase indescritível – a descoberta do primoroso sabor da luta coletiva. E outra, que igualmente marcaria o menino para o resto da vida: a multidão reunida em torno de um objetivo comum é ótimo refúgio para os tímidos.


Só não protege os mentirosos. Pois ao chegar em casa à noitinha, dona Oneide angustiada porque o filho demorara tanto (deveria ter retornado do colégio por volta do meio-dia), o jeito foi uma história mal contada. Por que assim tão queimado do sol, o corpo suado e sujo? Tinha batido uma pelada com os primos na casa da tia Ivete. Porém, no dia seguinte, na primeira página do Diário de Natal, a foto de um garoto magrinho, calça escura e camisa branca, um fumo no ombro esquerdo (sinal de luto pela morte recente do pai), arremessando uma pedra num ônibus punha por terra a falsa versão...

Daí em diante lutar tornou-se a própria razão de viver. E a ação coletiva uma estratégia de sobrevivência, não apenas pelas bandeiras alevantadas ao longo da vida, mas como meio de escamotear a timidez insuperável que permanece impregnada na alma e no jeito de ser.

Ficou também o orgulho de ter sido aluno do velho e aguerrido Colégio Estadual do Atheneu Norte-Riograndense. A lembrança do grêmio estudantil Celestino Pimentel. Impressões difusas sobre os líderes daquele movimento. Um deles atendia pelo apelido de Pecado. A tênue consciência imatura, no entanto, não fixou as idéias que defendiam – apenas a noção de que aquela luta não fora em vão, alcançara êxito. Belo batismo de fogo para quem jamais sairia das ruas, até hoje.

Pressão de massas benéfica

Editorial do Vermelho:
Vitória das mobilizações populares mostra que vale a pena lutar

O anúncio feito nesta quarta-feira (19) da redução das tarifas do transporte público de São Paulo e Rio de Janeiro é uma incontestável vitória do movimento juvenil e popular que durante quase duas semanas tomou conta do país em combativas e amplas manifestações de massas. Outras capitais - Cuiabá, João Pessoa, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife e Vitória - já tinham anunciado a redução do valor da passagem do transporte coletivo.

Igualmente, sob o impacto da gigantesca mobilização popular, o Senado anunciou para a próxima semana a votação de projeto de lei - em tramitação há quatro anos - que prevê desoneração fiscal para fins de redução das tarifas de transportes urbanos.

O recuo dos prefeitos Fernando Haddad (SP) e Eduardo Paes (RJ), com os respectivos governadores estaduais (Alckmin e Cabral), foi demonstração de sensatez, diante da evidência de que a obstinação em falsos argumentos tecnicistas aferrados na lógica fria das planilhas de gastos num quadro de capitulação aos princípios da austeridade, só levaria a maior oposição e à radicalização dos protestos nas ruas. Nas declarações que emitiram ao anunciar a volta atrás, os governantes municipais e estaduais de São Paulo e do Rio de Janeiro ainda insistiram em afirmar que a revogação dos aumentos afetará negativamente os investimentos e a alocação de recursos em outros setores sociais.

É um tema a debater, até porque os efeitos práticos desta concepção e desses argumentos podem motivar outros protestos.

É necessário destacar que embora o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo tenha ficado abaixo da inflação, a alta acumulada da tarifa nos últimos anos foi bem superior à evolução geral dos preços, situando-a num valor excessivo para a maioria dos usuários.

Quanto aos custos decorrentes da revogação do aumento, por que não cogitar a redução da margem de lucros do patronato? O próprio prefeito paulistano afirmou durante a reunião do Conselho da Cidade que o empresariado é quem menos contribui para bancar o preço de produção do transporte na capital paulista. Para além disso, desde que se fuja da ótica da austeridade, é possível encontrar meios e modos de realocar recursos e mudar a lógica das desonerações fiscais. O próprio Movimento do Passe Livre tem dado sugestões que não deviam ser desdenhadas, como foi a atitude inicial das autoridades.

A vitória alcançada pelas mobilizações populares é uma demonstração de que vale a pena lutar. Uma das conquistas mais preciosas do povo brasileiro ao derrubar a ditadura há quase 30 anos e ao superar os governos neoliberais, há uma década, foi exatamente o direito de lutar. Construir um país mais democrático, soberano, uma nação forte e progressista não prescinde da mobilização e da luta popular, que no caso das recentes manifestações, foram capazes também de derrotar a arrogância e a repressão policial-militar.

Certamente, ao fazer o balanço da luta e das conquistas, as lideranças serão capazes também de examinar a condução política e os métodos empregados no movimento, diferenciando-se de minorias provocadoras, cujos atos violentos são prejudiciais à população e ao patrimônio público.

A mobilização popular em torno da reivindicação de reduzir as tarifas dos transportes urbanos trouxe à tona uma enorme insatisfação que se espraia no país com as difíceis condições de vida, a precariedade dos serviços públicos de saúde e educação, com a insegurança em face do aumento da criminalidade, apesar das inegáveis conquistas sociais da última década. A corrupção e o desperdício de dinheiro público também despertam a justa revolta da população.

Tudo isso demonstra que entra na ordem do dia a luta por reformas estruturais democráticas para atender os justos reclamos populares e avançar na luta para construir um país democrático e justo, com progresso social.

Mensagem

A quinta-feira é de César Leal: “a rosa a flor a dália o lírio a rosa/as riscas da tulipa (quem as fez?)/o que o poema esconde não se informa”

Pela paz

Manchetes dos 3 principais jornais de Pernambuco ótimas: estimulam presença na manifestação de rua de hoje em clima de paz.

19 junho 2013

Fator de aceleração da tranformação social

Bem-vinda a voz das ruas
Luciano Siqueira

 

Na presente década, iniciada com a assunção de Lula à presidência da República e pelo início da transição da ordem vigente a um novo projeto de nação, a possibilidade de expressão da vontade popular por meio de demonstrações de rua esteve relativamente amortecida. O volume de novas conquistas sociais progressivas e o crescimento econômico com expansão do emprego e valorização da massa salarial e a concretização de inúmeras bandeiras reivindicatórias alevantadas pelo movimento estudantil e outros segmentos condicionaram, naturalmente, a mobilização de rua a alcance relativamente restrito.

Verdade que assalariados estiveram nas ruas muitas vezes, liderados pelas centrais sindicais; estudantes universitários e secundaristas, a convite da UNE, da UBES e entidades estaduais e municipais; moradores das periferias urbanas, arregimentados pela Conam e organizações de bairro e de luta pela moradia; trabalhadores rurais, pelo MST e sindicatos, idem – pugnando por suas bandeiras específicas articuladas as com questões cruciais para o desenvolvimento do País, como a política de juros e demais fundamentos da política macroeconômica. Porém sem jamais atingirem o nível das mobilizações espontâneas verificado nos últimos dias, que se espraiam por todo o País.

Tirante atitudes irresponsáveis de grupos minoritários, a quase totalidade dos manifestantes expressa democraticamente sua insatisfação em relação aos preços das tarifas dos transportes urbanos e, de modo algo difuso, contra os elevados investimentos na construção dos estádios de futebol para a Copa do Mundo, espécie de senhas para outras reinvindicações, de cunho geral ou local, que também vêm à tona.

Que assim seja, pois na medida em que o caráter espontâneo e difuso do movimento dê lugar a um formato consciente e direcionado poderá fixá-lo como elemento novo na cena política nacional – fator de pressão pela aceleração das mudanças de maior envergadura, rumo ao alargamento da democracia e de mais conquistas sociais. E, assim, pesar decisivamente para uma assimetria favorável entre as forças que efetivamente batalham por essas transformações no confronto com as que resistem e desejam o retorno ao ultrapassado  modelo de financeirização da economia e de restrição de direitos.

Mãos unidas

A quarta-feira é de Adalberto Monteiro: “O futuro/- ensinaste-me -/nossas mãos unidas/vão arrancando,/vão talhando,/esculpindo, polindo,/na rocha bruta,/áspera
adversa/do presente.”

Palavra do presidente do PCdoB

A voz do povo deve ser atentamente escutada e respondida
Renato Rabelo


As manifestações juvenis e populares que se ampliam e se estendem por todo país têm um motivo - uma causa social. Para o PCdoB a questão democrática se entrelaça com a questão social. Por isso, para o avanço democrático é precioso e auspicioso conhecer através de largas manifestações - por serem mais autênticas - o que clama e atormenta parcelas significativas do nosso povo.

Muitas vezes são razões maiores que se acumulam, vindo à tona através de reivindicação aparentemente simples. A luta contra os preços das tarifas dos transportes urbanos e o descontentamento contra os elevados investimentos na construção dos estádios de futebol são manifestações agudas e de um grande estresse vivido pela maior parcela da população dos grandes centros urbanos no Brasil.

As cidades em nosso país cresceram rapidamente, sem conseguir contar em tempo com estruturas adequadas para responder a essa galopante transformação, provocando assim uma concentração de graves problemas sociais - tornando-as inóspitas para seus habitantes - sobretudo para os que vivem nas suas periferias. O estalar desses acontecimentos que se espraia pelo país afora tem o sentido de uma alerta, de um extravasamento das reais condições da vida nas cidades, sendo um dos grandes problemas, na sequencia de muitos, que ocupam agora a ordem do dia e devem ter prioridade e serem enfrentados.

Defendemos que os governos realmente democráticos e comprometidos em garantir o avanço social - os governos em que estamos à frente, ou dele participamos - têm o dever de buscar saídas para começar a resolver os graves problemas urbanos. Uma solução de fundo que se impõe, defendida pelo Programa do PCdoB, é a concretização de uma Reforma Urbana, que possa estabelecer um plano integrado para o desenvolvimento, renovação e humanização das cidades. É uma exigência que se avoluma.

De imediato, medidas para enfrentar o urgente problema habitacional - que tem forte impacto nos centros urbanos - já foram deflagrados pela presidenta Dilma Rousseff por meio do programa de grande dimensão,
Minha Casa Minha Vida, que vem cumprindo significativo papel no financiamento de moradias populares. Também através do PAC 2 são muitos os projetos em andamento para solucionar impasses estruturais de mobilidade urbana em grandes centros nas capitais. Mas vai se impondo como uma questão candente a resposta para a edificação de um sistema e o financiamento dos transportes de massa, de qualidade nos centros urbanos, que permita a locomoção dos seus habitantes sem necessitar do uso constante do automóvel.

O PCdoB se empenhará - por meio da sua influencia no movimento social e da sua participação e relação com os governos democráticos - na busca emergencial de medidas que encontrem já soluções para reduzir os preços das tarifas dos transportes urbanos e para maior eficácia das redes de transporte coletivo. Neste momento é necessário um esforço conjugado que reúna os governos Federal, estadual e municipal no caminho de encontrar uma saída de como responder a esses sentidos anseios.
*Renato Rabelo é presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

18 junho 2013

Movimento pode avançar

O movimento nas ruas reflete o cansaço da maioria da população diante de graves problemas urbanos que vêm se acumulando ao longo dos anos. Defende direitos do povo. É legítimo e oportuno. A participação e o apoio é muito importante para que obtenha conquistas reais. Aos governantes comprometidos com o povo cabe respeitar a voz das ruas e buscar soluções possíveis em curto, médio e longo prazo. Assim se constroem mudanças mais avançadas na sociedade brasileira. É a minha opinião.

O dever de participar do movimento nas ruas

Editorial do Vermelho:
O povo nas ruas, a defesa da democracia e de direitos sociais


Na última segunda-feira (17), em diversas capitais do Brasil ocorreram manifestações juvenis e populares para protestar contra os aumentos das tarifas de ônibus, metrô e trens urbanos.

Marcadas pelo espontaneísmo e combatividade, os protestos soaram também como grito de alerta para diversos problemas sociais que afetam a vida urbana nos dias atuais. O movimento, cujo início parecia ser mais um protesto contra o alto preço e a péssima qualidade dos transportes públicos em São Paulo, fruto de desastrosas administrações municipais e estaduais, começa a extravasar o objetivo inicial e ganha um sentido político que não tinha.

As manifestações desta segunda foram também uma contundente resposta à violência policial-militar desencadeada contra as demonstrações anteriores, sobretudo em São Paulo, onde a Polícia Militar sob as ordens do governador neoliberal e conservador do estado, parece estar em guerra contra o povo. Há muito tempo não ocorria tamanha violência contra manifestantes: ação da tropa de choque que usou e abusou das chamadas armas não letais – balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral. A tropa ensandecida desmandou-se em agressões físicas deixando um saldo de centenas de pessoas feridas. As manifestações evoluem para a demonstração do repúdio à repressão, à arbitrariedade da PM, pela defesa da Constituição, da democracia e pela garantia do direito de manifestação em local público e aberto. Este é o sentido político que vai ganhando corpo e mobilizando milhares de pessoas que, cada vez mais, demonstram sua indignação. A defesa destes direitos é fundamental para a democracia.

A compreensão política da população avançou nestes dias em que a polícia, cuja função deveria ser a manutenção da ordem e da segurança dos cidadãos, se notabilizou como o principal fator de desordem.

Igualmente, a sequência de manifestações contra os aumentos das tarifas dos transportes e pela melhoria da sua qualidade deve servir de lição para os titulares de administrações municipais eleitos por partidos de esquerda e respaldados pelos movimentos sociais. Fora das instâncias de poder a esquerda é porta-voz do grito das ruas. No poder, não pode ser insensível a este, deve-se obrigar a auscultar o povo. Fechar-se em Palácio sob o argumento de que não dialoga enquanto os manifestantes não deixarem as ruas é um método estranho ao modo de governar democrático e popular.

As manifestações, inicialmente convocadas pelo Movimento do Passe Livre, têm contado com a presença maciça das organizações estudantis e juvenis, a começar pelas prestigiosas UNE e Ubes e suas correlatas nos estados e municípios, o que só adiciona força e credibilidade à que originalmente possui o Movimento do Passe Livre. Observa-se ainda a presença das juventudes partidárias de esquerda, o que também imprime conteúdo político e ideológico ao movimento.

Por outro lado, as forças de direita, a partir dos meios de comunicação, que estão dando amplo espaço à divulgação das manifestações, mostram-se interessadas em instrumentalizar o movimento espontâneo como massa de manobra para fins oposicionistas e desestabilizadores em relação ao governo da presidenta Dilma Rousseff. Pescam em águas turvas, fazem analogias com movimentos sociais de outras latitudes e propõem artificialmente outras bandeiras de luta funcionais aos seus interesses.

Os partidos de esquerda que dão sustentação ao governo da presidenta Dilma Rousseff, assim como os movimentos sociais dirigidos por militantes desses partidos, têm no novo momento inaugurado pela mobilização social uma oportunidade de mobilizar o povo em torno de bandeiras amplas e justas, próprias de uma plataforma de esquerda, que propiciem a unidade popular para fazer o país avançar no rumo do aprofundamento da democracia e do atendimento das reivindicações populares.

A praça é do povo

A terça-feira é de Castro Alves: “A praça é do povo!/como o céu é do condor"./É o antro onde a liberdade/cria águias em seu calor.”

Força das ruas

Rebeldia reivindicatória faz bem à democracia. Sempre. Nação brasileira é historicamente construída pela força do povo.

17 junho 2013

Palavras

A segunda-feira é de Drummond: “Penetra surdamente no reino das palavras./Lá estão os poemas que esperam ser escritos.”  

Multilateralismo

Correta a presidenta Dilma ao reafirmar sua posição de que as relações comerciais brasileiras têm solução se encaminhadas nas esferas multilateral, regional ou local, ao invés da celebração prioritária de acordos bilaterais de livre comércio. Este é um dos pilares de nossa política externa, que vem obtendo êxito.

16 junho 2013

Impulso

O domingo é de Sergio Cohn: “é isto/que nos precipita/numa pespectiva afetuosa/de tudo”

A vida do jeito que é

Gil Vicente
O torturador
Marco Albertim, no Vermelho

 
Uma dúzia de mesas se espalha sob a marquise. O dono do restaurante é gordo, tem a obesidade própria de quem trata o corpo com desleixo. A mulher, sua esposa, tem a mesma idade: quarenta e cinco anos e vincos precoces de velhice na palidez do rosto. A filha, com pouco mais de vinte anos, guarda no rosto a suavidade própria da idade.

A barriga é intumescida; ela a exibe como um troféu legítimo depois do casamento às pressas. O filho de cinco anos corre entre as mesas; seu bulício a ninguém incomoda; é a trilha sonora de que carece a pachorra do cenário.

A família se distrai com a inquietude do menino. O freguês que está do lado mantém-se impassível. Ele é baixo, tem os cabelos escorridos, negros, feito uma moldura na amarelidão do rosto vincado de anos. Em cada sorvo que faz no cigarro, há a zombaria de quem se persuade de que o câncer é doença de pobre; não de quem acionou o gatilho de uma metralhadora, deixando uma dezena de suados camponeses estendidos na piçarra entre o canavial. A cerveja, para ele, há muito perdera o gosto de fel próprio do temor de sofrer uma vindita. Não por disparo de arma, mas de um golpe de peixeira na jugular, fazendo escorrer seu sangue também escuro, com o mesmo cheiro que ele sorvera com repulsa, na piçarra juncada de mortos. A cerveja, para ele, é um brinde à anistia que também o beneficia.

Ele não ri. Chamam-no Geraldo; o nome é apropriado porque tem semelhança com geraldino, frequentador da geral. Geraldo tem severidade no rosto, inda que dando conta do passado num canto ermo de um bar. A parede a sua frente é musgosa; umas parasitas ali cresceram, certas de que enfeitariam as imagens cinzentas da memória de fregueses como Geraldo.

O vento que sopra da beira da praia não faz bem à saúde; é frio e murmura tristeza. O dono do restaurante quer reter a escassa freguesia. Levanta-se e liga a televisão sobre a hera na parede. A novela do começo da noite ainda se arrasta. Geraldo não tem interesse em absorver a gíria de cada personagem; não cabe na sua linguagem muda, seca. Saíra de casa como de costume àquela hora, para não ter que conversar consigo mesmo, com o que fora nos dias que se seguiram ao 1º de abril de l964. Do lado de sua cama larga, na mesa de cabeceira, há um retrato do moço Geraldo sentado no banco da frente de um Jipe; nos dois bancos de trás, quatro policiais à paisana; todos, como ele, com metralhadora no colo. Nã o há capota no Jipe.

Tudo é permitido a céu aberto. O retrato em preto e branco se conserva na moldura cinzenta feito uma laje tumular; adquiriu tons de sépia no negrume do rosto de cada um; o negrume, diga-se, emprestando loquacidade aos propósitos daqueles homens. O retrato é um galardão. Ele o mostrara às poucas visitas, aos congêneres, a bebedores de copo cheio e cidadania vazia.

- Geraldo. Ainda tem aquele retrato na perseguição aos comunistas?

A pergunta teve o efeito de um sopapo. Tirou-o do sono com olhos abertos e removeu a teia de aranha que supunha já cobrindo o cinza-marrom do retrato.

- Tenho.

Andrade não foi vítima de perseguições. O 1º de abril pegara-o de calças curtas, um maço de velas que fora comprar a mando da avó, na mercearia em frente à Cadeia Pública de Goiana. Esquecera as velas no bolso da calça, para urdir-se no sofrimento dos camponeses empurrados pela polícia, para dentro das enxovias. Cresceu pensando na pele escura, curtida, do rosto de cada uma. Com o tempo, sentado ao lado do avô, na mesa onde a família se livrava do jejum, começou a entender.

- É a perseguição aos camponeses do sindicato - dizia-lhe mestre Lira, alfaiate de pele curtida e ideologia rubra.

Num instante, Geraldo levantou-se, sentou-se ao volante do Fiat e trouxe o retrato. Mostrou-o a Andrade certo de que a mocidade do interlocutor absorveria a maturidade no rosto dos ocupantes do Jipe.

O noticiário da televisão mostrou a polícia na Avenida Paulista, reprimindo estudantes. A fumaça das bombas de gás lacrimogêneo avivou a memória de Geraldo. O dono do restaurante, com as bochechas vermelhas, ordenou silêncio ao filho barulhento; teve a ajuda servil da mulher.

- Já jogou bombas em manifestantes, Geraldo? - quis saber Andrade, curioso para saber como se movem as entranhas do pensamento de um torturador.

- Não. Metralhei camponeses porque estavam todos armados com enxadas e estrovengas. Vinham todos em nossa direção. Já pendurei muitos no pau de arara para dizer onde estavam os outros.

Com o fim do noticiário, a televisão foi desligada. O retrato em preto e branco de Geraldo substituiu as cores da Globo. O círculo fechou-se em torno dele, de suas narrativas de quando fora torturador.

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